Poema Velhice
Cuidar de uma criança é melhorar a hipótese de ser bem cuidado, quando a idade te tornar novamente criança.
Envelhecer é a coisa mais poética do mundo: até os olhos ficam entre aspas. Deve ser porque entre a infância e a velhice há um instante chamado vida.
Feliz e sábio é aquele que vive a vida de tal forma que o passar dos anos não lhe tira outra coisa, senão o frescor da pele.
Esta palavra, “velha”, bem, deveriam inventar outra porque ela já vem contaminada de coisas como a decadência, a finitude. Os velhos são produtivos, apesar de terem uma sociedade que só cultua o novo.
Durante toda a minha vida fui ensinado a morrer, mas ninguém nunca me ensinou a envelhecer.
O tempo é mesmo fantástico...
Na infância usamos fraudas e as únicas necessidades é alimentação, proteção e afeto, o maior tempo passamos brincando, fazemos amigos de todas as classes e raças sem precisar dar nada em troca, são momentos preciosos pois é nessa inocência que podemos construir irmãos para uma vida.
Chega um tempo em que a liberdade se transforma no maior desejo, mas ninguém avisa que para possui-lá o preço é alto, e que para conquista-lá é necessário abdica-lá também. Ficamos adultos e passamos o maior tempo trabalhando e estudando para garantir a nossa própria sobrevivência e daqueles que um dia já garantiu a nossa também.
O tempo passa depressa e feliz daquele que o amor chega sem pedir licença e consegue uma morada, como toda árvore bem plantada bons frutos iram surgir, daí pra frente aquela liberdade que você tanto desejava se transforma na vontade de construir raízes para jamais de lá sair.
Chega o tempo em que as bagagens já estão grandes demais e o nosso desejo é desfazer as malas, chega o momento em que sabemos quem realmente sempre nos quis bem, pois é na nossa inutilidade que as pessoas somem, ou vêm.
Já não temos mais nada a oferecer, só o jeito de ser e viver, desejo que todos tenham alguém de quem possa ouvir um "Eu te amo". O que aprendemos com os anos? Que o importante é vivê-los, não tê-los.
Em meio a tantos rostos e fisionomias um semblante me chamou a atenção;
um idoso cheio de rugas, com pouca vida aparente e muita vida na memória.
Fitava-me com o olhar de criança sábia, a idade pesava no corpo mas aqueles olhos transpareciam juventude, olhar de quem é capaz de apreciar com muita calma a dimensão de um tempo ilusório.
A certeza da morte iminente só aumentava o tamanho de seus dias que eram lúcidos e intensos, ele vivia o presente de tal maneira que sua existência era plena e infinita a cada instante. Sua alma emanava energia branda, reflexo da leveza de uma consciência tranquila.
Os anos enalteceram sua sabedoria a tal ponto, que aquele senhor não precisou sussurrar nenhuma palavra, para me narrar toda a beleza de uma vida!
Acordei e vi
Todas estavam dormindo
Não que a noite tenha sido longa
Mas é feriado e podemos dormir mais
Só que agora eu tenho 18
Minha cabeça não parece a mesma
Meus pensamentos
Bagunçados
A loucura
Responsabilidade
Que eu, não tenho
No entanto elas dormem profundamente
Eu tiro uma foto
Pois um sono profundo é algo para ficar registrado
Sento na cama
Observo cada detalhe delas
Quando ficamos velhos pegamos essas manias né?!
Os cabelos loiros espalhadas sob o hipopótamo roxo que ela abraça
Os cabelos ruivos cobertos pelo edredom e em seu rosto um bico por conta da luz que entrava no quarto
Os cabelos castanhos presos em um coque e ela estava tranquila com um sorriso... Deve ser um sonho lindo
É engraçado
Uma tem 20, outra tem 22 e 17
Eu, tenho 18
Acordo cedo num feriado
Observo cada detalhe do que está ao meu redor
Elas dormem
Ontem foi meu aniversário
Meu coração pesado bate sem pressa
Parece que quer parar
Eu fiz 18
E finalmente entendi a música da Alessia Cara
“Agora eu desejaria poder congelar o tempo aos dezessete anos
Eu fui indo, eu fui crescendo
Eu sou uma sabe-tudo, eu não sei o suficiente
Veja, eu estava correndo e esperando o dia
Em que eu teria idade suficiente
Acho que vou ser paciente e acalmar meu ritmo
Tenho que me preparar para quando ficar difícil”
Porque eu só queria congelar nos meus 17 anos...
Eu quero acordar do seu lado toda manhã
Ouvir seu "Bom dia!", um café, croissant
Duas cópias da gente correndo no quintal
Os altos e baixos de todo casal
Eu quero nós dois bem juntinhos
Até ficar bem velhinhos, bengala e crochê
Até o final: eu e você
Sim:
Cabelos caem,
A pele se desprende,
aos poucos todos cansam...
Devagar, muitos se rendem...
— E Maria?
Lá... dobrando as vírgulas
de algum lugar.
Comete-se menos erros na maturidade não tanto por sabedoria, mas por um puta medo de aventurar-se.
LuDarpano
Assim, tão triste sem razão
Estou farta de mim
Eu maltrato meu coração
Ao sofrer pelo bem que eu tentei
Nem vi, todo mal que há em mim
Ao querer impor um fim
Ao meu Bel prazer
Fujo tão covarde do meu sonho
Com medo de me soltar
O que vão pensar de mim?
A verdade, é que eu não desisti
Ainda creio conseguir
Bem alto cantar pra Ti
E para mim
Pois sei, hoje estou a merecer
Por tudo que já lutei
Pelo amor que eu senti
Agora, é hora de lutar por mim
Pois eu vou chegar ao fim
Como a chuva que passou
As vidas, são luzinhas a piscar
Ao acender e apagar
Tão fugazes no além
Mesmo sendo somente um piscão
Brilhar sempre é minha ambição
Através da minha voz
Pelo bem e pelo mal que há em mim
Por tudo que eu sofri
Me rebaixando a solidão
Por não ter quem me escutar
Quem em mim a acreditar
Pelo que simplesmente sou
Um artista, como um Deus deve ser belo
Grandioso e eterno
Pra servir de inspiração
Agora, eu preciso de Você
Pois estou a envelhecer
Quem olhará uma murcha flor?
Se, eu não me dou descanso
É pois eu ainda sonho
Em cantar com o coração.
REFLEXOS
Ter no fundo dos pensamentos, vontade de ti.
Encontrar-te em mim continuamente. Sentir-te com pesar dentro do peito.
Ter vontade de te ter, delicadamente.
Procuro eu mesmo olhando nos teus olhos. Caindo neles e pedindo ajuda.
Encontro parte de mim, que lá deixei.
Encontro parte de mim, que doei a ti.
A imagem distorcida do meu rosto. A imagem distorcida do meu Eu
Verdadeira...
ou apenas reflexo do passado...?
Só envelhecem aqueles que sobrevivem os percalços da vida. Tal êxito nos proporcionam vivências, e o seu vasto legado de sabedoria. Mas ao mesmo tempo, nos vemos afastados da memória dos fatos que ocorreram num passado mais distante.
211124
Eu atravesso o mar
Pelas ruas da cidade
Sob os raios desse Sol
Curto minha mocidade
E quando entardecer
E a velhice acontecer
Ganharei longevidade
sem cena
quando menos se espera
o tempo nos aponta
fugaz foi a primavera
e damo-nos conta
sem que se queira
- ficamos velhos
sentados nesta cadeira
as dores nos dando relhos
a tempo sem eira nem beira
a solidão querendo ir e não vai
e a vida só de bobeira...
vai um
vai outro
um parente
aqueloutro
e de repente
vai a gente!
e a cena já era...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro de 2019
Cerrado goiano
Que mais alguém poderia escrever sobre o tempo?
Ora caminha a passos largos e ora caminha lento,
Num momento é silencioso e noutro barulhento,
Cura o amor perdido e apaga o encantamento,
Enruga a pele ,envelhece o corpo em movimento,
Mas dá sabedoria , generosidade, amor ao próximo
E maior beleza de todas : a que vem de dentro
Morreu enquanto ainda dava tempo
Desenristou a mão e encostou-a ligeira ao peito
como quem apalpa, apertando forte, uma banda de carne embalada à vácuo
dessas que ficam em prateleiras em balcões frigoríficos nos supermercados
Dedilhou o ar e esfregou os dedos uns nos outros para sentir se tato havia
e se fim dava àquela dormência que o acometia a mão esquerda.
Arranhou a pele umas duas ou três vezes
para ver se o sangue ainda corria pleno em suas veias
fazendo fértil o terreno de seu coração.
Fértil como aparenta estar a terra quando bem irrigada,
em uma bem cuidada plantação.
No caluniar da escuridão da morte parou, e se arrependeu de tudo!
Parou, por que não tinha como não parar.
Se seguisse em frente talvez lhe faltasse pernas para chegar.
Aos cento e quarenta e sete anos pediu, quase implorando, que o deixassem ali.
Apoiou a língua já quase sem movimento no chão da boca
e gritou de dentro pra fora bem alto:
- Todo mundo parado! Ninguém faz nada! Ninguém se mexe!
Ele parecia estar negociando com a vida e com a morte ao mesmo tempo
Ninguém interviu.
E antes que todos dessem conta, ele morreu, enquanto ainda dava tempo.
Sou Velho Sim
Sou velho sim! Que me importa todos esses anos de vida, as rugas que transcendem em meu rosto.
Sim! Sou um velho, meus movimentos são mais lentos e compassados, não tenho mais aquele vigor da juventude,
Sou velho sim! Envelhecer não é ruim, quando se pode olhar o passado com dignidade e orgulhar-se do presente sem se importar com o futuro.
Sim! Sou velho e já passei por todas as etapas da vida, hoje mais calejado pelos percalços da vida e ela muito me bateu.
E as batidas, forjaram-me o espirito, calejaram-me a alma e a vida ao rebimbar seu martelo marcou o compasso do tempo, o meu tempo que ainda não findou.
O mundo foi minha escola e a vida quem me ensinou, me diplomou com louvor o ser humano que sou.
Com muitos defeitos sem duvida, mais o tempo me lapidou, me fez brigar com o destino, pra chegar a onde estou.
Não sou nada reconheço, mais tenho o meu valor, o valor de ser humano que por essa terra passou.
Sou velho sim! Mais cronologia não conta quando o espirito se remoça, bebendo da fonte do saber e da verdade.
É! O tempo marcou-me o rosto, curvou-me o corpo, mais nunca dobrou o meu espirito, cada vinco no rosto são marcas do que passou, tirou-me a rigidez da juventude e jamais a jovialidade do meu ser.
Sou velho sim! Sou aquela criança que correu pelo tempo e se cansou e hoje ainda ofegante caminha colhendo dos frutos que plantou.