Poema Concreto
Eu realmente te amo.
E sim o meu maior desejo é construir algo concreto do seu lado.
Entretanto, fui lembrado hoje que não existe esperança para nós.
Provavelmente ficarei bem.
Mas uma parte de mim, sempre ficará presa no e se...
Mesmo longe, te sinto perto,
Nossa amizade vai além do concreto,
Amizade não se mede pela presença,
Mas sim pelo valor da essência,
E mesmo separados pela distância,
Nosso laço é firme, feito de esperança.
TRISTEZA MARAVILHOSA
.
.
Rio de Janeiro,
sob teu corpo de concreto
teu santo padroeiro
dorme, como um feto.
.
Ainda não nasceu, teu santo,
ainda é cedo para o milagre;
e a lágrima doce do teu pranto
não é vinho, é só vinagre.
.
Baía de Guanabara,
como mente o teu postal.
Vejo fome em pau-de-arara
sob a camada social.
.
Queria entender teu segredo,
tua miséria, tua mentira;
mas o que vejo é o degredo
que escapa da tua mira.
.
Seres humanos migratórios
compelidos à mudança
cujos mortos compulsórios
são produtos da esperança.
.
Rio, Deus te abençoe,
e do alto do Corcovado
em pedra o Cristo nos perdoe
por teu índio dizimado.
.
Cidade Maravilhosa,
herança dos guaranis...
na tua culpa misteriosa
guarda a lembrança dos brasis.
.
Rio, cidade poesia,
olha teu negro na construção;
não lhe conceda alforria:
tu és a própria escravidão.
.
Rio, alguém que tardia
espreita em teu carnaval;
sobre a tua fantasia
jaz a beleza de um postal.
.
Rio de Janeiro,
teu caminho não é reto;
ao sul do teu cruzeiro,
um voto vira um veto.
.
Ainda não nasceu teu quebranto,
ainda é cedo para o céu;
e a cachaça do pai de santo,
não é néctar, é só mel.
.
.
[BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Insurgência, 2023]
Na calçada onde o concreto se racha,
Sob passos apressados, vejo figuras:
Mendigos, esses monumentos esculpidos pela dor e pelo abandono,
Partes da paisagem, sombras de aversas.
Estátuas esquecidas em praças que ignoramos,
Com rostos e histórias, mas nós, indiferentes,
Passamos como se o tempo não os reclamasse,
Mergulhando na rotina, nas horas lentas.
Hoje me interrogo: o que é ser visível?
A roupa que visto, o bem que acumulo,
É só camuflagem, armadura que me isola.
Sob essa fachada, frágil e cativa,
Sinto a tênue linha entre ser e não ser. Vida miserável...
Eu, que me nomeio alguém, sou apenas um rosto entre muitas máscaras,
Um nome sem significado na memória do mundo.
Se eu me apagasse, quantos chorariam a ausência?
A vida seguiria, indiferente às minhas lutas.
Um mendigo cai, e a rua devora o corpo,
Com a mesma indiferença que o ignorou em vida.
Passam as gentes, a calçada permanece,
E a vida avança, sem pausas, sem lamentos.
A invisibilidade é pena pesada;
E eu, tão próximo desse triste destino,
Percebo que o meu endereço é só um nome,
Uma casa, talvez, mas não um lar.
Fernando disse sabiamente: “Hoje não há mendigo que eu não inveje,
Só por não ser eu.” Na imensidão citadina,
Todos somos mendigos, de afeto, de memória, de um sentido,
Buscando ser vistos, mesmo que por um breve instante,
Nessa profunda solidão que é viver.
Transitando entre o concreto e o incerto,
Dou adjetivos às coisas que desconheço,
O que há de ser absoluto, se a arte da vida é recomeço?
Interminável Poema Concreto
O Pico do Montanhão
é o meu interminável
poema concreto
que concede encontrar
inumeráveis inspirações
para inspirar muitos
outros corações
que não tem acesso
a este privilégio
todas as vezes que abre
as portas e as janelas
num mundo que prefere
viver cercado por cimento.
AS PEDRAS
O pedreiro saiu à procura de pedras da mente,
Entrou no mundo de concreto, na selva demente,
Pedras querem ficar só, sem amalgamas que as une,
Sem juiz ou leis que maldosamente às pune.
Raízes de concreto
um azul de inundar areias
de expor um mar de sombras
de dizer que legal
é verão
e muitos verão, o que os homens fizeram
por ganância, inteligência ou estupidez...
O pensamento acena
Para o nosso caminho,
As palavras se tornam
O concreto destino.
A escolha nossa deve ser
Pela poesia do encontro
Em nome da reconciliação,
Ao prisioneiro mais antigo
A esperada libertação.
O sonho de liberdade
Não pode ser pela metade,
Da mesma forma que não
Se divide o bem amado,
No verso mirandino gritado
Pelo herói é a esperança
De um futuro resgatado.
Porque escrevo não para brigar,
mas para abrir os olhos...
...
Quando o abstrato.
Acomete o concreto.
Sábios se alfabetizam.
Velhos rejuvenizam.
Razão vira emoção.
Sensação de poder.
Transgressão do saber.
Escuridão vira clarão.
Vulgarizamos o ter.
Vangloriamos o ser.
Trancendemos o chão.
Receio vira anseio.
Meio vira cheio.
Azarão vira alazão.
SUBJETIVISMO
Nada fora concreto, somos um eterno subjetivismo. Do que se prece voltar e andar em círculos? Sabes bem que está nítido para o mundo que somos dois loucos, cada um vivendo sua história de fantasia, algo que a voz nunca materializou, mas que o peito adentrando o coração, já sentiu. Esse é o preço que se paga por uma visão turva, por agir como máquina, não sabendo o que quer, na verdade, pois se ninguém fala, ninguém sabe, se ninguém se entrega, hão de ser, um eterno subjetivismo.
A vida é a oportunidade de estarmos
De fazermos e criarmos
É a chance se fazer concreto
O que sua alma pede
Palavrartes
A palavra tem poder!
É um tiro concreto de
Invenções ao tempo:
artes, ecos, códigos,
comunicações, risos,
rimas, poesia, povo, pão...
Vida, elementar!
Terra, fogo, águas,
ar, conquistas,
alegrias,tristezas, perdas,
lágrimas... fome e morte!
Palavra'rt's
A palavra tem poder!
É um tiro concreto de
invenções ao tempo:
ruídos, artes, ecos, códigos,
comunicações, alegrias, risos, cânticos, rimas, amor, poesia e prosa... circo, povo e pão...
Vida, elementar!
Terra, fogo, água,
ar, religação, respiração, domínio, conquistas, imposição, submissão, dor,perdas... lágrimas, fome e morte!
Solitária na floresta de concreto e aço
Então veja, olha outra vez o rosto na multidão
A multidão é um monstro, sem rosto e coração...
Hey, São Paulo, Terra de arranha-céu,
A garoa rasga a carne, é a Torre de Babel,
Família brasileira, dois contra o mundo,
nada é concreto
tudo é tijolo
tudo é parte
soma
paredes e pontes
que erguem-se e se desfaz
hoje somos sólidos
amanhã seremos líquidos
e logo gasosos feito pó
somos construções
em constantes demolições
emoções e razões
cimentadas em dissoluções
hoje estamos
logo, fomos
↠ Outrem ego ↞
Almejas um machado
sair do concreto, entrar no abstrato,
criar o cabo como cajado
gerar a lâmina, o corte afiado,
retalhar a lembrança daquele passado…
o qual insiste estar ao teu lado,
suprimes a memória do autorretrato.
Relacionamento aberto
não tem nada a ver com
ser relacionamento concreto,
Se não houver amor não vale
a pena insistir em permanecer.
Se o amor não for o universo
suficiente para nos caber,
não vale a pena nem mesmo
começar e tampouco ser.