Poema sobre a Seca
Não...
Eu não sou uma árvore velha e seca...
Cuja morte me ronda...
Cerca e cumprimenta...
Posso não ter mais a beleza de outrora ...
Posso não mais ter o vigor de antigamente...
Porém, tenho comigo a vitória dos anos vividos...
Felizes...
Sofridos...
Histórias para contar...
Tanto para compartilhar...
Se assim desejar...
Muito disse sim...
Sem vontade de dizer...
Foi quando mais sofri...
Mais me anulei...
Em favor de alguém...
Quando aprendi a dizer não...
Incompreendido me tornei...
Desprezado...
Odiado...
Me calei...
Porém assim tem que ser...
Amar é doar...
Mas também é negar...
Tantas lágrimas caíram...
Tantas outras escondi...
Tantas, e muitas, ainda escondo...
Nem contigo...
Nem com ninguém...
Posso dividir...
Não me julgue...
Se pouco, ou nada, me compreende...
Aceite...
Meu jeito de ser...
Um pouco diferente...
De muita gente...
Que se vê por aí...
Sandro Paschoal Nogueira
Árvore seca...
De coração vazio...
Anos a fio...
Não tinha cor...
Não tinha amor...
O vácuo cada vez maior...
Raízes mortas...
Não mais florescia...
Sob um sol quente e árido...
Me contou sua história...
Foi semente...
Plantada com esmero...
Por um senhor...
Velada com carinho...
Cresceu...
Nas folhagens verdejantes...
Pássaros faziam seus ninhos...
Cantavam alegremente...
Retribuía com sombra...
Muitas flores ofertava...
Fronte de belas mulheres enfeitava...
Suas folhas eram remédio...
Doença ela curava...
Foi orgulho daquele senhor ...
Que um dia a plantou...
Seresteiros à sombra dela...
A todos encantou...
Conversas fiadas ouviu...
Pessoas que chegavam na cidade...
Um ou outro que já partiu...
O banquinho ao seu lado...
Foi ponto de encontro...
De amigos e de enamorados...
Quando o vento levou o senhor...
De tristeza a árvore chorou...
Me disse que se fechou no silêncio...
Que de saudades suas folhas cobriram o chão...
Não tinha mais forças para então florir...
Sua aurora tinha ido embora...
Sua madrugada chegara...
Sua hora findou...
Hoje...
Triste...
Seca...
Morta...
Ainda conta sua história...
Da saudade que ficou...
Do tempo que passou...
Sandro Paschoal Nogueira
Árvore, pata-de-vaca, branca, que meu pai plantou, em frente de minha casa.
Homenagem póstuma Scylla Dias Nogueira
— em Conservatória, Rio De Janeiro, Brazil.
Querido diário!
Hoje eu chorei todas as lágrimas que haviam em mim, ouso dizer que me sinto seca por dentro ( não e possível, eu sei ).
Sabe diário, chorar em silêncio olhando o mundo e quando alguém te olha apenas ver aquele lindo sorriso muito bem ensaiado, não sei se eu agradeço em pensamento ou desabo o pouco que me resta.
E frustrante seguir, e frustrante ver tantas coidss e me calar.
Confesso que a dor hoje e mais suportável, posso respeitar a distância e ele seguindo. No entanto não impede de que a cicatrização do meu peito queime a cada segundo nesse processo e dolorido. No entanto e necessário.
Desculpa por desabafar algo tão dolorido, eu apenas não tinha pra quem dizer.
Boa noite
Senhor, dai-nos o discernimento
para que possamos enfrentar
essa epidemia,
que seca nossa alma a cada dia.
Olhai Senhor, pelos que a doença não consegiu enfectar, e pelos que estão infectados.
Na Carroça de Senhorinha
"Na minha carroça carreguei água na seca e o meu trabalho para vender nas feiras toda semana.
Saía nessa carroça do sítio na madrugada, de Alagoas para Pernambuco, levava para vender o que podia produzir, agradecendo a Deus por ter saúde para trabalhar nas feiras e conseguir o meu sustento"
Senhorinha (1895-1986)
Ansiedade piorando,
o corpo denunciando,
só consigo ver o mundo girando.
A boca seca,
o que está acontecendo?
Respiração tão rápida,
quanto o coração batendo.
SECA CHEIA
Berra estridente o barulho das folhas
Que quebram tristes em meio à seca
Cá dentro o copo quase transborda
Inundação que afoga o sossego
Irrigai forças pra novas escolhas
Que transformem o sertão em charneca
Cultuai melhor a tua chalorda
Separando o joio e o apego!
o mandacaru amanheceu coberto de flor,
para avisar que a seca no sertão chegou,
o sol queimou a plantação do lavrador,
o camaleão se camuflou com medo do predador.
Quando a seca chega é para preparar o sertão
os ventos semeiam as sementes por todo chão
os raios clareiam o céu com o ronco do trovão
a chuva cai e faz a semente germinar e a vida brotar de baixo do cão.
Só depois que a fonte seca
se descobre o valor que a água tem.
No jardim do amor que é mal cuidado
as flores secam também.
Alvorada
Sou como a folha seca na estrada da vida
Uma gota suspensa sobre o fio do infinito.
Na alvorada do amanhecer.
Como a poesia que abrasa
Sobre um beijo ardente que passa
Sentinelas em versos ousados
Desejos que afloram...
Quando meu coração desperta
No amanhecer das madrugadas.
O que é o sol sem a lua
O que o calor sem o frio
O que seca sem chuva
O que é o amor sem ódio
O que a vida sem a morte
O que é a morte sem o medo de morre
O que e morre sem a vida
O que a noite sem o dia
O que é o desprezo sem a compreensão
Do ser o equilíbrio da vida ou da morte se pra ser feliz a morte está só esperando a hora dela ser feliz a hora de te levar ao
Infinito do inferno dá dó
Pense só na maravilhosa dor do ser que te empurra para o abismo sem fim da imensa dor do seu ser
DHP
Estrada de Chão
Quanto tempo eu andei tão só.
Garganta seca deixada pelo pó
De uma estrada toda esburacada.
Caminho que não me levava a nada,
Somente conflitos internos que espalhei
Junto das lágrimas que solitário chorei.
Contudo fizeram por fim nesta poeira,
E ver por momentos uma nova clareira
E o olhar conseguir assim se firmar
Na vida como percurso de leve caminhar.
Jorge Jacinto da Silva Junior
Segue na estrada do velho rei
a casca seca e dura
aguenta tiros a queima roupa
o calor aumenta e o barulho é grande
mas o ronco do motor acalma
na estrada da vida sou o caçador
e minha caça é o motivos de ainda está aqui
segue reto, não vejo o fim
o combustível acabou
abasteço com Gin
fecho a cara para intimidar
acendo um cigarro para acalmar
o ceifeiro me empresta o fogo
e diz para ir de vagar
na estrada do velho rei
não estou perdido
estou só de passeio
O nordestino é conhecido
pela fama de valente
com a seca tem sofrido
sem o grão de uma semente
mas ninguém tem desistido
e o pouco que tem colhido
vem da fé da nossa gente.
Sertanejo Guerreiro
Imensidão de terra, um punhado de coragem.
Terra seca, muito sol,
Terra árida regada pelo suor do trabalhador,
Calor que seca a esperança,
E faz brotar água nos olhos daqueles que vivem no Sertão.
Não falta coragem,
Porém sobra tristeza para aqueles que ali nasceram.
Vivem buscando maneiras de encontrar razões para ficar.
Coração cheio de incertezas do futuro, mas que não deixa de sonhar.
Maneira guerreira de levar a vida,
Sertanejo deixa no chão passos pesados, cansados,
Marcados pela rotina de sofrer.
Povo esquecido, sem direito, sem chão.
Maneira guerreira de lutar pela vida.
Carrega calos nas mãos, buscando na terra seca um punhado de ilusão.
Calor que seca a esperança
Que endurece o coração de quem ama o sertão!
As vezes por ouvir dizer
que essa terra é seca e quente
o cabra fala sem saber
zomba até do nosso oxente
mas quando vem conhecer
se encanta e quer viver
aqui bem pertinho da gente.
Eu não duvido da sorte
e nem desdenho o destino
a seca é a via da morte
onde nasceu Virgulino
a dor que pulsa do corte
faz cada dia mais forte
ser do sertão nordestino.
Quem sobrevive da enxada
encara a seca sem temer
não se entrega na pancada
não desiste de viver
se a cabeça tá abaixada
é por uma graça alcançada
que ele vem agradecer.
A seca tá braba e feia
já não tem mais plantação
vou viver em terra alheia
mas levo no coração
a vontade que me anseia
de fazer um pé de meia
pra voltar pro meu sertão.