Poemas para uma Pessoa Querida
Consciência n°01 -
Sou sempre
o primeiro a me condenar
ou me absolver (ainda que,
instintivamente,
esteja quase sempre
a meu favor).
Afinal,
somente cada um sabe,
exatamente,
o que pensa e o que faz
entre
o despertar e o adormecer.
O resto é sonho.
(Mal)ditas -
As declarações de amor
são lindas.
Mas há
dois tipos que me incomodam
profundamente:
As falsas e as póstumas.
Pobres Corações -
Já vi
lindos corações apaixonados
serem esmagados
por coisas fúteis,
insignificantes como:
orgulho e vaidade.
Isso,
num patético jogo de desinteresse.
Pobres corações arruinados:
reduziram-se a meros órgãos
frios.
Meu Único Compromisso -
Meu único compromisso,
verdadeiramente,
é com a poesia:
da arte, dos relacionamentos,
das coisas da vida.
O resto é do acaso.
Dias de Poesia -
Prefiro os dias de poesia
a estes de “fúria protetora”.
Ainda que,
por entrega,
quase sempre, me sinta
mais vulnerável à tristeza.
Dezembro -
E muda-se o mês:
muda-se o sentido.
O ar parece mais leve,
a brisa mais calma,
a vida mais rara:
breve.
Logo,
refletimos mais,
sonhamos mais,
nos olhamos nos olhos - nos voltamos para dentro:
enxergamos a alma.
Tudo agora faz mais sentido:
é o fim...
para um novo recomeço.
Por sorte, obrigado!
Sorte -
Sorte mesmo
é ter alguém que sempre percebe
seus traços de medo
e sussurros de dor, e te acolhe
antes do desespero.
Enquanto todos os outros
se fingem de cegos,
surdos e mudos.
Meu Amor Primeiro -
Tu carregas mais que meu sangue
e meu nome:
Carregas minha verdade primeira,
absoluta.
Dono do meu primeiro
e último pensamento
diário.
Dono do maior dos meus cuidados.
Dono de tudo que me habita,
porque me habitas mais que tudo.
Tu és o meu norte no mundo;
a sorte que acho que não tenho;
minhas dimensões
e sentidos (vitais).
Meu orgulho maior,
minha admiração primeira.
Depois de ti,
antes de ser
(seja lá o que for,
como for),
sou primeiro teu.
Teu nome - nobre,
íntimo e infinito -
és a síntese do amor maior
(lúcido, sonhador e verdadeiro).
Não foste o meu primeiro amor.
Mas és o Meu Amor Primeiro.
Manequim -
É tanta gente feia
ostentando belos corpos
- fugazes e passageiros.
Logo,
faltará o que se exibir.
E só então,
ficará,
verdadeiramente,
à mostra.
Falsas Amizades -
Falsas amizades
são sustentadas, exclusivamente,
por conveniências egocêntricas.
Não resistem ao menor sinal
de contrariedade.
E Sinto Muito -
Às vezes,
vou até a janela
em busca de alguma coisa
lá fora.
Alguma coisa
que eu não sei bem o que é.
Talvez
uma distração qualquer,
para uma fuga.
Algo que me faça,
por alguns instantes,
esquecer qualquer coisa.
Mas,
do alto da janela,
eu sei bem, com clara
certeza,
que a vista será sempre a
mesma.
Ainda que insetos se movam
no chão;
Ainda que pássaros deslizem
no céu;
No meio, estou eu:
lúcido e distante.
E a mesmice,
a brisa,
a calmaria do que eu vejo
lá fora,
não é nem sombra
do que eu sinto cá dentro.
(E sinto muito).
Quem Sabe Um Dia -
Melhor assim:
sair enquanto há
tempo.
Depois eu volto e,
quando ninguém esperar,
mais uma vez, saio de
mansinho, assim:
calado,
pequeno,
quase dissolvendo.
E um dia,
quem sabe um dia,
entre a luz de estar (fugindo)
e a sombra de fugir
(estando ali),
por seu querer,
eu,
simplesmente,
fico.
Geração Descartável -
Esta
é uma geração totalmente
perdida
quando se trata de relacionamentos
amorosos.
Fomentada e intensificada
pelos agregados (fúteis,
egocêntricos, superficiais),
de outras,
os relacionamentos são movidos
à base de novidades.
Mas tudo que se convém exibir,
está à mostra,
de maneira tão explícita e
escancarada (como uma necessidade
do ego,
cheia de vaidade e exibicionismo),
que nada,
nada mais é novidade.
Por isso
tudo é ínfimo,
descartável,
fugaz.
Tudo é descontínuo:
nada dura.
Nada permanece.
O Espetáculo -
Confesso que não esperava,
naturalmente,
algo grandioso,
imponente, ainda que belo.
Mas era "maior" do que eu,
realmente,
via.
Mas,
o que eu,
de fato, olhava,
era,
verdadeiramente,
grandioso, imponente, belo aos
meus olhos:
Extasia.
Tanto que me arrancou a pluralidade
do espetáculo proposto,
e se fez um novo espetáculo (maior)
- nobre, lírico e singular:
Poesia.
É Carnaval -
Então,
é Carnaval:
ruas cheias de pessoas
coloridas,
fantasiadas de felicidade.
Em que a realidade
e a quarta-feira
são sempre de
cinzas.
A Ilusão -
No fundo,
ninguém tem interesse
na cruel realidade
da vida:
a verdade e a mentira.
A ilusão: é ela que nos
resta.
É a fuga momentânea,
o acholimento instantâneo,
a sedação paliativa,
o breve conforto,
a sutil proteção (ainda assim,
tão necessária).
Inevitavelmente,
uma companheira humana
- cúmplice da esperança,
da imaginação e dos sonhos.
Contudo,
cedo ou tarde (no Tempo),
ela também morre.
E a nua e cruel e inevitável
realidade da vida
sempre prevalece.
Acredita?
Assim -
Eu queria mesmo
era que ela entrasse
agora por esta porta,
sem avisar,
assim,
de súbito e me surpreendesse
com um longo e caloroso
abraço,
cheio de saudades e sem pressa
alguma de partir.
Onde
tudo que pudéssemos sentir,
ouvir, dizer - ser -
ficasse reservado ao instante aqui,
assim:
lírico, leve, sereno,
como se ouvíssemos a mais bela canção
de amor num beijo demorado,
de olhos fechados,
em silêncio.
Qualquer Lata de Lixo -
Era como elogiar seu
maior algoz,
exaltando tudo que ele tinha feito de ruim
todos esses anos.
Era como dizer: "tudo bem,
não tem problema: continua".
E assim,
alimentá-lo, dando ainda mais força
para que ele fizesse mais
e mais e pior.
A resposta
era sempre um sorriso de satisfação, superioridade, vaidade - coisas de um grande
carrasco impiedoso - onde em momento algum,
sucumbiu diante do meu sofrimento
ou de algum sentimento ou mesmo
de alguma velha lembranças
da gente.
Inútil, inválido, incapaz...
qualquer lata de lixo
servia pra mim.
Era assim que eu me sentia
toda vez que eu deixava claro
que ainda a desejava como
antes,
como ontem...
droga,
como sempre.
É Sorte -
Hoje,
eu que tinha à disposição quase cem contos,
perdi tudo,
num improvável e inesperado resultado.
É isto...
a sorte está aí.
Ela existe e aparece
a cada instante,
a cada oportunidade,
às vezes ou quase sempre
(por descuido,
desatenção,
vaidade),
desperdiçada.
Mas é sorte
sempre que acordamos,
quando temos o que comer no café da manhã,
embaixo do teto que nos proteje da chuva e vento
e violência das ruas.
Ela aparece naquela ligação diária
da sua mãe,
na roupa emprestada
pelo seu melhor amigo,
na cura dos gestos simples
do seu filho,
nos olhos castanhos da garota
que reconhece seus versos,
no cara que conserta sua TV a cabo,
naquele pôr do sol
visto da janela,
numa tarde de
sábado...
Não espere presenciar uma estrela cadente
caindo
ou ganhar na loteria
ou encontrar o amor da sua vida
para entender isso.
Um pouco de saúde,
casa e comida,
família,
alguns bons amigos,
vinho e chocolates
e um sonho
pelo qual se mover
já é motivo de muita sorte.
Vamos lá, abra o livro:
as próximas páginas precisam
ser escritas.
Ânimo!
Aparências -
A verdade
é que temos sido muito mais
de aparências,
do que de essência.
Espero,
ao menos,
que não morra a poesia
na alma do ser.