Restos
Eu's
Lembranças são restos de nós que deixamos por onde passamos. Aqui e ali. Todo momento no espaço tempo há algo de nós mesmo que deixamos lá, um pedaço de nossa vida, um página de nossa história.
As vezes esses momentos são tão fortemente vividos que por vários momentos retornamos lá e o revivemos. Sentimos tudo novamente. Sentimos o cheiro, a temperatura, a alegria, a tristeza, a dor, não nos escapa nada.
São momentos que gostaríamos de vive-los novamente ou figurinos dele pelo resto de nossa existência. Mas estamos ainda lá. Não há o que fazer. Precisamos nos completar hoje com o que vivemos ontem. Pela longa caminhada fui deixando pedaços de mim e adquirindo outros. Preciso retornar e ajustá-los ao que sou hoje. Preciso contar minha história de hoje para a pessoa que fui ontem. Preciso mostrar-lhe o resultado de minhas escolhas, sendo ele bom ou não. Preciso dizer -lhe se valeu a pena ou se vivo às duras penas.
É preciso beijar-lhe na testa, afagar-lhe os cabelos, massagear os ombros, tocar suavemente as mãos. É preciso fazer com ela saiba que ainda existe, que ainda conta, que ainda faz sentido, que ainda circula pela história com todo seu poder de estar, com toda sua audácia e timidez. Mas ainda circula, ainda está ali.
Mostrar que, por mais que não queríamos suas ideias e desejos, ainda estão aqui, como algo que nos impulsiona a seguir, correr atrás de algo ou evita-lo com todas as forças de nosso sentimento. Deixando notório que o que ela sente ainda faz sentido hoje. E, mesmo assim mostrar-lhe que estamos ali para uma breve e significativa visita. Uma visita que tem como objetivo, trazer uma novidade, um eu novo, um eu mais completo, um eu que seguiu em frente sabendo que estava deixando algo importante para trás, algo que sempre estará lá, que posso voltar quantas vezes eu quiser para reve-la, para amá-la, para sentar e contar história, para deitá- la em meu colo e me deitar no seu. Em toda minha existência lá estará ela, Eu mesma.
(Van Feller- Dez.2020)
Chega pro espelho, e diz: Nossa que vontade de tacar fogo nestes restos de esgoto. Mas, é naqueles que não vêem a minha grandeza e lindeza.
Estamos na gruta ainda
A gruta que era nosso lar
Queimada está
Toda suja pelo restos
Dos animais e das árvores destruídas
Queimadas, puro carvão
Estamos sem força
Estamos muito machucados
Cansados, com a respiração difícil
Num choro interno
Pela destruição da nossa floresta
Ela com o dom divino se reconstruirá
Mas as perdas foram grandes
Vou deixar ele descansar
Mas, na verdade, eu estou
Muito mais destruída
Sou humana
Ele é um lobo
E vai fazer de tudo por mim
Estou de olhos fechados
Sentindo seu pelo
Sua respiração falha
Mas está aqui
E isso que me importa
Logo nos encontraremos
Com a família
Força teremos
Para recomeçar
Não é do zero
Temos um ao outro.
Eu sou o mastro da bandeira da revolução
Os restos do cavalo de Napoleão
Eu sou a brasa que matou Joana d’Arc
As 5 balas de John Lennon, reles cidadão
O lixo humano, escória da sociedade
Sou o que como e quem eu deixo de comer
Nasci do limbo e bailei pra essa cidade
Sou quem dá vida aos monstros que eu quero ter
Restos
O que dizer?
Se não há para onde correr
Não há saídas
O que fazer?
Solidão, sua velha e única companhia
Perdida no próprio mar
Onde é que se viu?
Na própria tempestade.
Onde é que essa tal de vida, levou?
Contradição, não?
Quando a morte, se ocasiona com a vida.
Paz ou prisão?
Sentimentos são reprimidos, então?
O que é este lugar afinal
Morte ou vida?
Quando a dor, entra em harmonia
Escuridão, ou refugio?
Eis a grande dúvida .
Que bagunça!
Por isso, há do poeta
A poetar?
E da poetiza, há poetizar?
No silêncio da noite, a decifrar
Ou apenas, se calar
conscientizar?
O vazio, o único que parece
Restar.
nada tudo
restos de nada
rostos de tudo
nada de restos
tudo de rostos
nada de tudo
tudo de nada
de nada
de tudo
restos de
rostos de
tudo nada
.O*)(*O.
Aprendemos tanto a perde e a sofre, que na vida vamos aceitando os restos que nos são oferecidos, não temos mais ânimo de procurar o que realmente importa, o que realmente tem valor.
Os homens são apenas ventres insaciáveis,
são restos de coisas mortas,
átomos aglomerados
pelas mãos do caos.
Nem todas as flores
vivem gloriosamente em flor.
Uma delas sobrevive
catando os nossos restos
juntando os nossos pedaços
do playground à lixeira
marGARIda-amarela
marGARIda-do-campo
marGARIda-sem-terra
marGARIda-rasteira
marGARIda-sem-teto
marGARIda-menor
pela terra mais garrida
de maio a maio arrastando
o seu carrinho de GARI.
Catando os nossos restos
juntando os nossos pedaços
vai e vem uma marGARIda
brotar no seu jardim
Restos Marcantes -
Sei lá...
Talvez todo esse peso
que sinto carregar,
sejam restos marcantes de pessoas
que se foram vazias
(de mim).
Eu te dei meu coração em um lenço
E recebi seus restos em um trapo velho
Que você seja feliz, eu te deixo ir
Com o que eu te dei
Desejo passar os restos dos meus dias ao seu lado, no seu colo, em seu solo te amando e respeitando.
Por onde passamos, deixamos restos de nós. E ao refazer a espiral, assistimos aos nossos cacos se distanciando; isto é, se não demorarmos muito a voltar. Mas, as separações continuam como ficaram, com um agravante, algumas peças se perderam. Quase me recomponho, quando volto para casa. Minha identidade são minhas lembranças. Então, sou para você o que se lembra de mim; mas, se eu for me esquecendo de mim mesmo e de você, não me obrigue a retornar, para sermos os mesmos. Quero ser outro, esperando você melhorar.
Melancólico Réquiem
Os restos angelicais
Espalhados na perfeita superfície
Submersos em puro sangue
Não apodreciam
Pois assim eram feitos
Da água da vida
Originaria a Raça Eterna
Os novos donos do mundo
Banhado eternamente
Na melancolia rubra
Nascia o Primeiro Querubim
Trajado em glorioso preto
Suas incontáveis asas rompiam em graça
Graciosamente subia àquele céu fúnebre
Para observar pela primeira vez
O que viria ser seu
Para todo sempre um lar
Da nova chama maleável da vida
Caos cessado
Em eterno silêncio mortífero
A orquestra se instaurava
Compondo notas proibidas
Tocava sombria e solene
Num mundo apocalíptico
Canções ao além
Num mundo pós-morte
Assumia forma gótica
Sufocada outrora em sangue
Em tragédia angelical
A misericordiosa subjugação
Não existiam vivos
Sob terra
Sob mar
A permanente avidez simbólica
Construções lascivas
Apontavam suas lanças ao céu funesto
Procurando desesperadas
A ausente luz antepassada
Se os olhos pudessem ver
Nada teria visto
Pois nada afinal existia.