Pássaro Cativo
A cada dia que passa eu me fecho dentro de mim como um pássaro preso na gaiola. Gostaria de voar mas minhas asas foram cortadas e eu jogado num calabouço. Assim somos nós quando nos trancamos dentro de nós mesmos e sufocamos nossos sonhos...
Pedir amor próprio para um apaixonado e a mesma coisa que pedir para um pássaro preso de gaiola aberta para ficar...
Ambas nao vão te ouvir
O alpiste com que alimentamos o pássaro preso na gaiola é como que fosse o pagamento pela renúncia da sua liberdade submetido à humilhação do cativeiro, mas que nada o compensa, pois ele já tem o campo como morada e o céu sem limite de espaço para voar.
Há um modo profundo de se ser que fica vivo por baixo de todos os vernizes que nos aplicaram e que nos impede de avançar pelo caminho mais curto já desbravado, balizado e pavimentado?
Há coisas que nos trazem boas e ruins recordações pelos insondáveis caminhos que provocam uma forte inquietação nos alicerces dos nossos sentimentos, estimulando-nos o plasma do delírio, no sentido de tudo querer dizer, ficando tais sensações desses tempos vividos e sentidos em nossas vidas.
Podem me chamar de ingênuo, mas é assim que imagino o meu jardim cultivado de flores raras: quanto mais colorido e perfumado, mais belo será o mundo em que vivemos. E é através da simplicidade que conseguimos o belo que nos enche os olhos e nos leva ao enlevo da vida.
Às vezes, decidimos embalados pelo aplauso alheio e não convictos de que conhecemos o templo da nossa alma, o museu de nossos sentimentos, agindo por emoções de nossas verdades que se escondem por detrás da porta cerrada, muitas vezes sobre os sacrifícios dos mais fracos, vantagem que não nos vale a pena usufruí-la quando obtemos.
Sempre lembro de um pássaro preso em uma gaiola. Sua vida se resumia a ficar pulando de um poleiro a outro, vai e vem, vem e vai sem parar. De vez em quando apanhava com o bico um grão de alpiste, ou seja o que for que tivesse para se alimentar. Bebia um golinho de água e voltava ao seu eterno vai e vem até que já cansado ficava bem quietinho em um dos poleiros.
Todas as vezes que seu dono apontava ao longe, erguia a cabecinha e começava a cantar, seu canto era belo e melodioso, lindo demais.
Ficava ouvindo e tentando decifrar o significado de seu canto, era a alegria de ver seu dono que o inspirava?
Podia ser, mas enquanto o ouvia encantado eu tinha um pensamento estranho, será que seu canto não podia ser bem mais do que aparentava ser? Podia ser um triste gemido, um pedido de soltura, uma suplica pela liberdade cantada em verso e prosa... e em sendo assim a sábia mãe natureza embora com muita ironia transformou tristes lamentos em maviosos acordes e notas musicais belas e afinadas, com certeza, para que todos que ouviam ou ouvissem aquele canto pensassem: - Vejam como ele é feliz, como canta bonito, que melodia mais bela. Pior de tudo é que penso em quantas pessoas vivem assim, aprisionadas porém em prisões sem grades, mas com claras delimitações, vão e vem mas nunca podem ultrapassar os limites a eles impostos, para outros cantam e gorjeiam e as vezes até discursos de serem livres fazem, mas no fundo, são tais quais àquele pássaro.
Os pássaros e as pessoas que estão em cativeiros de todos os tipos, acostumados a sua prisão, se conformam e se submetem a tudo porque acham que se forem soltos ou mesmo se vierem a dar seu grito de liberdade e efetivamente se libertar, não mais saberiam se defender pois há muito tempo estão presos, sonham com a liberdade, mas esta para eles é como um sonho distante.
Mal sabem essas pessoas, que, ao contrário do pobre pássaro, se quiserem mesmo transformar suas vidas e se livrar das amarras que de alguma forma lhes foram impostas ou que elas próprias se impuseram, jamais nosso criador os abandonaria.
Mas é preciso mais do que fé, é preciso coragem, é preciso orar, mas só isso não basta, tem que orar, mas também tem que agir.
A inteligência é pré-determinada.
O conhecimento adquirido.
Mas o homem sem sabedoria é como um pássaro preso e domesticado.