Poemas de Horacio
Olha, nem sempre o amor é o destino andam de mãos dadas. É possível que você já tenha visto o amor de perto, imaginado que seu destino seria com ele, e no fim não aconteceu." Ela não sabia o que pensar, as palavras do rapaz ecoaram em seus ouvidos, nada dispersas, objetivas e profundas. "O que eu deveria pensar? Ou fazer?", disse ela.
"Não sei. As pessoas vivem amores épicos, coisas que parecem amor, paixões, e toma para si o risco da decepção. Eu não sei se desperto qualquer um desses sentimentos em você, mas espero que quando você parar de correr, se cansar ou coisa do tipo, eu seja o seu destino."
As palavras dele chegaram sem rodeios ou avisos prévios. Ela passou o cabelo por trás da orelha e sorriu, revelando o largo passo daquele gesto.
Valei-me Deus, pensamento
De jura e lamento
Razão do tormento,
Da alma e do ser.
És criativo rebento
Nascido do vento,
Véu do esquecimento
Tortuoso querer.
O que trazes à tona
Em mim causa insônia
De dia, de tarde, em noite sem fim.
O toque da amada
A jura levada,
A alma lavada
Que queima em mim.
Vivemos em um momento o qual ser classificado é primordial para a sociedade. Não seja assim! Porque você não é o dinheiro que tem na carteira, nem o seu trabalho. Você não é uma casa grande, com bebidas caras, carros de luxo e paredes vazias. Você não é a imagem que ostenta para se enquadrar na visão das minorias.
Você é o amontoado de sonhos, você é as viagens que fará, os amores que viveu e viverá, o carinho que transmite e recebe. É aquela pessoa que muda em si o que crê não estar certo, que defende os que não se defendem, que vive aquilo que os outros não se permitem viver por mesquinharia.
Não somos o que temos, somos o que significamos para o mundo.
ORAÇÃO DO CAFÉ
Ó glorioso café! Sua importância é subestimada. Sem você o mundo não gira, os pais não amariam seus filhos, o operário viveria no ócio.
Nações não se levantariam, as colheitas não cresceriam, os dias seriam chatos e sem nenhuma perspectiva.
Tu és a verdadeira semente dos deuses, e um dia reconhecerão ainda mais o seu valor.
Obrigado Deus, pelo café de cada dia.
CHAT
A resposta veio certeira, após tempos de certo silêncio. Cercados de bons papos e grandes notícias, o silêncio tomara formas "corpóreas", quase que envenenando o prazer que havia numa bela resenha antiga. Os minutos se passavam, e o único medo era que chegasse a morte do assunto, o fio único da sutileza que se perdia entre as palavras.
De certa forma, me sentia incomodando, e cada vez menos fazia parte daquele pedacinho de mundo tão caprichosamente aconchegante. E aos poucos, o pesado "boa noite", seguido por "durma bem" , enterraram momentaneamente aquele belo momento.
MOÇA
Desfila, moça
O mundo aguarda
O teu passar,
No amanhecer.
Caminha, moça
Com teu sorriso
A bailar,
No entardecer.
Feliz quem sente,
Sua presença
Coisa intensa,
Que trás o anoitecer.
Sorria e torça
Por essa moça,
Felicidade
No alvorecer.
Para o desejar, criou - se o espaço.
O Laço, o nó do embaraço.
Para o bem querer, criou - se o mar.
Sóbrio, tênue à vagar.
Para o sonho, criou - se o ar.
Essência da vida, o mundo a cantar.
Para o carinho, criou - se o chão.
União dos sentidos, pousar da canção.
E para o amor, criou - se um alguém.
Misterioso, sereno, quando vem se dispersa, se move depressa, conversa.
Quando ama, não quer mais ninguém.
Tudo que há, mais do que um ato de amor, foi criado.
Criado, vibrante, brilhante, apaixonado.
"Situações desesperadas pedem medidas pensadas", disse o rapaz contrariando a versão original do ditado popular. Mesmo com a camisa branca com resquícios de ketchup, a moça ria descontroladamente das medidas nada pensadas, desesperadas e desajeitadas que aquele garoto utilizava para resolver o problema.
Depois de mil e uma fórmulas químicas que ele havia tentado, o resultado final foi uma camisa bem manchada, risos e um brinde a momentos estranhos e únicos como esse.
Molho de tomate era capaz de criar situações "apaixonantemente" hilárias.
Do amor espero muito e tanto
Do ardor espero o mesmo e parto.
Da ida espero o mesmo encanto,
Na volta espero o mesmo afago.
Do olhar espero o seu encontro,
Do riso espero o seu retrato.
Das mãos espero o mesmo toque,
Da boca espero o embaraço.
Nascido da mesma vontade,
Que bate e não se aguenta
Que invade o mesmo peito e parte
O embate que na vida aumenta.
Espere, ó bem, o meu resgate
Ao sol que luz da vida trás,
O amor se torna um desastre
Se não são dois corações iguais.
Dedicava-se plenamente ao seu ofício como sapateiro. Certa vez, levou trabalho para casa. Um pequeno pote com graxa e um par de sapatos velhos, que desesperadamente imploravam por um brilho, e se possível, solas novas. "Só o seu café quentinho pra anular esse cheiro de graxa", disse ele, usando uma indireta, jogando um verde.
Ela veio da cozinha, seus passos lentos, pés cansados que se arrastavam, relatos auditivos que evidenciavam a passagem do tempo. No topo de sua cabeça, uma coroa de cabelos brancos.
Décadas de uma mistura nada convencional, que envolvia graxa, café, antigos sapatos e sorrisos que sempre foram exemplos do amor e companheirismo.
Apesar de todos os anos que passaram juntos, a moça ainda se impressionava com a atitude que o rapaz tinha para tomar decisões. Sem conhecer os lugares, sua determinação o levava do Oiapoque ao Chuí só para realizar os sonhos de ambos.
"Você não tem medo de acabar se perdendo nessas viagens de trabalho?", ela sempre o questionava, triste na despedida, vendo-o abrir a porta e partindo pela centésima vez, de costas e com ombros pesados por saber que era seu dever. Ele parou na porta, olhou para trás sorrindo e disse: "Você vai estar de braços abertos me esperando?"
Sem pestanejar respondeu: "sempre e pra sempre". Aquele rapaz olhou novamente pra frente, e antes de ir ele falou: "então mesmo que por instinto, perdido ou não, volto pra você".
E partiu...
Do sol
E da luz que arde,
Parti pra viver da arte.
Da lua
Que vieste encher,
Parti para poder te ver.
Da chuva
Que há de me molhar,
Parti pra poder amar.
Do inverno
Que o frio trás,
Parti procurando mais.
Da moça
Que pouco vi,
Pouco falei
Então parti.
Sonhar acordado, luxo de poucos, mas uma realidade alcançável para os que tinham sede de realizações. Dedicava-se plenamente aos seus afazeres, e através de seu sonho de se formar, estudava a níveis que beiravam a loucura, veja só. Em 2/3 do dia, seu ambiente eram as paredes sufocantes do quarto, livros-cordilheiras cruzavam a visão até onde ela podia alcançar. Mas em um curto período, haviam pequenos e curtos momentos em que olhava pela janela e imaginava todas as viagens, sonhos, e velhos desejos que seu esforço transformaria em realidade.
Inevitavelmente, seria frio, confuso, e até se sentiria preso em sua própria prisão particular.
Mas como a flor de Drummond, insistiu, cresceu, furou o asfalto e encontrou a luz do dia.
Um homem muito rico, no fim de expediente de sua empresa, desceu para a praça que havia bem de frente ao prédio onde trabalhava.
Avistou um rapaz que estava olhando para o chão, de forma pensativa e com um largo sorriso (provavelmente resultado de seus pensamentos).
Sentou - se ao lado dele e disse: "Eu nasci pobre. Desejei por toda minha vida a fortuna de outros homens, a imagem que carregavam, seus carros e mansões. Eu queria tudo aquilo. Hoje eu possuo tudo e muito mais, tudo que carregue um cifrão escrito "vende-se" eu posso ter. E em todos esses anos eu nunca sorri como você sorriu pensando na vida." O rapaz, meio surpreso por tudo que foi dito pelo homem desconhecido, respondeu: "Eu nasci pobre também, não enriqueci e nem conquistei tudo que gostaria de ter conquistado. Mas sorri pela gratidão de tudo o que conquistei. Sorri por lembrar da minha esposa em casa, dos meus filhos na escola, sorri pelo teto sob a cabeça de todos eles nos dias frios e chuvosos, e até pela piscina de plástico nos dias quentes. O beijo de quem se ama, o abraço de alguém importante, e as pequenas conquistas são motivos para se viver."
O empresário olhou para ele e disse: "No fim das contas, você é muito mais rico do que que eu".
Sorriram juntos, conversaram por mais algum tempo, e numa despedida amigável, ele se foi...
Ela é fogo, ele é gelo.
Curtia seus dias dançando sob a lua, no anoitecer e nas madrugadas. Sempre que possível, festas faziam parte de sua tabela de planejamentos. Enquanto ele pouco saía. Gostava de seus livros, da sua própria bagunça e pensamentos escritos em bolas de papel na lixeira. Certa vez, ele foi até um barzinho que tocava Raúl, Paralamas e outras músicas que gostava. Levantou - se até a máquina e escolheu um música.
"Eu amo Engenheiros do Havaii", a voz dela por trás de suas costas, segurando uma moeda (imagino que para utilizar a máquina também) . Sem muita reação, ele confirmou o mesmo.
Após horas de conversa leve e noções sobre o gosto musical, o rapaz que vivia em sua caverna e a moça das baladas e luzes de neon, dançaram juntos.
Fogo e gelo, provaram que os opostos se atraem, de fato.
"Eu acho que isso é ilegal, podemos até ser presos", disse a moça preocupada com o que poderia acontecer caso os dois entrassem na fonte que ficava bem no meio da praça da cidade em um frio de 15°.
Cuidadosamente, ela calculava o peso das ações, enquanto ele era completamente desprovido de juízo.
"Amor, nesse momento eu sou a lei. Se não pular, serei o jure, e logo em seguida o executor, porque eu mesmo vou te jogar aí dentro".
Ela gargalhou alto. "Não me desafie", disse ele. Ambos pularam, riram e se beijaram. Cúmplices de um "crime" quase perfeito. Que seria eternamente lembrado graças ao frio que sentiram assim que saíram da água.
Existem 3 tipos de poetas, e embora pareçam semelhantes, não se confunda.
O primeiro é o de café e cigarro, normalmente escreve sobre a beleza da vida em melancolia, o que há de sublime no ar sombrio da vida.
O outro seria o de bebida e cigarro. Esses costumam escrever através de suas visões realistas sobre as dificuldades, problemas, e mazelas que enfrentam, mas utilizando um tom cômico, o famoso "rir da própria desgraça".
E por último, os apaixonados. Ah, esses são um problema em particular. Normalmente só podem ser entendidos por aqueles que passam pela mesma situação, ou todas as palavras soam como melosas e desnecessárias.
"A alma da poesia só é captada por quem lê, quando o mesmo coloca - se no lugar de quem escreve."
Deitados sob o sofá - cama, assistindo um filme de velho oeste, ele se vira para a direção dela e subitamente diz: "eu vou te amar para sempre!".
Ela franziu as sobrancelhas e disse: "Jura? Não sei não, as pessoas sempre dizem isso e até falam de um amor para até depois da vida, mas aí terminam e dizem coisas como: "tô livre na pista!" Então faz assim, diz que me ama todos os dias, e a gente vai se amando até quando a vida quiser".
O rapaz olhou, primeiro espantado, depois rindo e disse: "Você é meio paranóica né?"
Ambos caíram na gargalhada até que ela falou: "Ok, eu me rendo. Vou te amar pra sempre também!"
E assim o "para sempre" foi feito.
"Sabe que eu gostaria muito de viajar contigo, mas eu tenho tanta coisa pra resolver".
Ela costumava estar muito ocupada com suas tarefas cotidianas, odiava não cumprir essas tarefas. Ele, por outro lado, havia entendido que na vida, certas coisas valem o risco de uma aventura. Veio até ela é disse:" Amor, eu sabia que essa ia ser sua resposta, então eu meio que já tinha feito sua mala. Só por 1 semana, joga essa preocupação fora e faça algumas loucuras comigo, que tal?".
A moça, pensativa, coloca as mãos na cintura e responde: "Que droga! Acho bom ter colocado minhas melhores roupas nessa mala". Então tudo tornou-se um misto de risos, beijos e muita pressa, já que o avião iria decolar na hora exata.
Sentado em um banco de praça, um senhor de oitenta e tantos anos, faz o que fazia rotineiramente. Alimentando pássaros com migalhas de pão, ele recebe uma visita. Um homem de meia idade, usando um terno cinza, senta - se ao lado dele e diz: "Sr Antônio, como tem vivido sua vida?"
Estranhando o fato de aquele homem o chamar pelo nome, de certa forma ele sabia quem era. "Eu vivi plenamente pelas últimas 8 décadas. Levo no coração os amigos mais leais, o grande amor da minha vida, que já se foi, mas juntamente comigo, construiu uma grande família. Meus filhos estão todos bem, e meus netos igualmente."
O homem de terno o questiona: "O senhor não parece assustado em me ver."
E ele respondeu: "Estou a 10 anos longe da pessoa que mais amei na vida. Vivi a vida do meu jeito, e vou partir do meu jeito. Agora posso vê-la, novamente."
O homem espantado, sorri, estende sua mão e diz: "Assim espero e torço, senhor."
E se foi.