Poemas de Humberto Gessinger
No ar da nossa aldeia
Há mais do que poluição
Há poucos que já foram
E muitos que nunca serão
As aranhas não tecem suas teias
Por loucura ou por paixão
Se o sangue ainda corre nas veias
É por pura falta de opção
Hey mãe!
Eu já não esquento a cabeça
Durante muito tempo
Isso era só o que eu podia fazer
Mas, hey hey mãe!
Por mais que a gente cresça
Há sempre alguma coisa que a gente
Não consegue entender
Não se qual foi a causa
E quais serão as conseqüências
A borboleta bate as asas
E o vento vira violência
Não sei a soma exata
Só a ordem de grandeza
Não sermos literais as vezes faz nossa beleza
As vezes faz nossa cabeça um par de olhos
Um por de sol as vezes faz a diferença
Se você sentisse
O medo que eu sinto do escuro
Se você soubesse
O mal que o sol me faz
Não me pediria pra repetir
Revoltas banais das quais eu já me esqueci
Se você ouvisse
Às vozes que ouço à noite
Às vezes me assustam
Outras vezes me atraem
Se você sofresse
Tanto quanto eu sofro com a solidão
Se você soubesse
O quanto eu preciso da solidão
Não me pediria pra repetir
Frases banais das quais já me arrependi
Duas pessoas são duas verdades
E, na verdade, são dois mundos
A cada segundo, o pânico aumenta
E uma sombra arrebenta a porta dos fundos
E o que nos devem
Queremos em dobro
Queremos em dólar
O que nos devem
Queremos em dobro
Queremos agora
Se te disseram pra não virar a mesa
Se te disseram que o ataque é a pior defesa
Se te disseram pra esperar a sobremesa
Ouça o que eu digo: não ouça ninguém
As chances estão contra nós
Mas nós estamos por aí
A fim de sobreviver
No meio da confusão
Andando sem direção
A fim de sobreviver
Enquanto as bombas caem do avião
Deixando de recordação
A cidade em chamas
A cidade em chamas
Não basta ter coragem
É preciso estar sozinho
É preciso trair tudo
E trazer a solidão
Eu sei que eles tem razão
Mas a razão é só o que eles tem
Um dia me disseram
Que as nuvens não eram de algodão
Um dia me disseram
Que os ventos às vezes erram a direção
E tudo ficou tão claro
Um intervalo na escuridão
Uma estrela de brilho raro
Um disparo para um coração
A vida imita o vídeo
Garotos inventam um novo inglês
Vivendo num país sedento
Um momento de embriaguez
Somos quem podemos ser
Sonhos que podemos ter
Um dia me disseram
Quem eram os donos da situação
Sem querer eles me deram
As chaves que abrem essa prisão
E tudo ficou tão claro
O que era raro ficou comum
Como um dia depois do outro
Como um dia, um dia comum
Sei que parecem idiotas
As rotas que eu traço
Mas tento traçá-las eu mesmo
E, se chego sempre atrasado
Se nunca sei que horas são
É porque nunca se sabe
Até que horas os relógios funcionarão
Sem dúvida a dúvida é um fato
Sem fatos não sai um jornal
Sem saída ficamos todos presos
Aqui dentro faz muito calor
Na hora "h"
No dia "d"
Na hora de pagar pra ver
Ninguém diz o que disse
(não era bem assim)
Na hora "h"
No dia "d"
Na hora de acender a luz
Ninguém dá nome aos bois
(tudo fica pra depois)
Na hora "h"
No dia "d"
Ninguém paga pra ver
Tudo fica pra trás
Querem mais é esquecer
Pensei que houvesse um muro
entre o lado claro e o lado escuro
Pensei que houvesse diferença entre
gritos e sussurros
Mas foi engano, foi tudo em vão
Já não há mais diferença entre a raiva e a razão
Esquerda e direita, direitos e deveres,
os 3 porquinhos, os 3 poderes
Ascenção e queda, são os dois lados da mesma moeda
Tudo é igual quando se pensa em
como tudo poderia ser
Há tantos sonhos a sonhar
há tantas vidas a viver
ando só
pois só eu sei
pra onde ir
por onde andei
ando só
nem sei por que
não me pergunte
o que eu não sei
pergunte ao pó
desça o porão
siga aquele carro
ou as pegadas que eu deixei
pergunte ao pó
por onde andei
há um mapa dos meus passos
nos pedaços que eu deixei
desate o nó
que te prendeu
a uma pessoa que nunca te mereceu
desate o nó
que nos uniu
num desatino
um desafio
ando só
como um pássaro voando
ando só
como se voasse em bando
ando só
pois só eu sei andar
sem saber até quando
ando só
Não procure paz onde paz não há, não procure alguém onde não há ninguém, não procure o céu azul no mar vermelho, não procure outras pessoas no espelho.
Não é que eu faça questão de ser feliz, eu só queria que parassem de morrer de fome a um palmo do meu nariz.
"Com o tempo, a gente se acostuma a abrir mão de algumas coisas em favor de outras. Até aprende a conviver com a possibilidade de ter feito a escolha errada. Afinal, a dúvida é o preço da pureza."
Não me venha com incríveis carros do ano, restaurantes badalados, quinquilharias digitais e passaportes cheios de carimbos exóticos. Luxo é ter o tempo e o silêncio que se quer e precisa.