Poemas Curtos de Cecília Meireles

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Minhas palavras são a metade de um diálogo obscuro
continuando através de séculos impossíveis.

Cecília Meireles
Viagem. São Paulo: Global, 2012.

Nota: Trecho do poema Diálogo.

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Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Cecília Meireles
Cecília Meireles: obra em prosa, volume 1. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

Os livros que têm resistido ao tempo são os que possuem uma essência de verdade, capaz de satisfazer a inquietação humana por mais que os séculos passem.

Levai-me aonde quiserdes! - aprendi com as primaveras
a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira.

O instante existe (...) Não sou alegre nem sou triste: (...) Não sito gozo nem tormento. Atravesso noite e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço. não sei, não sei. Não sei se fico ou passo.

“Eu canto porque o instante existe
E a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
Sou poeta”.

(do livro "Viagem", 1939.)

"E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim..."
" Meus pés vão pisando a terra
Que é a imagem da minha vida:
Tão vazia, mas tão bela
Tão certa , mas tão perdida!"

"O amor sozinho vagava.
Sem mais nada além de mim...
numa eternidade inútil"

⁠"Tão feliz que me sentia,
vendo as nuvenzinhas no ar,
vendo o sol e vendo as flores
nos arbustos do quintal,
tendo ao longe, na varanda,
um rosto para mirar"

⁠"Riqueza grande ta terra
quantos por ti morrerão! (...)
Há multidões para os vivos:
porém quem morre vai só. (...)
há mais forças, mais suplícios
para os netos da traição. (...)
Quem não presta, fica vivo;
Quem é bom, mandam matar."

⁠"Escuto os alicerces que o passado
tingiu de incêndio: a voz dessas ruínas
de muros de ouro em fogo evaporado"

⁠"Tenho o coração parado
Como se não fosse viva (...)
Vamos a ver se a minha alma
Fala verdade ou mentira"

⁠Que tudo passa...
O prazer é um intervalo
na desgraça
Que tudo acaba!
Quem diz que a montanha de ouro não desaba?
Que tudo engana
Gente, só a morte mesmo,
é soberana

⁠"Nós aqui movendo as águas
e as pedras, desta maneira!
-Pois, não deixaremos nada:
nem o nome da caveira
Que a nossa vida
é a mesma coisa que a morte
-noutra medida"

⁠"Vejo o arrepio da morte,
à voz da condenação
Quem ordena, julga e pune?
Quem é culpado e inocente?
Na mesma cova do tempo
cai o castigo e o perdão
Morre a tinta das sentenças
e o sangue dos enforcados...
liras, espadas e cruzes
pura cinza agora são"

⁠Todos querem liberdade
mas quem por ela trabalha? (...)
(o humano resgate custa
pesadas carnificinas!
Quem morre, para dar a vida?
Quem quer arriscar seu sangue?)

⁠De seu calmo esconderijo,
o ouro vem, dócil e ingênuo;
torna-se pó, folha, barra,
prestígio, poder, engenho...
É tão claro - e turva tudo:
honra, amor e pensamento.

Cecília Meireles
Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Global Editora, 2012.

Nota: Trecho do poema Romance II ou do Ouro Incansável.

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"(...)O vento vem vindo de longe,/a noite se curva de frio;/debaixo da água vai morrendo/meu sonho, dentro de um navio... (...)".

(do poema "canção", do livro 'Obra poética' - Pág 18, - J. Aguilar, 1958.)

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"Homem vulgar! Homem de coração mesquinho! Eu te quero ensinar a arte sublime de rir. Dobra essa orelha grosseira, e escuta o ritmo e o som da minha gargalhada: Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!”.

( do poema "Gargalhada.)

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“Não sejas o de hoje. Não suspires por ontens...
não queiras ser o de amanhã”...
(do livro "Cânticos", 1982.)

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