Poemas e Poesias
Eu posso acreditar em tudo e em nada
Desde que isso não machuque ninguém
Nem física, nem psicologicamente.
MARCO ZERO
Onde o mar encontra o céu
Onde o céu encontra o barco
Onde o barco encontra o rio
Onde o rio encontra o marco
De onde contam as distâncias
Às cidades, às estâncias
E Recife faz seu arco
SABEDORIA -
(Sobre o 31 de Dezembro e 01 de Janeiro. Sobre Avós e Netos. Sobre a Tardezinha. Sobre os Palhaços. Sobre a Poesia.).
Observem as crianças:
elas já nascem
sábias.
Passam a infância inteira
tentando ensinar os adultos
que, por prepotência e
falta de tempo,
não lhes dão a atenção
necessária.
Na adolescência,
por inquietude, irresponsabilidade,
falta de tempo
(numa das aventuras
dessa fase),
deixam-na esquecida,
num canto qualquer do mundo.
Na fase adulta,
hora ou outra,
olham para ela, reconhecem-na,
mas, pelo excesso de compromissos,
severidade, falta de tempo,
não usam-na corretamente.
O Tempo — sábio, dono de tudo —
nos traz junto com a velhice,
a essência da infância.
Agora
carregada de histórias,
experiências e, para alguns
(de olhar atento),
a sabedoria necessária
para prestar atenção
nas crianças
(sábias).
O Tamanho das Coisas -
Bem,
eu me importo com todas
as pessoas.
Sim,
de alguma maneira
me importo.
Algumas mais, outras nem
tanto,
algumas outras bem
menos, enfim.
Mas as que mais me
interessam — que eu dedico
mais cuidados, mais atenção,
mais tempo — são aquelas
que têm a capacidadede
contemplar um grão de areia
com a mesma devoção com
que olham o céu.
E olham para o céu
com a humildade dos que
enxergam grandeza num
grão de areia.
Porque as coisas:
os sentimentos, os valores...
a vida,
são do tamanho que a gente
se dispõe a enxergá-las — senti-las.
Solitude é saudável
Faz bem para o coração
Isolar-se, voluntário
Bom pra ter reflexão
Estar só por um momento
No traz enriquecimento
Não é nunca solidão.
Muita gente vem dizer
Que esse ano foi perdido
Que não teve um prazer
Nesse tempo tão sofrido
Mas há muito a se fazer
Então quero agradecer
Por mais um ano vivido
Cada novo amanhecer
É um convite a renascer
Crescer, mudar, melhorar
Caminhar com fé, viver
Céu azul de novidades
Mar de possibilidades
Só fazer acontecer
O "X" do Problema -
O "X" do problema é que
sempre nos oferecem (primeiro),
o "melhor" de cada um.
E quando começamos,
com o tempo,
a conhecer, verdadeiramente
a essência, já é tarde.
Está ali o sentimento
impregnado — roubando verdades, camuflando defeitos, nos ridicularizando.
E isto,
nesses casos,
é desmoralizante,
traumático, revoltante.
Salvar o Homem -
Para manter-se,
literalmente, ainda vivo,
um poeta, um artista, precisa,
por muitas vezes,
ignorar sua arte.
Largar de mão da visão artística
na maneira como enxerga
as coisas — a vida — e encarar
coisas mais comuns (que, naturalmente, também fazem parte
do seu dia a dia),
de maneira mais crua, mais vazia,
mais real:
Uma conversa estúpida,
com pessoas
estúpidas;
Uma pia de pratos sujos;
Um bico para ganhar alguns
trocados ou um emprego
maçante;
A não compreensão, a não
valorização da sua
arte;
A rejeição, o vazio de algumas pessoas, de alguns sentimentos,
de alguns sonhos — da vida.
É nessa hora que ele precisa
entender que, às vezes,
é preciso matar o poeta, o artista
para salvar o homem.
Sobre Sentir ‐
Se alguém,
ao falar de um sentimento,
não tiver o brilho nos
olhos,
o entusiasmo nas
palavras...
a empolgação de uma
criança ao brincar,
esse sentimento
é inútil.
Pequenino -
Ninguém encara a solidão
de um chão de banheiro
sujo e frio, e finge
chorar.
Já interrompi um banho
porque havia um pequenino inseto
se afogando naquela água
de lágrimas e sabão.
Só queria que os meus problemas ficassem do tamanho que eles realmente são.
E não do tamanho que eu os transformo e eles transformam-me.
GRITO -
Respeitem a Arte e seus
artistas!
É um trabalho tão digno e tão
duro quanto qualquer
outro.
Ou você acha que um florista
tem uma vida fácil porque
trabalha vendendo
flores?
Esse parque de Ubajara
No Estado do Ceará
Tem caverna e cachoeira
Lugar lindo pra se amar
Na trilha ou no mirante
É beleza a todo instante
Como não se apaixonar?
Percalços da vida 24/12/20
Nem sempre,
Será um bom dia,
A gente cai,
Faz parte da vida.
Nem sempre,
Será um sorriso,
Haverá o amanhã,
Então fique tranquilo.
O ódio nos cega,
Nos torna inimigos,
Viver assim,
É escolher o caminho mais difícil.
Alguns querem mais,
Quando só se precisa do suficiente,
Isso nos entorpece,
E atrasa a caminhada da gente.
Não vire as costas,
Mesmo que seja tentador,
Sei que não se pode ajudar todo mundo,
Faça o que der, e o resto deixe nas mãos do senhor.
Nem todos enxergam,
Os cacos de vidro,
Não sabem que estão se ferindo,
Decidi viver longe disso , meus olhos já se abriram.
Adner Fabrício
No Limite -
É uma noite maldormida por anos;
Dias que não amanhecem ou
nunca acabam;
É um desânimo crônico
estendido;
Uma falta... excessos... solidão.
É um não trabalho;
um não relacionamento;
uma não realização — pequenas e repetidas rejeições diárias — invisíveis aos outros.
Invisíveis a todos
os outros.
São dias cheios de coisas vazias,
em que nada acontece
e,
aparentemente
são nesses dias em que
"nada acontece",
que pessoas esgotadas,
saturadas — no limite —
desistem de
tudo.
Nessa noite de natal
Não quero ganhar presente
É melhor ser virtual
Do que ter um monte de gente
Vou tapar minha chaminé
Fica em casa, “Seu Noer”
Vamos deixar mais pra frente.
Mistura Ácida -
Agora são
exatamente 3h37 de uma
madrugada quente de
novembro.
E neste momento
tudo que preciso fazer
é dormir.
Apenas dormir.
Mas dormir é tudo que eu
não consigo fazer.
As notícias correm,
palavras vêm e vão de um lado
para o outro dentro da minha
cabeça que não sossega,
não se desliga.
Uma mistura ácida de lembranças presentes, desejos reprimidos e saudades incuráveis.
Que noite:
enquanto todas as outras pessoas, bem ou mal,
tocam suas vidas em
frente,
tudo que eu consigo fazer
é sentir-me completamente parado, travado, inútil — perdido.
O Natal do meu Nordeste
Não tem neve, mas tem sino
Não tem gelo, mas tem fé
O jantar é gordo ou fino
Pode até não ter presente
Mas não sai da nossa mente
O nascer de Deus Menino