Não Fique Triste por eu não estar aqui
É tão triste ver alguém sofrendo por estar com a pessoa errada ou por desejar estar com a pessoa errada.
CERRADO ERUDITO
Andei sobre o cerrado
Como os bandeirantes
Tão triste desmatado
Fui as lágrimas soluçantes
Fui por ele calado
Um dia cerrado, gigantes
No seu torto encantado
Só para me recordar
E não pude fascinar
Fiz uma poesia
Como poeta do cerrado
Soltei brados de fantasia
Pra tê-lo do meu lado
Mas a lembrança esvaia
Pelo axioma empoeirado
Neste preço tão alto
Do belo desnudado
E então, como Cora Coralina
Eu cantei versos ao luar
Neste chão, e céu anilina
Pra a sedução fascinar
Aí, me curvei
Chorei... Ante a força do sertão
Até quando este estado?
Surrado. Resiste a civilização
Ainda andei sobre o cerrado (...)
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
01 de abril de 2018
Domingo de Páscoa
Paráfrase Paulo Vanzolini
SONETO TRISTE
Hoje acordei com meu verso triste
Escorrendo pelo papel só inclinação
Cabisbaixa a inspiração e, pelo chão
Querendo lira na sorte que não existe
Pois, cada cisma, na cisma consiste
E o prazenteiro é em vão, e assim são:
Desferrolha fagulhas infeliz do coração
Petrechando a consternação em riste
As minhas angústias querem expansão
Minha dor, está ali sozinha, é imensidão
Tão calada, não entenderão o que sente
Aí quem me dera, não a ter! Pois então?
A tenho!... E pouco cabe na solidão...
Quando caberia aqui: - verso contente!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Janeiro, 2017, 05'55"
Cerrado goiano
A UM TRISTE (soneto)
O meu destino é talvez a do azar
Jurando as venturas... de maneira
Que com o acaso se possa sonhar.
Vidas de má sorte várias, herdeira!
Outros êxitos talvez já pude gastar
Fui, um aventureiro na tranqueira
Do fado. E infausto agora a chorar
Ou pesado no sortilégio, na beira...
É brado num temor sem tamanho
Num luto da felicidade: permitidos
Mártir na dor, um desígnio estranho
Por isso, lamento aflição e pranto
Sentimentos dos heróis vencidos.
E com a alma cartada no recanto...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro, 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
ÉS O CERRADO COM UM LAMENTO TRISTE (soneto)
És o cerrado com um lamento triste
escorre o entardecer na melancolia
e tua alma bela no encanto insiste
na ilusão tens uma banzar alegria
se o gemido dos sons angustiados
e desafinados, tonteia o teu ouvido
toque com os olhos os feitiços alados
deixes o prazer, então, ser nascido
Vê que o diverso há sedução, também,
e ambos se fazem de encantamento
num ordenamento de bem e paz
que todos, num, são congraçamento
É música sem letra, e afoito audaz
uníssono: do feio e do belo vai bem além
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
fevereiro de 2019
cerrado goiano
Sorriso
Sorriso pinta a tua dor
Da cor que se desejar
É ofertar com uma flor
O triste pra se alegrar
Sorriso abrevia o vazio
Se nada mais restar
Sorria um mirar macio
Aprazendo o alheio olhar
Sorriso traz à vida luz
E aos dias só encanto
Sorria para a sua cruz
Sorria pro seu pranto
E assim sorrindo, amar
Num teatro fulgente
A maioria irá pensar
Que és um ser contente
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
Abril, 2016 – cerrado goiano
Ir-se
Escandalizo a tal sorte
Afetação cruel e triste
Espera, alma e morte
Do gabo nada existe
Mesmice reescrevo
E o passo aí, passa
Na saudade relevo
Nos olhos fumaça
Nasci pra renascer
Das cinzas ressurgir
Morro e tento viver
Afeito. Outro partir!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2017, maio
Cerrado goiano
Quão triste seria, se alguém pudesse vir ao mundo e voltar, sem ao menos conhecer a diarreia. Isso lhe permitiria voltar calçando as sandálias da arrogância.
Ninguém é alegre ou triste o tempo todo.
Há os que fingem ser feliz o tempo todo, por puro prazer em enganar a tristeza.
É muito triste quando vendemos o nosso tempo e a nossa vida fazendo o que não gostamos para ter dinheiro para comprar coisas que compensem essa falta. Eu já fiz isso um dia e vejo 99% das pessoas fazendo e sendo muito infelizes.
Não seria mais sensato ignorarmos o pensamento de massa, as "dicas furadas" apesar de bem intencionadas e fazermos logo o que gostamos, mesmo que tenhamos que recomeçar em uma condição mais simples e humilde?
O amor pelo que você faz sempre nutre, sustenta e recompensa.
TRISTURA (soneto)
Triste é redigir a poesia, com sofrência
Daquele amor que se conheceu um dia
O amor inteiro, de cortesia, de quantia
Vê-la desvaísse sem qualquer anuência
Triste é ter prosa na saudade, chateza
Daquela ausência que já fez suspirar
Do coração calado, outrora a palpitar
É ter o verso murmurante de tristeza
Triste é tanto silêncio, falta no versar
É o amor sem a poética para se amar
São os cânticos poetizados com ilusão
Triste é a recordação sem recapitular
A inspiração que não quer mais falar
É redigir a poesia, triste, sem paixão!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
24 setembro, 2022, 22’05” – Araguari, MG
DUELO
Como é triste a poesia sem um amor
Sem desprender as sensações do belo
Sem sedução, sem o carinho ao dispor
E no sussurrar um sereno tom singelo
Essa condição acende no verso o ardor
De emoções sentidas e agrado paralelo
Deixando o poema com particular teor
Então, assim, entre olhares, aquele elo
Sinto aperto, amarga rima esfarrapada
Com apoucada emoção na madrugada
Murmurando as questões de um flagelo
Digo, ao nada, do qual a poesia é fadada
Pra se ter sentido numa prosa aperreada
E não a ilusão e a solidão... em um duelo
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
08 outubro, 2022, 15’11” – Araguari, MG
Senhor dos Passos...
Ó Senhor dos Passos, visão triste e dolorosa
Aperta-me a alma, assim, chorosa
E faz-me comover com tal bruteza...
Oh Virgem de Nazaré
Oh Mãe de Jesus
Mãe dolorosa aos pés da cruz
Amparo nosso, força e fé...
Ó visão triste e tão pavorosa
Deixa-me com tanta tristeza
Soluça-me em amarga prosa
Desventurada infausta fraqueza
Ó Cristo, Jesus, Senhor dos Passos
De braços nus, árduos cansaços
Perdoai-nos por tanta pequeneza!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
04 abril, 2023, 15'25" – Araguari, MG
Semana Santa
NÃO MAIS O VERSO TRISTE...
Aqueles versos que em pranto soavam
Rasgando a alma em poética convulsão
E as toadas e os acordes já imaginavam
Que vinham do mal do partido coração
No carecido verso, desagrados estavam
Pedintes, largados, vãos, ali pelo chão
Os cânticos de outrora, escalpelizavam
O sentimento... Dedilhando a emoção!
Chegou ao fim! Não mais o verso triste
À espera duma inspiração que ensecou
Cada afiada sensação, que, no entanto,
Não mais, no palpitante encanto, existe
Então, a satisfação o versar encontrou
Antes agoniado, agora, glória e canto...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
22 fevereiro, 2024, 16’53” – Araguari, MG
ALVORADA TRISTE
A alvorada rompeu melancolicamente
Carrancudo o dia, disperso no outrora
A alma vazia, a apertura o que sente
Pendente, onde a sensação é demora
O cortejo das horas, tão lerdo, agora,
Canta friamente um canto descontente
E na mente vozejos que dá vida chora
Desroscando a tristura à minha frente!
A manhã vem chegando, tudo um nada
A procura do que é vão, nem ninguém
Pois, tudo faz da situação tão delicada
A prostração onde a emoção é atada
Cutuca, cá no cerrado, não sei quem
Ou o que, vem, compassar está toada!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
13 março, 2024, 13’55” – Araguari, MG
À Fernanda Beregeno pelo dia de hoje
ENREDADA DE NADA
Versejo triste, ralo, a poesia vazia
Verso sangrando de muito sonhar
Atrás de uma poética com alegria
Em vão me esforço para alcançar
Rimei paixão, sensação, ousadia
Sem nunca largar, ou desanimar
Em uma fé sedutora que me guia
Sofri, chorei... Noite e dia a idear
Poeto exausto, lerdo, desatento
Um canto de sussurro, lamento
Saem nos versos em enxurrada
E neste poetizar com verso rudo
A minha desilusão é quase tudo
Numa poesia enredada de nada.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
10 abril, 2024, 20’36” – Araguari, MG