Poesia Curta
permanecem estáticas as pontes do boassú
as pontes da boa vista
tivéssemos dinheiro vontade
compraríamos pão
mas essa casa de velhos
tão próxima ao campinho
onde torcidas formigas
vibravam milhões
essa casa aos olhos
congela mangue
manga e tijolos
houvesse gana cimento
pegaríamos a br 101
de resto
pensava não
com o cérebro
com o corpinho
úmido e mole
que nem ela
nem a lesma
eram fortes
como o tardígrado desidratado
que vira e amara
no espaço sideral
e um dia
quem sabe
no dia de são nunca
à tarde
não haverá
mais horrores
nem ditadores
nem desamores
mas se for nunca
pra sempre
que seja à noite
hora de sentir
nossas dores
no silêncio
da solidão
radiograma
Alegre triste meigo feroz bêbedo
lúcido
no meio do mar
Claro obscuro novo velhíssimo obsceno
puro
no meio do mar
Nado-morto às quatro morto a nada às cinco
encontrado perdido
no meio do mar
no meio do mar
" Amanhã nada mais será tão interessante
as flores murcharão
a calma da vida, dará lugar à saudade
o desejo hoje ardente, irá esfriar
amanhã, se não fizermos nada hoje
seremos apenas lembranças
passagens secretas de alguns desejos
história...
Velhos Conhecidos -
Agora
já não temos mais respostas
dos sinais ocultos,
camuflados que,
antes,
acertavam a alma.
E temo.
Agora
somos, apenas,
velhos conhecidos que,
às vezes,
se cruzam por aí e,
um simples e automático "oi",
basta.
E fomos...
Muito mais.
Raras Pessoas -
Algumas
(raras) pessoas,
têm o poder de nos tirar
do sério:
Sim,
a gente olha e, simplesmente,
ri - feliz.
Estranhamente,
feliz.
Não sei se lavo as mãos,
Ou esfrego o corpo.
Se me isolo então
E me entrego todo.
Talvez assim
cheio de mim
viva mais um pouco
Até voltar a saber
o que não fazer de novo.
André Luz
Por que Amar? -
Por que os pássaros
voam?
Precisamos explicar por que
um pássaro
voa?
Não!
É preciso saber o porquê
dele não estar
voando.
Isso explica?
Poema de Chuva -
Sempre haverá um tanto de
tristeza
e um bocado de
saudade
nestes dias de
chuva.
Dias em que os corações
mais puros e meninos
necessitarão de mais
aconchego,
mais pele, mais calor
humano,
do olhar, da presença.
O Tempo condiciona as coisas
e o amor as eternizam.
aspectos
as coisas são
como estão?
o cão vê o gato
bem diferente do rato
(questão de defesa e ataque)
aurora e crepúsculo
são noite dia ou mestiços?
(depende do ponto de vista)
o sol é para todos
e a chuva?
finjo-me esfinge
meia lua meu amor
é tua
a outra metade
guardei-a para o compadre
que me beija a boca
quando chegas tarde
da casa da outra
pôr de lua
estou naquela fase
cheia de resumo
foge-me o verso
a rima escapole-me
peço a são jorge
lave-me leve-me
love me
Para o Depois, Porque o Agora Me Interessa Mais -
E se amanhã
eu não estiver mais
aqui:
continue me tratando
como me trata
hoje.
Que eu esteja vigilante
Aos discursos incoerentes
Aos números que mentem
As massas não convergentes
Aos que fingem gostar de gente
Ao frio que forja o quente
Ao sorriso do demente
As dores dos que não sentem
Ao cinza que rega o verde
Ao latido dos intransigentes
E a sanidade dos doentes
Caminhos
Se caminhamos juntos,
se juntos dividimos,
quem sabe da renúncia
que nos vai conduzindo?
Quem sabe dos intentos
tão distantes, tão próximos,
que amamos em silêncio
como um segredo nosso?
Quem sabe do caminho,
se tudo é tão noturno
e o sonho é como um sino
além, além do mundo?
Tudo isso e mais a fome
da cidade e do sertão,
tudo isso e mais o gosto
da pimenta e do limão,
tudo isso, minha gente,
vai perdendo a tradição,
vai ficando na saudade,
na forma de algum refrão,
de algum discurso eficaz
que possa matar a fome
comendo apenas o nome
das comidas de Goiás.
Eu quero mais é a dor de ser gente
e esse medo macabro de já não o ser.
Quero a angústia de quem sente,
se ressente por sentir,
mas se dói dos insensíveis.
ALIMENTO PRECISO
Risco e rabisco
Pequeno cisco
Liberdade que arrisco
Alguém terá visto
Alimento preciso
Extirpar o siso
Perder o juízo
Diminuir o prejuízo
Guardando contigo
Olhar que é abrigo
Intérprete amigo!