Poemas e Poesias
Antes de ti
Antes de ti venho eu
Eu primeiro para roubar-te os sonhos
Eu primeiro para encher-te de flores
Eu primeiro para dizer-te tudo ou nada
Eu primeiro para fazer de conta
Que é para sempre o que vivi
- Antes ou depois de ti.
Feminezas
A vida é bela pelas estranhezas,
pelo seu lado sempre inapreensível —
seu visível que esbarra no invisível,
seus real irreal surreal e realezas...
Você também com suas feminezas
mostra de quem é filha em alto nível —
sim, é o poema mais intraduzível
que já se fez em surtos de grandezas...
Entre você, Mulher, você e a Vida,
qual é a mais difícil de entender,
ou mais fácil de ser compreendida?
Entre você, a rosa e o agudo espinho —
qual nos machuca mais para colher
os sonhos que molhamos em seu vinho?...
LA
Desculpa
Desculpa por não ter falhado
Desculpa por nunca sair do seu lado
Desculpa por ter te feito rir
Desculpa por sempre te ouvir
Desculpas por não conseguir te esquecer
Desculpas por tão perfeitamente te compreender
Desculpa pelos meus abraços
Desculpa pelos meus afagos
Desculpa por não te fazer chorar
Desculpa por sempre te amar
Desculpa por acreditar
Tenho Ainda...
Tenho ainda metade de uma taça
da nossa última conversa: o vinho
que vai tecendo e modelando o ninho
de um sonhar lá num tempo que não passa...
Sim: tesouro que o tempo nem a traça
hão de comer: guardado num cantinho
em alma-coração, lá no escaninho
de uma lembrança de alegria e graça.
Tenho ainda metade de uma taça
daquela madrugada em plena praça
em que tu musicavas um jardim...
Tenho ainda metade de uma taça
dos momentos de um sonho que, se passa, —
há de passar sem conhecer um fim.
LA
É impossível ao homem ser sozinho,
tal sentimento é enfermidade
de quem não sabe diluir-se
e transpassar
a permitir integração.
A vida é um grande brinquedo
que foi dado a nós crianças.
O brincar desse brinquedo
são as nossas esperanças.
LA
Uma tarde ela me flechou
com aquele olhar
e sorriso de Mona Lisa...
Não deu outra —
amassamos a grama
do seu jardinzinho.
LA
Madrugadinha Nina me ligava...
eu voava e caía entre ela...
e a gente rachava lenha
até domingo ficar rindo,
ficar rindo como Buda...
LA
Você percebe que ficou velho
quando a moça bonita ao lado,
no consultório, no metrô...
se levanta... e com um sorriso,
um sorriso de matar —
lhe oferece o lugar.
LA
Sexta à noite ela me disse
que não mais me admirava... não mais me amava...
Daí a uma hora veio —
foi um frege danado...
Perguntei-lhe por que me havia dito aquilo,
disse que era pra incendiar os afazeres...
LA
Quando bebo algum líquido
já me lembro de Baumann...
e aproveitando a lembrança,
bebo mais meio copo.
LA
Você
Você é musa, é nume, enlevo,
é sentimento aberto em flor,
é pensamento em que me elevo.
Você é mar em que navego,
você é sorriso interior,
você é porto a que me chego.
Você é regato em luz e graça —
que flui, reflui mas que não passa.
LA
Débora
Quando garoto lambuzei
meu corpo e alma no teu mel —
me lambuzei qual nenhum rei.
Eras bem mais experiente
e me levavas ao teu céu
com uma carícia de nubente.
Foi tanto mel, mas tanto mel,
que ao me picares nem doeu.
LA
Uma Ternura...
Uma ternura ainda menina
a lhe brotar do corpo esguio —
leveza em haste de bonina.
Passou-lhe o tempo, ela ficou —
qual as atuais águas do rio —
do rio que passa-e-não–passou.
Há nela um brilho: uma beleza
maior que o tempo e a natureza.
LA
Quero Imitar...
Quero imitar em áureo verso
suas sandálias a cantar,
cantarolar em tom diverso —
saltos que falam, falam alto
pelas calçadas par a par —
saltos em dueto salto a salto.
Faça-as cantar, menina, estale-as,
faça cantar suas sandálias.
LA
Foram Vindimas...
Foram vindimas e vindimas
quando eu andava em tua vinha
em outros sóis, em outros climas.
Depois nascemos numa ilha...
e o nosso barco ia e vinha
até quebrar a sua quilha.
Hoje, aqui estamos, minha nega,
e o nosso amor nos basta, e chega.
LA
O que Deixei...
O que deixei lá para trás
já não me serve de lembrar,
no caminhar não cabe mais.
O que deixei era bobeira,
precisei dela me livrar —
velho telhado dá goteira.
Todo passado tem arestas,
mas o hoje tem as suas festas.
LA
Nove
A vida é o tudo-nada
somado ao nada-tudo
de um saber escalonado
— sempre inalcançável —
em patamares de consciência
em plurigamas
de multiversos infinitos —
sempre inalcançáveis
em que a vida é sempre mais que a vida.
LA