Poema do Nordeste
"O Quinze apresenta as consequências devastadoras da grande seca de 1915 no Nordeste do Brasil, onde a resiliência e resistência do povo nordestino se erguem como um testemunho da luta incansável contra as adversidades impostas pela natureza e a negligência do governo."
(PAULA, Vitor Ferreira de. "O quinze?" Campo Grande: Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, 2024, p.01)
O Nordeste tem um feitiço
Que mexe com o meu juízo
Não penso em outra coisa
Eu vou para João Pessoa
Você não apareceu à toa
Vou te amar de um jeito
Gonzaguianamente especial
Porque com ele eu aprendi
Que posso ir além do xote
E do xeiro no cangote
Posso te furtar um beijo
E aumentar o teu desejo
Só quero, só penso, não nego
Que quero o teu beijo roubar
Sonho com os olhos abertos
Rezo com os olhos fechados
Estou querendo te namorar
Vou te amar arretadamente
Que só a sanfona dá conta
Do nosso forró especialmente
Que vai além da mente
Sacodindo o corpo e o coração
Capaz de fazer chover no Sertão
E inundar o mundo inteiro com paixão
Os nordestinos
são tão povo
brasileiro quanto eu,
a voz que o Nordeste
me dá nenhum ninguém
nesta vida me deu.
Nem mesmo
nascendo de novo
o insatisfeito que atentar
contra os laços de afeto
haverá de prosperar.
O Nordeste é bastião
da Cultura, do espírito
pátrio sobrevivente,
da poesia e da nossa gente.
Ciranda do Nordeste
Deixando-me levar pela música,
poesia e dança de roda
da Ciranda do Nordeste
até a viração da noite
para a madrugada ainda busco
ser amada nesta Zona da Mata
pedindo à Nossa Senhora
que me traga um bom marido
seja caixeiro ou vaqueiro
e que queira viver bem comigo
neste mundo que não tem
o luxo de ser como Pernambuco
que faz fez para tudo
cantando e fazendo roda de Ciranda
para superar e agradecer ao Criador.
Não existe nada
mais sublime e que
una o Sul e o Nordeste
do que uma boa Sanfona
tocando o Baião que sabe
como colocar para dançar
e do coração tomar conta,
De Baião em Baião
a gente sempre se encontra.
Dancei Arara no Norte,
no Nordeste e no Sudeste,
Troquei de par e já fiz par
com o homem do bastão,
Arara por muitos olvidada
que me faz ainda dizer
para o meu próprio coração
que só falta você ser o meu
par com todo amor e paixão.
A ESTAÇÃO
Estação de Cabo Branco
Niemeyer projetou
Fica em João Pessoa
Paraíba conquistou
É um palco da ciência
E também pra ter vivência
De um tempo que amou
Se o sorriso sumir
E a esperança esmorecer
Se o sol bater 40°
E o suor me descer
Se a labuta de hoje
Amanhã eu não puder colher
Se a chuva não vier
E a colheita definhar
Se os pássaros não voarem
Se a flor não desabrochar
Se o meu sangue precisar cair
Se a comida na mesa faltar
Se meu nome não puder dizer
Se minha voz eu tenha que calar
Em meio a tudo isso
A Asa Branca cantará
Quero que o mundo saiba
Que o Nordeste é o meu lugar
O sertão pede socorro. E seu grito ecoa esquecido, abafado, ignorado pela imensidão de preconceito e descriminação.
A verdade é que somos retirantes em pleno século XXI. Fugindo dos mesmos problemas, convivendo com as mesmas situações, alimentando os mesmos ideais de sempre, sem nunca resolver o que realmente precisa no sertão: a fome educacional.
Os problemas do Sertão todos nós já estamos acostumados a enfrentar, já não nos assustam mais. O que mais dói é perceber que esses problemas ainda persistem, se renovam e se fortalecem, mesmo com a modernidade de nossos tempos atuais.
Certo especialista falando que a sujeira que as pessoas jogam no mar, afeta muito mais do que o petróleo vazado no nordeste brasileiro. Pelo o que eu vejo, dependendo de alguns o mar vira petróleo.
É assim no sertão.
Aonde a seca maltrata
o linho não é páreo pro couro
pão é mais caro que prata
água vale mais do que ouro
macambira é melhor do que nata
jumento é mais forte que touro.
Se quero me sentir na Califórnia, vou ao Rio.
Visitar os EUA? Vou a São Paulo.
Me sentir no Caribe? Vou ao Nordeste.
Para aproveitar a Europa? Vou ao sul.
Mas quando quero me sentir no Brasil?
Venho direto para Minas Gerais...
OLHAR
Todo amor é infinito
se é por Deus abençoado
não tem coração aflito
que se sinta machucado
não tem nada mais bonito
que um olhar apaixonado.
Caatinga espinhenta
Que arrebata o obstinado espírito
Do vaqueiro empinado de olhar empírito
Aboiando triste o magrelo barbatão
Caatinga malvada
Que açoita o espinhaço calejado
Do caboclo obstinado
Em morrer pelo seu mórbido sertão
Caatinga bravia
Que o tempo e a vida desafia
Impávida de decadente e ousada teimosia
Que não morre pela falta d'água fria
E nem se entrega ao sol ardente do meio dia
Caatinga sem noção
Que fura o olho do desavisado
E enlaça o valente de coração apaixonado
Com tamanho luar que atenua a valentia sem razão
Caatinga desalmada
Que abriga a alma perdida na desolação
E oculta o mistério do espectro fujão
Extinto da incrédula civilização
Caatinga estranha
De morredouro existir
Que ora parece deixar de viver
E de súbito volta a reluzir
NOSSA TERRA!
Somos a terra do oxente
onde o sol é mais brilhante
cada amigo é um parente
e todo mundo é importante
venha e chegue de repente
que o nordeste é lugar quente
mas a água é refrescante.
UM A UM.
Na vida ninguém é santo
eu não sou santo também
o preconceito é o espanto
de quem não se enxerga bem
mas uma coisa eu garanto
que cada qual no seu canto
ninguém é melhor que ninguém.