Poemas de Arthur Schopenhauer
O homem, no íntimo, é um animal selvagem, uma fera. Só o conhecemos domesticado, domado, nesse estado que se chama civilização, por isso recuamos assustados ante as explosões acidentais do seu temperamento.
Delicadeza é prudência, indelicadeza é estupidez; criar inimigos inutilmente e de peito feito é loucura, é como quem deita fogo à própria casa.
Se encontrarmos em alguém um grande valor real, devemos esconder-lhe a nossa descoberta como se fosse um crime.
A diferença entre a vaidade e o orgulho consiste em que este é uma convicção bem firme da nossa superioridade em todas as coisas; a vaidade, pelo contrário, é o desejo de despertar nos outros essa persuasão, com a esperança secreta de chegar por fim a convencer nós mesmos.
Tudo o que existe e acontece para o homem existe imediatamente apenas na sua consciência e acontece para ela; logo, manifestamente, é a qualidade da consciência a ser primeiramente essencial e, na maior parte das vezes, tudo depende mais dela do que das figuras que nela se expõem.
Nada supera a satisfação da própria vaidade e nenhum machucado dói mais do que o ataque a ela.
Querer escrever como se fala é tão condenável quanto o contrário, ou seja, querer falar como se escreve, o que resulta num modo de falar pedante e ao mesmo tempo difícil de entender.
Os homens em geral, 5/6 deles são de tal maneira constituídos moral e intelectualmente que quem não é levado pelas circunstâncias a se relacionar com eles deve, de preferência, evitá-los desde o início e permanecer o mais distante possível do seu contato.
Quem tem a inclinação e o hábito de submeter secretamente a conduta dos outros e em geral também as suas ações e omissões a uma atenta e severa crítica, trabalha na verdade em prol da própria melhoria e do próprio aperfeiçoamento, pois possui o suficiente de justiça, ou de orgulho e vaidade, para evitar o que amiude censura com tanto vigor. Em relação aos tolerantes, vale o oposto, como diz Horácio: HANC VENIAM DAMUS PETIMUSQUE VICISSIM, quer dizer, "concedemos esta liberdade e a solicitamos igualmente. (218)
Cada um possui certos princípios de conduta inatos e concretos que fluem no seu sangue e seiva como resultado de todo o seu pensar, sentir e querer. Na maioria das vezes, cada um os conhece não in abstracto, mas só ao olhar retrospectivamente para a própria vida, percebendo um fio invisível. Conforme a natureza de tais princípios será conduzido à felicidade ou à desgraça.
Se na infância dedicado-nos com muita seriedade à primeira compreensão intuitiva das coisas, a educação esforça-se para nos transmitir CONCEITOS. Mas os conceitos não nos fornecem a verdadeira essência das coisas; esta, ou seja, o conteúdo profundo e autêntico de tudo o nosso conhecimento, reside antes na concepção INTUITIVA do mundo. Tal concepção, no entanto, só pode ser adquirida por nós, e de maneira alguma nos poderia ser ENSINADA. Donde resulta que o nosso valor, seja ele moral ou intelectual, não nos chega de fora, mas procede da profundeza do nosso ser, e nenhuma das artes pedagógicas pode transformar um simplório de nascimento num pensando: nunca! Simplório ao nascer, simplório ao morrer.
Por que na juventude miramos a vida como imensuravelmente longa? Porque temos de encontrar lugar para as esperanças sem limites, com as quais a povoamos e para cuja realização Matusalém teria morrido jovem; em seguida, porque todomamos como medida da vida os poucos anos que já temos atrás de nós, cuja lembrança é sempre rica em material, portanto longa, já que a novidade faz todos os eventos parecerem significativos.
Na juventude rege a intuição, na velhice, a reflexão. Dessa forma, aquela é a idade para a poesia, esta mais para a filosofia. Também em termos práticos somos determinados na juventude pelo que foi induzido e por sua respectiva impressão, na velhice apenas pelo que foi pensado. Em parte, isso se deve ao fato de que s[o na velhice ha casos intuitivos em numero suficiente para serem subsumidos a conceitos, ganhando, assim, plena importância, conteúdo e credito; ao mesmo tempo, ha moderação, pelo hábito, da impressão do que foi intuído. Por outro lado, na juventude, a impressão das intuições portanto também do aspecto exterior das coisas especialmente quando se trata de cabeças vivazes e fantasiosas, é tão preponderante, que o mundo é visto como uma pintura. Desse modo, preocupam-se sobretudo em saber como figurarão e se apresentarão nesse mundo, bem mais do que a respeito da própria disposição interna. Isso se mostra ja na vaidade pessoal e no exagero em cuidar da aparência, característicos dos jovens.
As pessoas que passam suas vidas lendo e tiram sua sabedoria dos livros são semelhantes àquelas que, a partir de muitas descrições de viagens, têm informações precisas a respeito de um país. Elas podem fornecer muitos detalhes sobre o lugar, mas no fundo não dispõem de nenhum conhecimento coerente, claro e profundo das características daquele país. Em compensação, os homens que dedicaram sua vida ao pensamento são como aqueles que estiveram em pessoa no país: só eles sabem propriamente do que falam, conhecem as coisas de lá em seu contexto e sentem-se em casa naquele lugar.
Bastar-se a si mesmo; ser tudo em tudo para si, e poder dizer trago todas as minhas posses comigo, é decerto a qualidade mais favorável para a nossa felicidade.
Pode ainda considerar-se a nossa vida como um episódio que perturba inutilmente a beatitude e o repouso do nada.
Todo autor se torna um escritor ruim assim que escreve qualquer coisa em função do lucro. As melhoras obras dos grandes homens são todas provenientes da época em que eles tinham de escrever ou sem ganhar nada, ou por honorários muito reduzidos.
É preciso ser paciente, pois um homem de intelecção justa entre pessoas enganadas assemelha-se àquele cujo relógio funciona com precisão numa cidade na qual todos os relógios de torre fornecem a hora errada.
Neste mundo, onde se joga com dados chumbados, um homem precisa ter um temperamento de ferro, com armadura à prova dos golpes do destino, e armas para enfrentar homens. A vida é uma longa batalha; temos de combatê-la a cada passo; e Voltaire com toda razão diz que, se temos sucesso, é à ponta da espada, e que morremos com a arma na mão.