Poemas Curtos de Cecília Meireles

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Liberdade essa palavra, que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique, e não há ninguém que não entenda.

(Do "Romanceiro da Inconfidência)

"Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira”.

( do poema "Desenho", do Livro "Mar absoluto".)

O que amamos está sempre longe de nós:
e longe mesmo do que amamos - que não sabe
de onde vem, aonde vai nosso impulso de amor.

(do livro "Solombra".)

Herança
“Eu vim de infinitos caminhos,
e os meus sonhos choveram lúcido pranto
pelo chão”.

(Trecho do livro “Viagem”, 1939.)

Fácil é dizer "para sempre"
Difícil saber ate onde ressoa
Tao grande juramento
é onde esta para nós a eternidade
o firme bronze onde escreveremos nossa voz ? .

Já não sei mais a diferença
de ti, de mim, da coisa perguntada,
do silêncio da coisa irrespondida.

Tudo em ti era uma ausência que se demorava:
uma despedida pronta a cumprir-se.

Cecília Meireles
MEIRELES, C. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001.

Nota: Trecho de "Elegia"

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A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la.

Cecília Meireles
Cecília Meireles: obra em prosa, volume 1. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

Entre mim e mim, há vastidões bastantes para a navegação de meus desejos afligidos.

Ah! se nem eu sei quem sou,
como posso esperar que venha alguém a gostar de mim?

O vento é sempre o mesmo, mas sua resposta é diferente em cada folha. Somente a árvore seca fica imóvel entre borboletas e pássaros.

Alguns dos melhores momentos da vida a gente experimenta de olhos fechados, tudo o que acontece dá para imaginar… Tudo o que se imagina, pode acontecer.

É difícil se convencer de que se é feliz, assim como é fácil achar que sempre falta algo.

De que são feitos os dias?
- De pequenos desejos, vagarosas saudades, silenciosas lembranças.

Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, não sei, não sei. Não sei se fico ou se passo.

Não venci todas as vezes que lutei, mas perdi todas as vezes que deixei de lutar.

Minha primeira lágrima caiu de dentro dos teus olhos.
Tive medo de a enxugar: para não saberes que havia caído.

Cecília Meireles
MEIRELES, C. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001.

Nota: Trecho de "Elegia"

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Chorei pelas gentes perdidas de loucura e orgulho. Depois por minhas visões, por meus gestos.
E, finalmente, por nós dois.

"Nunca tive os olhos tão claros e o sorriso em tanta loucura. Sinto-me toda igual às árvores: solitária, perfeita e pura."

Acordar a criatura humana dessa espécie de sonambulismo em que tantos se deixam arrastar. Mostrar-lhes a vida em profundidade. Sem pretensão filosófica ou de salvação - mas por uma contemplação poética afetuosa e participante.