Poemas de Memória
Onde estão os olhos da minha infância, aqueles olhos medrosos que ela tinha há trinta anos, os olhos que me fizeram?
Quando vier à procura do que o passado enterrou, é preciso saber que estará às portas de uma terra em que a memória não pode ser exumada, pois o segredo, sendo o único bem que se leva para o túmulo, é também a única herança que se deixa aos que ficam.
Quando temos alguma lembrança ruim, não significa que perdemos o dia, mas que ganhamos mais uma etapa.
Saudades de você. Ontem também senti, anteontem também. Quando não bebo suas palavras, desidrato feito uma Rosa de Jericó. Mas quando a fonte jorra, bebo e me refastelo! Armazeno tuas palavras em meu coração e memória tal qual um Baobá faz na época das chuvas. É como se você me chamasse para brincar no teu quintal, tomar banho de chuva...
As memórias são engraçadas porque você sabe que já aconteceram, mas agora é inconcebível fora da sua mente
A amizade é uma Flor sempre a crescer… mas vem um dia e a vida corta essa flor. Ficam as raízes que cresceram na nossa alma….a florirem sempre que algo evoca essa memória….essa flor!
A última vez que você vê alguém nunca é a última vez que você o vê. O espaço vazio que uma pessoa deixa para trás retém o calor; a retina preservará seu rosto para mais tarde.
Ela ficou olhando para nós, uma mulher na frente de seus três filhos. Seu cabelo era de um tom mais claro de cinza ao sol e caía sobre seus olhos. Eu não a via lá fora há muito tempo. Mesmo que o vento estivesse frio, o sol estava quente de uma forma que me deixou ciente da visão e da temperatura. Eu nunca tinha visto nossa mãe sob essa luz.
Dos dias vividos, a intensidade e placidez dos que conquistaram as nossas gargalhadas são as que se entrelaçam à memória, sobrevivendo às pessoas e ao tempo.
Olhar aquela noite em perspectiva era quase melhor do que vivê-la pela primeira vez, porque o tempo não passava rápido demais e fugia ao controle, eu não precisava me preocupar com o papel e não me deixava distrair pelas dúvidas, porque sabia o que aconteceria no fim das contas. Revivi aquilo tantas noites que tudo deve ter acontecido apenas para que eu pudesse reviver depois.
Todos já viramos um pouco ciborgues. O celular funciona como uma extensão da nossa memória; terceirizamos funções mentais básicas para diversos algoritmos; entregamos de bandeja nossos segredos, para serem armazenados em servidores e analisados por computadores. O que nunca podemos esquecer é que não estamos apenas nos fundindo a máquinas, mas às empresas que controlam as máquinas.
Eu gostaria de poder deixar para você algumas imagens em minha mente, porque elas são tão bonitas que eu odeio pensar que elas serão extintas quando eu me extinguir. Bem, mas, de novo, esta vida tem sua própria beleza mortal. E a memória tampouco é estritamente mortal por natureza. É uma coisa estranha, afinal, ser capaz de retornar a um momento, quando dificilmente pode-se dizer que ele tem alguma realidade, mesmo em sua passagem. Um momento é uma coisa tão leve. Quero dizer, sua permanência é um alívio muito agradável.
Isto não é uma história. Isto é história. Isto é história e, no entanto, quase tudo o que tenho a meu dispor é a memória, noções fugazes de dias tão remotos, impressões anteriores à consciência e à linguagem, resquícios indigentes que eu insisto em malversar em palavras.
Durante anos, tive apenas raiva, uma enorme raiva que sentia até fisicamente e à qual atribuí tudo de ruim na minha vida...
Há algo em fazer as coisas da maneira que nossos ancestrais costumavam fazer, que coloca o seu coração de volta ao ritmo dessa coisa chamada vida.
"Como o poderia eu saber, aliás, pois que além dos nossos corpos agora separados, nada nos ligava, nada nos lembrava um do outro"
Talvez o final de todos não seja o dia em que realmente morrem, mas a última vez que alguém fala deles.