Poemas de Arthur Schopenhauer
Sou uma aparência representativa para mim mesmo, na medida em que sou o objeto de minha consideraçẽo e reflito sobre minhas ações.
O ser humano é livre e não o é; não existe realmente qualquer liberdade, porque tudo se acha submetido à necessidade, conforme as leis da Natureza.
Quem consegue manter o coração dentro de seus formosos limites quando o mundo o golpeia diretamente com seus punhos? Quanto mais nos combater o nada, quanto mais nos rodear com a boca hiante de um abismo, quanto mais dos dispersar com os milhares de picuinhas da realidade social e das atividades dos seres humanos, quanto mais nos perseguir sem conjunto, sem alma e sem amor, quanto mais procurar nos destruir, tanto mais apaixonada, robusta e violenta terá de ser a resistência de nossa parte.
Deste modo, a necessidade e a pobreza exteriores transformam a exuberância de teu coração em miséria e indigência.
Deve reconhecer que todos os acontecimentos, com as alegrias e sofrimentos que os acompanham não perturbam seu ser íntimo e superior e que no fundo, tudo não passa de um jogo.
A função da filosofia é a de proteger-se de si mesma do impulso de ser seduzida por suas próprias concepções intelectuais. Através do estabelecimento destes limites não se permite que o indizível se transforme em algo completamente inexprimível.
Adele é um desses seres femininos que, ou te deixam completamente indiferente, ou se demonstram capazes de te despertar um interesse profundo e permanente. […] Seu aspecto exterior é agradável para meu gosto pessoal e seu interior é uma formosa criação da natureza.
Reconhecemos de maneira geral que o que cada um é, contribui mais para a sua realidade do que cada um tem, ou representa. O principal é sempre o que um homem é; por conseguinte, o que possui em si mesmo, porque a individualidade o acompanha em todos os tempos e em todos os lugares e tinge com seu matiz todos os acontecimentos de sua vida.
Em presença de um acontecimento desgraçado já ocorrido, no qual, por conseguinte, não se pode mudar nada, não devemos nos abandonar à ideia de que poderia ser de outra maneira; menos ainda refletir sobre o que poderia ter sido feito para que fosse diferente. Porque isso simplesmente intensifica a dor até o ponto em que se torna insuportável, e assim nos tornamos "aquele que atormenta a si próprio". Pelo contrário, devemos estalar os dedos e nunca mais pensar nisso. Aquele que não é bastante leve de intelecto para conduzir-se dessa maneira deve refugiar-se no fatalismo e convencer-se da verdade de que tudo que ocorre, ocorre necessariamente e, portanto, inevitavelmente.
Não obstante, essa regra só tem valor em um sentido. Em um caso de infortúnio, é útil para nos proporcionar alívio e consolo imediatos; porém, quando, como acontece muitas vezes, a culpa é de nossa própria negligência ou irreflexão, então a meditação repetida e dolorosa dos meios que poderiam ter impedido o acontecimento é uma autodisciplina saudável que nos serve como lição e aprendizado, isto é, para o futuro. Não devemos tentar desculpar, atenuar ou diminuir as faltas de que somos evidentemente responsáveis, mas confessá-las e trazê-las claramente ante nossos olhos em toda a sua extensão a fim de tomar a firme decisão de evitá-las futuramente. Temos, é verdade, de nos infligir o doloroso sentimento do descontentamento de si mesmos; entretanto, o homem não castigado, não aprende.
“A mais rica biblioteca, quando desorganizada, não é tão proveitosa quanto uma bastante modesta, mas bem ordenada. Da mesma maneira, uma grande quantidade de conhecimentos, quando não foi elaborada por um pensamento próprio, tem muito menos valor do que uma quantidade bem mais limitada, que, no entanto, foi devidamente assimilada”.
Se as crianças fossem trazidas ao mundo apenas por um ato de pura razão, a raça humana continuaria a existir? Um homem preferiria ter tanta simpatia pela geração vindoura, a ponto de poupá-la do fardo da existência? Ou, de qualquer forma, não se encarregaria de impor esse fardo a sangue frio.
A mais eficaz consolação em toda desgraça, em todo sofrimento, é voltar os olhos para aqueles que são ainda mais desgraçados do que nós: esse remédio encontra-se ao alcance de todos.
Todo tolo miserável que não tem absolutamente nada de que possa se orgulhar, adota como último recurso o orgulho da nação a que pertence; ele está pronto e feliz para defender todas as suas faltas e loucuras com unhas e dentes, reembolsando-se assim por sua própria inferioridade.
Querer é essencialmente sofrer, e como o viver é querer, toda a existência é essencialmente dor.
O sinal de uma cabeça eminente é resumir muitos pensamentos em poucas palavras.
A música é feita com a mesma substância da alma e ambas igualmente expressam a razão por trás da existência.
Depois de haver meditado longamente sobre a essência da música, recomendo o gozo dessa arte como a mais deliciosa de todas.
Se refletirmos sobre como a miséria e os infortúnios são geralmente necessários para a nossa libertação, reconheceremos que deveríamos invejar menos a felicidade do que a desgraça dos nossos semelhantes.
Quem se mata quer a vida, só se queixa das condições sob as quais ela se lhe oferece.
Gradualmente nos tornaremos indiferentes ao que se passa na mente de outras pessoas quando adquirirmos um conhecimento da natureza superficial de seus pensamentos, a estreiteza de seus pontos de vista e da quantidade de seus erros. (...) Aquele que dá muito valor às opiniões dos outros presta-lhes muita honra.
Não admite dúvida que é o conhecimento da morte e a consideração do sofrimento e da miséria da existência que dão o impulso mais forte ao pensamento filosófico e às interpretações metafísicas do mundo.
O Estado não é mais do que uma mordaça cujo fim é tornar inofensivo esse animal carnívoro que é o homem, e dar-lhe o aspecto de um herbívoro.