Principais Ideias de Erasmo de Roterdã

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A pior das loucuras é, sem dúvida, pretender ser sensato num mundo de doidos.

O amor recíproco entre quem aprende e quem ensina é o primeiro e mais importante degrau para se chegar ao conhecimento.

Rir de tudo é coisa dos tontos, mas não rir de nada é coisa dos estúpidos.

Não merece o doce quem não experimentou o amargo.

Segundo a definição dos estoicos, a sabedoria consiste em ter a razão por guia; a loucura, pelo contrário, consiste em obedecer às paixões; mas para que a vida dos homens não seja triste e aborrecida Júpiter deu-lhe mais paixão que razão.

Para ganhar é preciso gastar.

É muito mais honesto estar nu do que usar roupas transparentes.

Aquele que conhece a arte de viver consigo próprio ignora o aborrecimento.

A primeira fase do saber é amar os nossos professores.

Se colocares numa parte da balança as vantagens e na outra as desvantagens, perceberás que uma paz injusta é muito melhor do que uma guerra justa.

Erasmo de Roterdã
"The Collected Works of Erasmus". Toronto: University of Toronto Press, 1974.

Não há prazer em possuir algo sem companhia.

Deve respeitar-se o casamento enquanto é um purgatório, e dissolvê-lo quando se tornar num inferno.

Nenhum animal é mais calamitoso do que o homem, pela simples razão de que todos se contentam com os limites da sua natureza, ao passo apenas o homem se obstina em ultrapassar os limites da sua.

Os maiores males infiltram-se na vida dos homens sob a ilusória aparência do bem.

Quanto maior é a sua sabedoria mais os homens se afastam da felicidade.

Pode querer bem aos outros quem não quer bem a si mesmo?

Deus, arquitecto do universo, proibiu o homem de provar os frutos da árvore da ciência, como se a ciência fosse um veneno para a felicidade.

Em grande parte, os maridos são como as mulheres os fazem.

O lobo talvez mude a pele, mas nunca a alma.

Erasmo de Roterdã
"Adages". Toronto: University of Toronto Press, 1992.

Dizei-me por obséquio: um homem que odeia a si mesmo poderá, acaso, amar alguém? Um homem que discorda de si mesmo poderá, acaso, concordar com outro? Será capaz de inspirar alegria aos outros quem tem em si mesmo a aflição e o tédio? Só um louco, mais louco ainda do que a própria Loucura, admitireis que possa sustentar a afirmativa de tal opinião. Ora, se me excluirdes da sociedade, não só o homem se tornará intolerável ao homem, como também, toda vez que olhar para dentro de si, não poderá deixar de experimentar o desgosto de ser o que é, de se achar aos próprios olhos imundo e disforme, e, por conseguinte, de odiar a si mesmo. A natureza, que em muitas coisas é mais madrasta do que mãe, imprimiu nos homens, sobretudo nos mais sensatos, uma fatal inclinação no sentido de cada qual não se contentar com o que tem, admirando e almejando o que não possui: daí o fato de todos os bens, todos os prazeres, todas as belezas da vida se corromperem e reduzirem a nada. Que adianta um rosto bonito, que é o melhor presente que podem fazer os deuses imortais, quando contaminado pelo mau cheiro? De que serve a juventude, quando corrompida pelo veneno de uma hipocondria senil? Como, finalmente, podereis agir em todos os deveres da vida, quer no que diz respeito aos outros, quer a vós mesmos, como, — repito — podereis agir com decoro (pois que agir com decoro constitui o artifício e a base principal de toda ação), se não fordes auxiliados por esse amor próprio que vedes à minha direita e que merecidamente me faz as vezes de irmã, não hesitando em tomar sempre o meu partido em qualquer desavença? Vivendo sob a sua proteção, ficais encantados pela excelência do vosso mérito e vos apaixonais por vossas exímias qualidades, o que vos proporciona a vantagem de alcançardes o supremo grau de loucura. Mais uma vez repito: se vos desgostais de vós mesmos, persuadi-vos de que nada podereis fazer de belo, de gracioso, de decente. Roubada à vida essa alma, languesce o orador em sua declamação, inspira piedade o músico com suas notas e seu compasso, ver-se-á o cômico vaiado em seu papel, provocarão o riso o poeta e as suas musas, o melhor pintor não conquistará senão críticas e desprezo, morrerá de fome o médico com todas as suas receitas, em suma Nereu(34) aparecerá como Tersites, Faão como Nestor, Minerva como uma porca, o eloqüente como um menino, o civilizado como um bronco. Portanto, é necessário que cada qual lisonjeie e adule a si mesmo, fazendo a si mesmo uma boa coleção de elogios, em lugar de ambicionar os de outrem. Finalmente, a felicidade consiste, sobretudo, em se querer ser o que se é. Ora, só o divino amor próprio pode conceder tamanho bem. Em virtude do amor próprio, cada qual está contente com seu aspecto, com seu talento, com sua família, com seu emprego, com sua profissão, com seu país, de forma que nem os irlandeses desejariam ser italianos, nem os trácios atenienses, nem os citas habitantes das ilhas Fortunadas. Oh surpreendente providência da natureza! Em meio a uma infinita variedade de coisas, ela soube pôr tudo no mesmo nível. E, se não se mostrou avara na concessão de dons aos seus filhos, mais pródiga se revelou ainda ao conceder-lhes o amor próprio. Que direi dos seus dons? É uma pergunta tola. Com efeito, não será o amor próprio o maior de todos os bens?

Erasmo de Roterdã
"Elogio da Loucura". eBooksBrasil.com, 2002.