Quadras e Trovas
O que não dura encanta,
já o que dura
quase sempre aborrece.
Bem por isso é que as rosas são eternas.
LA
Louca não sou, acho isso,
mas tenho momentos confusos,
já fugi de compromissos
e já comi até parafusos
Segui por onde nem sei,
passos e voos sem fim,
numa tremenda disparada
ninguém pôs a mão em mim
Já acelerei até mil,
nem percebi a curva adiante,
creia, nem o radar me viu,
voei e por ele passei rasante
A CHAMA
Beijo na boca louca
molhou pedaços de mim
molhou minha voz rouca
me fez feliz, me fez sorrir.
Fez meu coração pulsar
como asas de um beija-flor
meu corpo na sede de amar
meu peito, doido de amor.
As vontades explodiram
E vagaram na imensidão
seu beijo é tudo aquilo
que atiçou minha paixão.
Sem seu beijo, hoje me vejo
um pássaro no chão sem asas
toda vez que eu te beijo
minha chama vira brasa.
Antonio Montes
BIELA DO TEMPO
Bate sol, sobre janela
em amanhecer tão lindo
luar de luz, pura e bela
sorrir ao dia surgindo.
O galo no seu terreiro
bate asas a cantar
com ar magico faceiro
puro límpido respirar.
Pássaro no alto galho
canto e suas notas
farra em seu farfalho
maestria com chilrear.
Piaba lá no riacho
salta alegre ao navegar
marinheiro é macho
sereia sabe encantar.
Antonio Montes
MINHA PAREDE
A minha parede, tem verde,
assim como o horizonte..
parede secam, tinta verde
rede estendida, suave sede.
Na minha parede, tem sonho
nesse mundo assim medonho
sonhos que morrem tristonho
muito antes do abandono.
Na minha rede, tem teias
que no balango se estapeia
tantas peias em minhas veias
que minha vida encandeia.
Na minha parede, tem rede
que aos meus sonhos, laça
um dia eu sei minha parede
mudará essa minha raça.
Antonio Montes
ESSA MULHER
De Maria ou de linda
lá vai ela pela vida...
Enxugando toda lagrima
de mais uma vida querida.
Viveu no jardim do EDEN
vi o seu filho sofrer...
Rainha da manjedoura
mulher, a mãe de você.
Ouviu as correntes da noite
tilintar pela esperança...
Os sentimentos sobre açoites
pela falada esperança.
O amanhã, ao amanhecer
sobre os braços do mundo...
Ofereceu a vida pra morrer
só para salvar o oriundo.
Antonio Montes
MINHA ALMA
A minha alma tem lagrimas
que outro ser não pode ver
é com tristeza n'essa cara
que mostro lagrimas a você.
São lagrimas causada de dor
a derramar-se no peito meu
águas que, se transformou em
sangue... Devido o seu adeus
Eu choro com a minha alma
lagrimas que não molha o chão
se meus olhos não vertem água
é porque choro com coração.
Minha alma também voa
com asas dos sentimentos
voa pelo norte, sul e a toa,
sob o tempo e os ventos.
Antonio Montes
RENDA DO SERTÃO
Mulher rendeira de renda
arrenda terra no sertão
a renda que tu propaga
não paga meu coração.
Vou arrendar a casaca
arremedando solidão
o remendo d'essa ingrata
remendou o meu coração.
Arremedarei essa vida
no verde dos planos meus
e se houver a partida
partirei lagrimas, adeus...
E nesse sertão tão vasto
reina a seca, junto ao sol
os passos por velhos pastos
passeiam pelo arrebol.
Antonio Montes
MEU QUINHÃO
Meu retrato na parede...
Não bebe água, nem sede
a esperança em seu olhar
todavia, vive verde.
É terra seca rachada
é pesadelo sob rede
cabo seco com enxada
e esperança, toda verde.
É vento secando sertão
estrada que passos prende
é fé amarrando coração
é aprende no seu alpendre.
E o velho prato da casa
sobre mesa, seu esmalte
tudo exposto na tabua
com tabuada de quilate.
Antonio Montes
Bem pessoal, ou "Pessoando"
(Nilo Ribeiro)
Um amor leve,
me fez apaixonar,
mas foi um amor breve,
a saudade me fez chorar
escrever em quadras,
de modo bem pessoando,
me faltam palavras,
mas continuo te amando
não faz sentido,
escrever assim,
um amor perdido,
e a saudade em mim
as quadras que poetizo,
são todas de amor,
nelas eu exorcizo,
toda minha dor
são quadras, não poesia,
não há sentido completo,
talvez se ela voltar um dia,
eu faça um grande verso
remendar,
é pior que refazer,
te amar,
é melhor que escrever
quadra não tem enredo,
nem faz parte da vida,
é apenas um enlevo,
para a mulher querida
não tem fechamento,
não tem final,
tem apenas o lamento,
de um poeta passional...
QUASE QUASE
Tão perto do morro
tão perto da lua
o urro do lobo
os passos na rua.
A cara pintada
o passo a mímica
fictício a risada
truque d'essa vida.
A bola no campo
a água a cacimba
o pote o quebranto
o peso da moringa.
O vulto da noite
enchendo de pinta
o amor e o açoite
a moeda tilinta.
Antonio Montes
GOMAS DA PAIXÃO
Aroma de corpo
corpo sob toalha
toalhas em gotas d'água
água em fina camada.
Camadas de desejos
desejos trepidos de volúpias
volúpias movidas a beijos
beijos em marcha a galopar.
Galopar na paixão
paixão de brasas e labaredas
labaredas atiçando fogo
fogo que a ti segreda.
Segreda em seu casulo
casulo que lhe dão gomas
gomas de vontades pesponta
pesponta e aponta o aroma.
Antonio Montes
QUINTAL DO MUNDO
Descidas, escadas empurram
empurram pés, pelos degraus
degraus da vida arfa o fôlego
fôlego, cheira, no quintal.
Quintal... Inicio do mundo
mundo fundo, sempre enterra
enterra o corpo sob terra
terra que devora a treva.
Treva, leva o peito seu
seu leito de água e mar
mar de bruma que empurra
empurra eu seu velejar.
Velejar pela verde vida
vida ventos, panos finos
finos trato de um futuro
futuro passos de menino.
Antonio Montes
VOZES ESQUECIDAS
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Com patuá e caneta
canetas p'a rascunhar
rascunhar coisas da vida
vida poeta e poetar.
Poetar o olhar nos olhos
olhos misera, falta de pão
pão negado ao inocente
inocente exposto ao cão.
Cão fome e moscas
moscas a voar os restos
resto de uma vida louca
louca pobre sociedade.
Sociedade de clamores
clamores, voz esquecida
esquecida os seus amores
amores de simples vida.
Antonio Montes
CAMINHOS DE UM POETA
Pelos caos e os escombros
pelas restas, pelas frestas
vai o poeta e seu ombro
movendo poesia reta.
Diz da ganância e fome
recita a falta de pão
mazelas dos homens grandes
e a incoerência do coração.
Das lagrimas dos inocentes
os sonhos dos aprisionados
grilhões de toda essa gente
pela expansão do condado.
As vezes, pétalas de flor
com orvalho da manhã
das tristezas e do amor
e os espinhos do divã.
Antonio Montes
BONECA DE SONHOS
Boneca de pano
com todos esses anos
perdeu-se nas linhas
dos planos que fiz.
Você embreou-se
na maquina do mundo
se desfez em engano
como risco de giz.
Boneca de pano
em maquina de mão
cutucada com dedal
e pesponta coração.
Com linhas dobradas
e pontos do passado
a vida dourada
perdeu-se no fado.
Boneca de pano
sem planos de sonhos
deixou-me sem sono
com seu abandono.
Antonio Montes