Pano
"O escrúpulo exagerado tem sempre como pano de fundo um ideal de perfeição irrealizável. A pessoa propõe a si mesma uma meta sublime, um projeto que, na prática, não pode efetivar-se e acaba por sucumbir ao sentimento de inferioridade, a cada derrota que a vida lhe impõe. Daí ao estado de tristeza patológica, chamado por alguns de “depressão”, é um pulo.
Esta espiral psíquica descendente pode acarretar um sem-número de dramas humanos, quer por carência, quer por excesso de força vital do indivíduo chegado a tão triste situação: da psicopatia astênica, muito semelhante à realidade que os medievais chamavam de “pusilanimidade”, àquilo a que Adler deu o nome de “ideal de divindade”, atitude para Santo Tomás de Aquino muito próxima à da soberba. Neste último caso, o sujeito se propõe objetivos que, a cumprirem-se, fariam dele uma espécie de semideus virtuosíssimo. Como isto é impossível, para evitar a frustração ele hipertrofia os próprios méritos – consciente ou subconscientemente – e vive de alimentar a auto-estima com mentiras.
O mencionado Adler dizia, num acerto notável, que a ambição desmedida é própria das personalidades neuróticas, atormentadas por não atingirem a perfeição com os seus próprios esforços. Se se trata de ambição espiritual, a coisa acaba por ganhar configuração macabra.
Senso de realismo e um pouco de sã modéstia nas metas de vida; eis, aqui, o primeiro passo para uma pessoa não viver neuroticamente".
"O escrúpulo exagerado tem como pano de fundo um ideal de perfeição irrealizável – o que é soberba".
"A vida é como uma colcha de retalhos, cada dia representa um pedaço de pano, costurado de acordo com nosso humor, seja nos momentos de prosa, em uma alegre roda de amigos ou encontro com familiares, seja nos momentos de tristeza e solidão, quando estamos sós, tendo como companhia apenas nossa própria consciência.
Com o passer do tempo, pouco a pouco os pedaços de trapos vão tomando forma, tecidos de diversas cores, texturas e tramas são costurados, um a um, alguns são ricamente adornados e geometricamente perfeitos, outros são simples e despojados. Mas todos são alinhavados e costurados entre si com muito carinho e bom gosto, sejam estampas lisas ou com figuras de diversas formas e matizes.
É chegada a hora da partida, a colcha finalmente toma sua forma definitiva, ou quase isso, representa um mosaico multicolorido, um caleidoscópio dos diversos momentos de nossa existência, um pouco do que fomos, um pouco do que somos, nossos sonhos, desejos, utopias e realizações, reproduzindo a essência d`alma no dia-a-dia de nossa existência."
Bumba Meu Boi
O Bumba Meu Boi gaúcho
é feito de pano e armação de ferro,
ele chega com os tropeiros
para dançar na rua com a gente
e não há quem fique descontente.
Ah! Meu Bumba, meu Boizinho
e meu querido Boi-Mamão,
só quero que você diga
para ele que falta bem pouco
para ganhar o meu coração.
O Bumba Meu Boi gaúcho
é a própria alegria quando
dança nesta terra e não há luxo
que contagie mais do que
a beleza poética desta festa.
Ah! O meu Bumba Meu Boi
vai dançar no meu casamento
porque ele sabe o quanto tenho
esperado por este lindo momento
que não haverá mais adiamento.
A minha boneca
de Salvador
veste traje típico
com pano da Costa,
Memória de infância
amorosa deste tempo
que não volta,
E não há nada que
nos impeça de fazer
o caminho de volta,
A vontade abre
mais de uma porta
muito além
do que se imagina...
Antigamente eu tinha um teatro: bonecos de pano presos por cordões pulavam minha cama controlados por meus dedos. Riam, choravam e até sofriam porque eu lhes dava movimento e alma. E, aos olhos de todos, eu era um grande artista. Aplaudiam-me. Um dia, não sei como explicar, dei alma demais a uma boneca miudinha que puxou os cordões de baixo para cima e passou a guiar meus instintos, meu cérebro. Com o tempo, empolgou também a minha alma. Hoje, no teatro da vida, sou um boneco de carne e osso controlado por uma boneca de sete aninhos que dirige agora minha vontade e já já a própria vida.
“Juntei os retalhos de pano, guardei junto as minhas costuras e um certo dia costurei à mão cada tecido. São bonecas de pano que vou guardar com muito carinho.”
Toinha Vicentina
Flores de pano jamais devem ser regadas com lágrimas copiosas; sem nunca ter acesso a um jardim real, perpétuo, extremamente florido.
Muitas vezes o sorriso é somente o pano de fundo para dissimular o que de ruim trazemos nas intenções.
QUANDO O CIRCO SE VAI...
Quando o circo se vai,
tudo parece parar no tempo,
é como o pano que cai
no palco e por um momento
encerra tal espetáculo,
dissipando sonhos e ilusões:
esvazia o receptáculo
dos nossos álacres corações.
Quando o circo se vai,
deixa um rastro de saudade;
é o vácuo que não sai
da alma e aflige, na verdade,
saber que uma mágoa
chora no peito bem sentida:
é como a gota d’água
que não cicatriza uma ferida.
Quando o circo se vai,
deixa tristeza e tudo fica frio,
é a beleza que se esvai
dos olhos, tudo parece vazio,
a alegria já desaparece
como uma correnteza no rio:
varre a alma e esvaece
o riso ao naufragar do navio.
Do seu Livro "Sua Majestade, o Circo Lírico" - 2018
As vertentes opostas são realidades
Do que é santo e profano.
A escolha do tecido o pano.
A agulha que costura também fere.
O sistema é livre e é você que adere.
O ciclo de manias, artes e partes.
O insensato chuta o inocente.
O hipócrita veste de crente.
Nem queria falar dos bichos soltos.
A Amazônia presidiária.
Os grileiros das prefeituras.
Eu vou além de uma classe desmerecida.
A desigualdade, a luta corrompida.
O teto político volátil.
Não sou eu que denomina.
É a classe que se auto predomina.
É tanto desmantelo nos escombros.
O caixa brasileiro um arrombo.
O povo que sente, o povo que mente, o povo demente.
Sou parte desse jogo, também já compactuei com indolente.
É uma teia, arapuca, rede armada.
A pescaria é desumana.
Estupro da terra que emana.
O leite, o mel, o céu.
Pela preferência de uma sociedade de fel.
Onde estão o critério.
O inocente e culpado.
A escolha, gritar ou ficar calado.
Giovane Silva Santos
"Infelizmente o mundo mantém um pano longo e negro sobre muitas pessoas que não procuram saber por quê."
"Bonecas de pano que mostram a alegria e o afeto que existe no brincar de uma criança”
Toinha Vicentina (1911-1998)
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