Sapatos
Não são sapatos, vestes em geral que transformam o caráter de alguém...
Canalhas também andam bem vestidos, e talvez a simplicidade de quem é julgado falte no coração de quem julga...
Saiba escolher os sapatos, (amigos e amores) e caminhe com segurança, tranquilidade, determinação, e chegue bem; não importa a distância, o ritmo ou cada passada. Sapatos, (amigos e amores) não devem machucar, mas serem confortáveis e nos levarem cada vez mais longe.
Nasci de 7 meses foi criado nos primeiros dias em uma caixa de sapatos Vulcabras, enrolado com folhas de banana verde, pois a minha pele era muito sensível e se colocasse um simples lencolzinho colava em meu corpo, alimento com leite de cabra e jega preta. Luizin, Ika e picolé de asfalto alguns dos meus apelidos de infância.
Sou convencido da minha missão, pois sempre sobrevivi aos obstáculos. Eu sou um vencedor. Eu sou o seu amigo Luiz Motivador. Saúde e Paz!
FELICIDADE
(Rayme Soares)
Felicidade:
É quando chego em casa e tiro os sapatos, tomo um banho, um café...
É quando percebo o seu amor...
É quando entrego o meu amor...
É quando sei que as pessoas estão bem...
É quando sei da felicidade nos outros...
Enfim, felicidade é a minha estrada...
Tristezas e alegrias são só variações...
Reticências...
SABER SOFRER
Tenho um grande espinho
Em meus sapatos!
Que só incomoda-me
Quando o calço mas se descalço andar
Irei feri-los mais
Que o espinho que se encontra
Em meus sapatos...
Os saltos dos sapatos só deixam uma mulher mais alta. O que a torna grande é a postura e capacidade de iluminar, organizar e dar direção ao mundo.
Uma vez eu te pedi
um par de sapatos marrons
que você não podia comprar
eram os sapatos dos meus sonhos
mas nem tudo estava acabado
voltando pra casa eu ainda tinha
você sempre aqui, ao meu lado
o chão da cozinha, de jornais forrado
pra meus pés descalços
não pisarem chão gelado
apesar dos percalços da vida
a vida, que hoje analisando
faz todo sentido
um dia os sapatos marrons
estavam nos jornais e nos meus pés
eu chutei todas as pedras que pude
mãe, me perdoe se falhei
na infância, hoje em dia
ou talvez na juventude
viveria tudo de novo com você
os tempos ruins
hoje lembrando, foram tempos
muito bons
enfrentaria o mundo de novo
com meus velhos sapatos marrons.
Aquele final de um dia muito estressante em que você tira os sapatos e descobre que foram eles que tiraram você.
“Tem pessoas que colecionam coisas, objetos, riquezas, roupas, sapatos. Já eu, possuo uma coleção diferenciada, coleciono amizades, amigos, companhia, amor ao próximo.”
César Ribeiro
A fome
"Calça-me os sapatos. Os únicos que tenho.
Calça-me depressa que o vento não espera.
Toquinho disse: Menininha você vai sofrer uma desilusão.
A aquarela é o que quero, sonhando acordada com cores e sabores da vida bela.
Ficaria assim, sempre assim, sem crescer, mas já estou sofrendo com o bicho-papão sem nem mesmo entender.
Pensei que fosse um monstro tão grande quanto o tal de arranha-céu, mas minha professora disse que ele é ubíquo.
Calça-me os sapatos, porque economizo forças de barriga vazia.
Meus sapatos vermelhos não são como os de Oz.
Calça-me, por favor, dá-me essa graça do seu amor e deixa-me fingir que essa noite em casa tem pão."
PERIPÉCIAS
Sem sapatos, descalço, macha o macho...
Lá vai o sapo,
Que com toda gula pula, no espaço,
vai no salto, contrapasso.
Empina o trapo alinha a linha, d'aqui
d'ali... Alto no trampolim
Lá com seu clima, tece a rima aí, por aí
... Pulando, saltando baixo enfim...
As vezes, alto! P´ra não ter fim.
O sapo é macho se apóia no taco
para não cair.
Insinua-se aos ventos todo tropo e lento
esgueirando por ai.
Antonio Montes
Não adianta você calçar os sapatos de alguém, se não tiver a real intenção de conhecer de perto o dono dos sapatos.
OS DENTES DE JOÃOZINHO
Joãozinho apareceu no primeiro dia de trabalho com um par de sapatos maior que o seu pé. As roupas, bem largas, dançavam em seu corpo delgado. Ainda não havia recebido o uniforme azul para a labuta, e por isso precisou improvisar. Todo mundo reparou o seu jeito meio desconjuntado, mas ninguém comentou patavina.
No outro dia, já de uniforme e sapatos luzentes do seu tamanho, veio de cabelos bem penteados e unhas cortadas. Apresentava-se sempre sorridente e cortês, assim como havia aprendido em seu treinamento para ser um jovem aprendiz, e assim também como, decerto, ditava a sua própria natureza.
Os dias foram passando e todo mundo se afeiçoou ao Joãozinho. Um garoto de costumes simples e jeito humilde, mostrava-se sempre prestativo, educado, gentil e bem humorado.
Pele negra, estatura pequena, bastante magro, cabeça ovalada enfeitada de madeixas negras encaracoladas, mãos, pés e orelhas desproporcionais, Joãozinho no auge de sua adolescência, tinha os dentes grandes e brancos sempre ostentados em um sorriso.
– Joãozinho, você cuida muito bem desses seus dentes, hein? – Disse como forma de encômio, no intervalo do café.
– Sim, senhora, cuido sim. Na verdade a mamãe faz uma fileira conosco todas as manhãs e no fim do dia. Ela mesma escova nossos dentes.
Sem entender muito bem aquela resposta, continuei meus questionamentos:
– Como assim João? Você já tem 15 anos de idade, já sabe escovar seus dentes sozinho. Sua mãe não precisa mais te ajudar.
– Sabe, dona, lá em casa a água é difícil. E não temos escova de dente. Mamãe pegou alguns sabugos de milho, cortou assim ó (mostrou com as mãos vários longos cortes na vertical) e cada um de nós tem uma “lasca”. Somos doze, né…
Eu continuei ouvindo estarrecida, não imaginava que era aquela a realidade de Joãozinho.
– Dos doze, dona, dez já tem dentes, dois são muito bebês ainda. Daí mamãe guarda nossas “escovas” bem organizadas na beira da prateleira e cobre com um paninho bem limpo. De manhã e à noitinha ela nos coloca enfileirados por ordem de tamanho, e começa o trabalho do menor para o maior. Os pequenos, que não tem dentes, ela limpa direitinho a boca e as gengivas com um rasgo de fralda umedecida na água. Na sequência, ela vai pegando as nossas “escovas”, passando um pouco de sabão de coco na ponta e esperamos todos de boca bem aberta. Mamãe é muito inteligente, dona, ela nunca confunde nossas “escovas” para não correr o risco de pegarmos bactérias da boca um do outro.
Joãozinho descrevia aquele rito com uma absurda riqueza de detalhes, e com os olhos tremeluzindo de orgulho da sua tutora esmerada. E ainda teve mais:
– Ela escova nossos dentes, dona, pois pela manhã, por exemplo, só temos um balde grande de água para tudo. E mamãe, para não desperdiçar, faz o trabalho ela mesma, evitando que entornemos ou que um de nós use mais água que o outro. Ela pega o copo de ferver a água do café, enche, e faz com que aquela porção dê conta de todos os nossos dentes. Sabe, dona, sabão de coco não é muito gostoso não, mas olha o resultado (e arreganhou os dentões todo soberbo). Como sou o maior e mais velho, sempre fico por último, e às vezes saio de casa com gosto de sabão na boca, pois o que sobra de água para mim para retirá-lo às vezes é bem pouquinho.
Joãozinho relatou sua higiene bucal e a de seus irmãos com muito empolgamento e a mesma alegria estampada na cara, do começo ao fim. Pelo que se podia perceber, era um momento ímpar de união familiar e partilha, promovido pela mãe daquela trupe.
Após o seu relato, engasgada, não consegui falar muita coisa. Terminei o meu café, já frio, agradeci pela história em murmurejo e saí dali de volta para o meu gabinete de trabalho. Mas não consegui ficar sentada por muito tempo. Peguei a minha bolsa e avisei a minha secretaria que iria rapidamente a um supermercado nas redondezas.
No final do expediente, como era de costume, Joãozinho foi até a minha sala perguntar se existia mais alguma demanda para aquele dia, e, em caso de minha negativa, sempre se despedia com o mesmo mantra “deus te abençoe, te dê tudo em dobro e a faça sonhar com anjinhos, dona”.
Estendi a mão com uma sacola plástica com as compras recém-adquiridas e entreguei ao Joãozinho. Lá dentro quinze escovas de dente de tamanhos e cores variados, alguns pacotes de algodão, dois pacotes grandes de lenços umedecidos, cinco tubos de pasta de dente com sabores diversos, um vidro grande de enxaguante bucal e duas embalagens de fita dental.
– Toma João, coloca na prateleira da sua mãe.
João recebeu a sacola com uma interrogação na fronte. Abriu e espiou, matreiro. João não sabia o que fazer de tanta satisfação. Abriu, vislumbrou e fechou aquela sacola plástica um milhão de vezes, como se ali escondesse uma grande e reluzente barra de ouro. Ele não acreditava no que via. Não sabia se agradecia, se me abraçava ou se saía correndo dali para encontrar logo a mãe.
– Dona, isso é pra nós mesmo? É sério? – Perguntou, com os olhos marejados.
– Corre, João, sua mãe precisa se organizar para o ritual da tarde. – Respondi.
Joãozinho, se não bastasse, deixou a sacola sobre a mesa, e subitamente, ajoelhou aos meus pés principiando um Pai Nosso bem alto, com as mãos para cima. Tentei retirá-lo dali puxando-o pelo braço, constrangida, mas foi em vão levantá-lo. Deixei-o terminar a sua oração. Era o seu jeito de agradecer por aquele gesto tão ínfimo da minha parte.
– Deus te abençoe, te dê tudo em dobro e a faça sonhar com anjinhos, dona.
E aconteceu. Naquela mesma noite eu sonhei que estava no Céu. Doze anjos negros e lindos, cabelos pretos encaracolados, vestidos de branco, asas enormes, suspensos do chão, cantando divinamente em uníssono, alinhados, mostrando os seus sorrisos com dentes tão brilhantes que ofuscavam o meu olhar…