Poema Margarida
Margaridas não tem espinhos.
Em nome de meu jardim, lhe declarei flor. Uma margarida, a sua favorita.
Aparei todas as ervas daninhas que se alastraram em seu arredor, reguei-a para que crescestes bela e saudável.
Você deixou com que eu escorresse lágrimas em suas pétalas, absorveu e mesmo com o gosto salgado fizestes delas uma dádiva.
Porém, mesmo com todo cuidado e carinho, no final, tu não pudeste pertencer ao meu jardim, não pode ser a minha flor.
Afinal de contas, margaridas não tem espinhos.
...
Iniciei desencarnado.
E encarnado.
Escolhi uma flor.
És Margarida.
O primeiro elo se fechou.
E o destino começou.
Na conexão de um cordão.
No poder do livre arbítrio.
Prossegui incorporado.
E decidido.
Escolhi mais uma flor.
És Girassol.
O segundo elo se fechou.
E o jardim angariou.
O branco, o amarelo.
E as bênçãos do Astro Rei.
Avancei encorajado.
E despreparado.
Busquei o meu caminho.
Esbarrei com alguns espinhos.
E concebi uma linda Prímula.
És minha primeira rosa.
Mas meu terceiro elo se quebrou.
E o jardim virou saudade
Melancolia e pétalas de lembrança.
Resisti entorpecido.
E aliviado.
Conheci mais uma flor.
És orquídea.
O meu sonho restaurou.
Atravessei o mar com ela.
E o quarto elo se fechou.
És mulher.
Seja ela qual flor.
Margarida Alves
A minha marcha é
a marcha da memória
por Margarida Alves
a inesquecível heroína,
A minha marcha é
a marcha da poesia
almenara, reunida
e inevitável com a sublime
Marcha das Margaridas
persistente por melhores
e mais justos dias.
MARGARIDAS & GIRASSÓIS
Quando criança
Por várias vezes acariciei margaridas
Tentava consolá-las por nunca se transformarem em girassóis
Os dedinhos infantis alisava as pétalas como se elas sonhassem
Nunca contei que girassóis não são margaridas crescidas
Tentava fazê-las se sentir queridas
E entender que eram lindas
Singelas assim
Só por serem elas
Quando criança
Eu pensava que cuidava das margaridas
Agora sei
As margaridas cuidaram de mim.
A caatinga é uma bela dormecida.
Na seca dorme profundamente.
No inverno acorda para revelar toda sua beleza cênica.
Aqui neste lugar distante a noite cobriu com seu manto escuro as ruas da cidade.
E eu, no desejo de encontrar o lugar onde todos sofrem, percorri ruas, vielas e alamedas para te levar algum conforto.
Seus dias e os meus deslumbravam-se em meus pensamentos.
Sorrisos, prazeres e até aquela sensação gostosa de saber que você gostava de mim foram aos poucos tomando-me até brotarem as lágrimas pela proximidade da despedida.
Que sua alma seja confortada no além, aqui fica alguém que sempre te quis bem e sempre te amou.
Ofereço a minha tia Margarida.
Bem me quer...
Te peço: cuida do jardim,
Não deixe as plantas morrerem,
As flores perecerem,
Sem o toque carinhoso costumeiro;
Corte uma flor de Margarida,
Coloque em seus cabelos,
E com esse jeito trigueiro,
Com um sorriso faceiro,
Em mim comece a pensar;
E quando as pétalas for tirar,
Pra ver se gosto de você,
Eu vou te prometer:
Irei, com fé, rezar,
Pedindo, se Deus quiser,
Pra quando a última pétala arrancar,
Em suas mãos, trêmulas, sobrar:
Bem me quer.
Só ela
Tão bela,as vezes fera
Sem querer,deixa de fazer
ou faz algo não muito bom
que maltrata meu coração
Um jeito leve e sereno
Como uma pétala de margarida
Tão criança como Emília
Mas tão madura quanto Meireles
Um carinho fofinho
Um ciúme doentio,mas até esqueço
Quando ganho mil beijinhos.
Minha simples violeta em diversos corações, sutil, linda e delicada; quando tu irás florir, qual será a sua cor? Violeta, lilás, branca, multicores.
Não importa violeta qual será a sua cor, em todas haverá brilho. Até a mesa do imperador por ti será enfeitada. Das suas pétalas extrai o mais suave perfume das suas folhas também, com notas de relva fresca.
Não importa Violeta, Rosa ou Margarida... Basta ser mulher!
Nesse pequeno cordel
Cravo e rosa não brigaram
Numa grande primavera
Outras flores se juntaram
Lírio, lótus e bromélia
Margarida e camélia
No campo elas brilharam
Amanhecer
Das auroras do amor
Você é a personificação da luz
Os primeiros raios se acendem quando estás a sorrir
Tudo cria forma ao seu entorno
As rosas do jardim se enrubescem ao ver tanta graciosidade
As margaridas, atônitas, branqueiam suas pétalas pois, de onde vem tanta beleza?
Os pássaros gorjeiam como trombetas em tempos de bodas
As nuvens no céu dançam felizes
O vento passeia, sussurrando brisa em dias quentes.
Ao raiar da manhã, os céus se vestem de ti
És o luar matutino, onde a lua não quer se pôr só para te contemplar
O azul do céu se mistura com o verde da relva
Ai dos sândalos que cruzam seus caminhos
Amanheceu...
Margarida era do tipo que não gostava de receber flores, queria mesmo era receber sementes. Margarida achava mais romântico ver algo nascer, florescer do que murchar rapidamente
Gosto do cheiro da chuva, gosto do amarelo e do branco da margarida, gosto de ler de madrugada e gosto de olhar o brilho das estrelas na madrugada.
Ao primeiro toque do sol a manhã desabrocha em cores. Serena como uma margarida orvalhada pelo prateado da lua vai despetalando as horas lentamente e, nessa inocente brincadeira de bem-me-quer espalha o perfume da eternidade nos canteiros floridos do dia.
Margarida só quer alguém que queira ela na mesma proporção, ela insiste na reciprocidade. Margarida floresceu e acha que merece alguém por inteiro.
Chorei três dias e três noites. Vó Margarida enchia meus ouvidos de algodão. O quarto era infinitamente escuro e frio e eu usava carapuça de babadinhos. Mas não durei mais do que sete dias. Mãe Rosa chorou uma lágrima meio azul, comeu uma pratada de sopa de galinha, roeu bem os ossinhos e dormiu um dia e uma noite. Então me colocaram numa caixa de sapatos, vestidinha de anjo. Enterraram-me no fundo do quintal." (Estranhos na noite, romance, 1988)
Sou como uma margarida, tenho muitas pétalas mas as que caíram não podem ser vistas, por isso achas que não possuo dor.