Poemas de Horacio
Ousei ser o senhor dos teus sonhos
Dos teus desejos agora sou rei.
Curandeiros dos seus desenganos,
Um nobre do amor que plantei.
Senhora das águas brilhantes
Emudece as estrelas no céu.
Fortalece os ventos uivantes,
Resplandece tua luz sobre o véu.
Pode um homem ser feliz sem conhecê-la?
Podem as deusas lá do céu não invejar?
Se nesta terra deuses e mortais disputam
A direção inquietante do seu olhar.
Infelizes no inferno Dantesco,
E os que somem debaixo do mar.
Jamais presenciarão a menina dos olhos,
Daqueles que por ti, as belezas do mundo vieram criar.
As mentes pensativas se disfarçam. Surgem fantasiadas de copos redondos com whisky puro e amargo. Para outros, cinzeiros cheios de guimbas de cigarro, cinzas, e pensamentos tragados.
Bukowsky acreditava que a vida o obrigava a beber. Outros creditam isso a mulheres que não saíram do campo imaginativo e foram para o plano da ação.
O topo e o abismo são uma realidade estranha de lidar.
As palavras não estão vivas. Em mim não encontram morada, das minhas mãos não saltam ao papel.
As palavras estão fugindo, em êxodo da minha própria mente.
O que era inspiração agora é passado, velado e relutantemente esquecido.
Se para o cientista, o gosto está na descoberta, para o poeta, está na moça que vai e que volta. Quando ela não volta, a tinta da caneta seca, a mente não produz, e o poeta se torna uma estátua de sal.
Escrevo pra falar de amor
Expressar a dor,
O que é comum aos alheios
Tem em meus olhos esplendor.
Narrativa da vida
Sem ponto de partida.
Se por aqui tudo finda,
Fica a obra do autor.
O épico é interpretativo.
Deuses, imortais e heróis
Mas falo de meros mortais se amando, sentimentos de um doce finito.
O propósito é alcançar, sim
Alma carente de paixão.
Paixão pela arte, em parte
O que venha a tocar o coração.
Naveguei como os melhores navegadores em suas expedições.
Corri como maratonistas corriam por um grande prêmio.
Escalei a maior das montanhas como os melhores alpinistas.
Escrevi como os maiores poetas.
Lutei como os melhores pugilistas.
Me diverti como o maior dos palhaços.
Amei como o mais sublime dos românticos.
Cheguei até onde outros já haviam chegado, e nunca além disso.
Morri, e nada de novo vislumbrei.
Sou apenas um dos outros, somente porque não dei um passo a mais do que eles.
Amizade opõe - se a hierarquia,
Não existe o maior sobre o menor.
Laço de vida que une,
Os corações em um só.
Amor de pai, de mãe, de irmão
Sentimento de comparação sem igual.
Mas amor de amigo é diferente
Você conhece de repente,
E pra sempre presente
No momento bom e no mau.
Amigo que chora, que ri, e sabe
Que na derradeira passagem pelo mundo
Assim como união da família
É laço de nó profundo.
A parte que cabe do mundo,
Amigo no que der e vier.
Feliz é quem conta pra tudo
Novo, velho, sábio, astuto
Carrega da infância um irmão de fé.
Olha, nem sempre o amor é o destino andam de mãos dadas. É possível que você já tenha visto o amor de perto, imaginado que seu destino seria com ele, e no fim não aconteceu." Ela não sabia o que pensar, as palavras do rapaz ecoaram em seus ouvidos, nada dispersas, objetivas e profundas. "O que eu deveria pensar? Ou fazer?", disse ela.
"Não sei. As pessoas vivem amores épicos, coisas que parecem amor, paixões, e toma para si o risco da decepção. Eu não sei se desperto qualquer um desses sentimentos em você, mas espero que quando você parar de correr, se cansar ou coisa do tipo, eu seja o seu destino."
As palavras dele chegaram sem rodeios ou avisos prévios. Ela passou o cabelo por trás da orelha e sorriu, revelando o largo passo daquele gesto.
Valei-me Deus, pensamento
De jura e lamento
Razão do tormento,
Da alma e do ser.
És criativo rebento
Nascido do vento,
Véu do esquecimento
Tortuoso querer.
O que trazes à tona
Em mim causa insônia
De dia, de tarde, em noite sem fim.
O toque da amada
A jura levada,
A alma lavada
Que queima em mim.
ORAÇÃO DO CAFÉ
Ó glorioso café! Sua importância é subestimada. Sem você o mundo não gira, os pais não amariam seus filhos, o operário viveria no ócio.
Nações não se levantariam, as colheitas não cresceriam, os dias seriam chatos e sem nenhuma perspectiva.
Tu és a verdadeira semente dos deuses, e um dia reconhecerão ainda mais o seu valor.
Obrigado Deus, pelo café de cada dia.
CHAT
A resposta veio certeira, após tempos de certo silêncio. Cercados de bons papos e grandes notícias, o silêncio tomara formas "corpóreas", quase que envenenando o prazer que havia numa bela resenha antiga. Os minutos se passavam, e o único medo era que chegasse a morte do assunto, o fio único da sutileza que se perdia entre as palavras.
De certa forma, me sentia incomodando, e cada vez menos fazia parte daquele pedacinho de mundo tão caprichosamente aconchegante. E aos poucos, o pesado "boa noite", seguido por "durma bem" , enterraram momentaneamente aquele belo momento.
MOÇA
Desfila, moça
O mundo aguarda
O teu passar,
No amanhecer.
Caminha, moça
Com teu sorriso
A bailar,
No entardecer.
Feliz quem sente,
Sua presença
Coisa intensa,
Que trás o anoitecer.
Sorria e torça
Por essa moça,
Felicidade
No alvorecer.
Para o desejar, criou - se o espaço.
O Laço, o nó do embaraço.
Para o bem querer, criou - se o mar.
Sóbrio, tênue à vagar.
Para o sonho, criou - se o ar.
Essência da vida, o mundo a cantar.
Para o carinho, criou - se o chão.
União dos sentidos, pousar da canção.
E para o amor, criou - se um alguém.
Misterioso, sereno, quando vem se dispersa, se move depressa, conversa.
Quando ama, não quer mais ninguém.
Tudo que há, mais do que um ato de amor, foi criado.
Criado, vibrante, brilhante, apaixonado.
"Situações desesperadas pedem medidas pensadas", disse o rapaz contrariando a versão original do ditado popular. Mesmo com a camisa branca com resquícios de ketchup, a moça ria descontroladamente das medidas nada pensadas, desesperadas e desajeitadas que aquele garoto utilizava para resolver o problema.
Depois de mil e uma fórmulas químicas que ele havia tentado, o resultado final foi uma camisa bem manchada, risos e um brinde a momentos estranhos e únicos como esse.
Molho de tomate era capaz de criar situações "apaixonantemente" hilárias.
Do amor espero muito e tanto
Do ardor espero o mesmo e parto.
Da ida espero o mesmo encanto,
Na volta espero o mesmo afago.
Do olhar espero o seu encontro,
Do riso espero o seu retrato.
Das mãos espero o mesmo toque,
Da boca espero o embaraço.
Nascido da mesma vontade,
Que bate e não se aguenta
Que invade o mesmo peito e parte
O embate que na vida aumenta.
Espere, ó bem, o meu resgate
Ao sol que luz da vida trás,
O amor se torna um desastre
Se não são dois corações iguais.
Dedicava-se plenamente ao seu ofício como sapateiro. Certa vez, levou trabalho para casa. Um pequeno pote com graxa e um par de sapatos velhos, que desesperadamente imploravam por um brilho, e se possível, solas novas. "Só o seu café quentinho pra anular esse cheiro de graxa", disse ele, usando uma indireta, jogando um verde.
Ela veio da cozinha, seus passos lentos, pés cansados que se arrastavam, relatos auditivos que evidenciavam a passagem do tempo. No topo de sua cabeça, uma coroa de cabelos brancos.
Décadas de uma mistura nada convencional, que envolvia graxa, café, antigos sapatos e sorrisos que sempre foram exemplos do amor e companheirismo.
Apesar de todos os anos que passaram juntos, a moça ainda se impressionava com a atitude que o rapaz tinha para tomar decisões. Sem conhecer os lugares, sua determinação o levava do Oiapoque ao Chuí só para realizar os sonhos de ambos.
"Você não tem medo de acabar se perdendo nessas viagens de trabalho?", ela sempre o questionava, triste na despedida, vendo-o abrir a porta e partindo pela centésima vez, de costas e com ombros pesados por saber que era seu dever. Ele parou na porta, olhou para trás sorrindo e disse: "Você vai estar de braços abertos me esperando?"
Sem pestanejar respondeu: "sempre e pra sempre". Aquele rapaz olhou novamente pra frente, e antes de ir ele falou: "então mesmo que por instinto, perdido ou não, volto pra você".
E partiu...
Do sol
E da luz que arde,
Parti pra viver da arte.
Da lua
Que vieste encher,
Parti para poder te ver.
Da chuva
Que há de me molhar,
Parti pra poder amar.
Do inverno
Que o frio trás,
Parti procurando mais.
Da moça
Que pouco vi,
Pouco falei
Então parti.
Sonhar acordado, luxo de poucos, mas uma realidade alcançável para os que tinham sede de realizações. Dedicava-se plenamente aos seus afazeres, e através de seu sonho de se formar, estudava a níveis que beiravam a loucura, veja só. Em 2/3 do dia, seu ambiente eram as paredes sufocantes do quarto, livros-cordilheiras cruzavam a visão até onde ela podia alcançar. Mas em um curto período, haviam pequenos e curtos momentos em que olhava pela janela e imaginava todas as viagens, sonhos, e velhos desejos que seu esforço transformaria em realidade.
Inevitavelmente, seria frio, confuso, e até se sentiria preso em sua própria prisão particular.
Mas como a flor de Drummond, insistiu, cresceu, furou o asfalto e encontrou a luz do dia.
Um homem muito rico, no fim de expediente de sua empresa, desceu para a praça que havia bem de frente ao prédio onde trabalhava.
Avistou um rapaz que estava olhando para o chão, de forma pensativa e com um largo sorriso (provavelmente resultado de seus pensamentos).
Sentou - se ao lado dele e disse: "Eu nasci pobre. Desejei por toda minha vida a fortuna de outros homens, a imagem que carregavam, seus carros e mansões. Eu queria tudo aquilo. Hoje eu possuo tudo e muito mais, tudo que carregue um cifrão escrito "vende-se" eu posso ter. E em todos esses anos eu nunca sorri como você sorriu pensando na vida." O rapaz, meio surpreso por tudo que foi dito pelo homem desconhecido, respondeu: "Eu nasci pobre também, não enriqueci e nem conquistei tudo que gostaria de ter conquistado. Mas sorri pela gratidão de tudo o que conquistei. Sorri por lembrar da minha esposa em casa, dos meus filhos na escola, sorri pelo teto sob a cabeça de todos eles nos dias frios e chuvosos, e até pela piscina de plástico nos dias quentes. O beijo de quem se ama, o abraço de alguém importante, e as pequenas conquistas são motivos para se viver."
O empresário olhou para ele e disse: "No fim das contas, você é muito mais rico do que que eu".
Sorriram juntos, conversaram por mais algum tempo, e numa despedida amigável, ele se foi...
Ela é fogo, ele é gelo.
Curtia seus dias dançando sob a lua, no anoitecer e nas madrugadas. Sempre que possível, festas faziam parte de sua tabela de planejamentos. Enquanto ele pouco saía. Gostava de seus livros, da sua própria bagunça e pensamentos escritos em bolas de papel na lixeira. Certa vez, ele foi até um barzinho que tocava Raúl, Paralamas e outras músicas que gostava. Levantou - se até a máquina e escolheu um música.
"Eu amo Engenheiros do Havaii", a voz dela por trás de suas costas, segurando uma moeda (imagino que para utilizar a máquina também) . Sem muita reação, ele confirmou o mesmo.
Após horas de conversa leve e noções sobre o gosto musical, o rapaz que vivia em sua caverna e a moça das baladas e luzes de neon, dançaram juntos.
Fogo e gelo, provaram que os opostos se atraem, de fato.