Mudar de Cidade
O senador Miles Poindexter teve a oportunidade de parar em um grande hotel em uma cidade grande do Oeste um tempo atrás. No hotel, ele não conseguiu dormir por causa de certas condições desagradáveis relacionadas a sua cama. Ele foi obrigado a se mexer a noite toda e a agir como se estivesse com urticária.
Quando voltou ao escritório, escreveu uma carta severa ao proprietário do hotel. O dono do estabelecimento respondeu com uma carta de três páginas da forma mais polida possível, agradecendo Poindexter pelo relato.
“Uma coisa desse tipo nunca ocorreu antes neste hotel”, disse o dono. “E acreditamos que nunca ocorrerá novamente. Estamos profundamente agradecidos por você nos dizer, porque, se não soubéssemos de tais coisas, o problema poderia ser muito maior. Embora estejamos surpresos que a situação que você mencionou possa existir, ficamos gratos por você nos dizer antes de qualquer outro hóspede se expor a um aborrecimento semelhante.”
Assim a carta continuou. Mas o escritor, sem querer, colocou no envelope um pequeno pedaço de papel amarelo. Nele, havia uma linha escrita evidentemente para os olhos do estenógrafo e para nenhum outro, que dizia: “Escreva a carta do percevejo para este homem.”
A carta..
Sr carteiro,
Acabei de chegar nessa humilde cidade,
Venho do interior,
Não me pergunte de onde,
Apenas sei que é bem longe desse desconhecido lugar,
Instalou-se sem querer em minha alma,
A maior dor que um boaideiro possa sentir,
Te falo e afirmo,
Derrubei matas,
Criei galinhas e plantei hortas,
Cultivei um paraiso,
De lindas roseiras vistosas,
Flores raras,
E fiz uma casinha,
Embora não tão grande,
Mas para o meu amor,
É mais que aconchegante,
Depois de tudo pronto,
Minha donzela tão bela,
Foi embora e nunca mais voltou,
Ja se faz algum tempo,
Se não falha a memória,
Faz bem mais de dez anos,
Depois desse episódio,
Nunca mais fui como antes.
Eu era um caboclo sonhador,
Cheio de garras e muito trabalhador,
Comigo não havia tristezas,
Era de fazer proezas como um doutor,
Bastava eu semear,
No outro dia ja estava brotando,
Eu era um mestre na arte,
E desculpas se falei demais até aqui,
Apenas pegue esse envelope,
E acelere a postagem o quanto antes,
Eu preciso que ele chegue logo,
Nas mãos de quem está tão distante....
Resposta da carta.
Olá meu querido Poeta Boiadeiro,
Acendeu aqui em mim,
A chama do fogo do amor,
Acabei de ler a sua carta,
E não posso conter as lágrimas que ainda estão derramando,
Ainda me lembro,
Brincavamos debaixo das mangueiras,
Andavamos a cavalo pela grande savana,
Rolavamos no gramado,
E beijavamos como loucos,
Esse lugar que deixei,
Não meço em falar,
Se arrependimento matasse,
Eu ja não estava mais aqui,
Me casei novamente,
Só esperando ser feliz,
Mas o homem que me fez juras de amor,
Jamais soube o que realmente é amar,
Hoje eu vivo triste,
E tenho dois filhos para criar,
Seria uma covardia,
Agora esse moço eu abandonar,
Sei que ainda me amas,
Assim como eu também vos amo,
O nosso amor é eterno,
E esse peso,
Comigo sempre irei carregar,
Te peço perdão por tudo,
E principalmente por te abandonar,
Agora só me resta viver,
Com essa dor que rasga minha carne,
Que nunca irá passar.....
Autor:Ricardo Melo.
O Poeta que Voa
Como muralhas fortificadas e portões de ferro que guardam a cidade, assim é a fé para aquele que tem em Deus seu alto refúgio.
Feliz é o amor que nasce no carnaval
E quer se mostrar pela cidade
Nos outbus, nos painéis
Atravessando o tráfego cambaleando
Febril é o amor que ferve nos quarteirões
E quer explodir fantasiado
Vai pelas ruas e avenidas
Rindo e colorindo a vida
As vezes eu tenho um sonho.
Sonho com um lugar, uma cidade, uma casa.
Odiava aquele lugar, aquela casa.
Tinha cheiro de medo e gosto de morte.
Não morei lá por muito tempo.
Só o suficientes para nunca mais querer voltar.
Sinceramente não fui feliz.
Pelo visto isso ainda me atordoa e raramente quando passo na sua rua.
Fito a fachada, o beco e sua escadaria no final oculta pela escuridão.
Não sinto nada além do vazio.
Do lugar, da casa e das pessoas.
Uma cidade pode ter mais de 142 anos, caindo no oprópribo do povo; mas, se alguém levantar as suas bases, com vistas à alegria e ao progresso da nação, ele pode fazer 52 dias.
saltar o muro
corrida ávida
ao teu encontro
dançar pela cidade
ritmo solto
passos da madrugada
rodopios ao teu encontro
lá está você
seus braços, sua imensidão
rodopios ao meu encontro
aqui estou eu
entregue ao momento, nosso momento
encontro de corpos, almas e gostos
pessoas dormem
a cidade descansa
somente a lua da madrugada
é a testemunha da dança da paixão.
Eu irei contigo ó meu amado rei
Eu irei contigo pra cidade de Sião
Contemplar tua face e rever
os meus irmãos.
Eu irei contigo pra Nova Jerusalém
Contigo eu quero está,
e comprir as tuas leis
Seja a feita a tua vontade
Ó meu amado rei.
Cadillac
Conduzido pelo vento,
Um certo dia cheguei em uma cidade,
Praças e quermesses,
Tudo era diferente,
E todas as pessoas eram gente decente,
De um bairro a outro fui percorrendo ruas e vielas,
Uma festa já datada estava ali para acontecer,
Eram rimadores de todos os Estados,
Que naquele palco iam se apresentar,
Como peão trovador não podia ficar de fora,
O prêmio era um Cadillac e uma mochila cheia de dinheiro,
Se bem me lembro,
Eram mais de cem vintens,
Pois o alto valor era para não tão cedo acabar,
Como companhia,
Chegou o Zé furação e o famoso Tião,
O rei dos trovadores,
Outros nomes da época,
Eram mais de trinta entre eles,
E como sanfoneiro chegou o Valentino belarmino,
E no fole não tinha pra ninguém,
Chegou um moço no tablado e começou a falar,
Hoje,
Hoje estão aqui presentes os grandes repentistas,
São humanos e são artistas,
E quero ver quem vai esse automóvel de luxo levar,
E como recordação,
Vai também essa sacola,
Nela contém uma herança,
E o seu diferencial,
É que não mais precisarão trabalhar,
Na hora da chamada veio um estranho,
Cabelo castanho e ele era do Sul,
Chegava gente de todos os lados,
E o arraial ja estava começando,
Uns se apresentaram,
E muitos deles foram vaiados,
De repente,
Esse moço alto desconhecido,
Bota boiadeira de salto,
E a espora batia na madeira e começava a relampiar,
Chapéu quebrado na testa,
Leventou a cabeça e começou a recitar uma trova em tom alto.
Nesse momento o silêncio foi geral,
Pois o trovador era um
Cabra da voz bem afinada,
E com duas rimadas,
Botou todos com a cara no chão.
Sua educação era notória e admirável,
Pois o artista não era uma pessoa comum.
Com toda elegância falou a plateia:
-Sou trovador de grandes ideias,
Falo aqui e falo acolá e não me apavoro,
Bato no pinho e piso no solo,
Esse quatro rodas com essa sacola , sou eu quem vou levar....
Autor :Ricardo Melo.
O Poeta que Voa.
"As luzes da cidade, ofuscam as luzes das estrelas.
A sua presença, de felicidade, inunda o meu eu, que é só tristeza.
Abro mão de tudo, por ti, larguei minha avareza.
Só no castanho dos seus olhos, fui capaz de descobrir a real beleza.
Só o seu toque drena minha força, sua pele, o seu cheiro, são minhas fraquezas.
Você faz com que, nem meu próprio coração, me obedeça.
Você ofusca minha sanidade, turva por completo, minha clareza.
Você é para mim como as luzes da cidade, que ofuscam as luzes das estrelas..."
Foi com saudades daquela cidade, daquela gente que quase me viu nascer que parti e fui parar no sul do Maranhão.
Ele é a coisa mais óbvia que já me aconteceu, e por toda a cidade isso está acontecendo com outras mulheres...
Questão de tempo, partidas das horas, ventos trazendo a briza do mar, longe está a minha cidade, e perto sinto nós, da nossa liberdade!
Não quero mais nada me indicando as horas! Voltar?
Ou partir para outra história.
BN1996
18/08/2020
No lugar de um mundo, há uma cidade, um ponto, em que toda a vida de vastas regiões se acumula enquanto o resto seca. No lugar de um povo verdadeiro, nascido e crescido no solo, há um novo tipo de nômade, coando instavelmente em massas fluidas, o habitante da cidade parasita, sem tradição, totalmente realista, sem religião, esperto, infrutífero, profundamente desdenhoso do camponês e especialmente daquela forma mais elevada de camponês, o cavalheiro do campo.
O último homem da cidade-mundo não quer mais viver - ele pode se agarrar à vida como um indivíduo, mas como um tipo, como um agregado, não, pois é uma característica desta existência coletiva que elimina o terror de morte.
É a cidade tardia que primeiro desafia a terra, contradiz a natureza nas linhas da sua silhueta, nega toda a natureza. Ele quer ser algo diferente e superior à Natureza. Essas empenas altas, essas cúpulas, torres e pináculos barrocos não estão, nem querem ser, relacionados com nada na Natureza. E aí começa a gigantesca megalópole, a cidade-mundo, que nada sofre além de si mesma e se propõe a aniquilar o quadro do campo.
Muito, muito tempo atrás, o país gerou a cidade do interior e a nutriu com seu melhor sangue. Agora a cidade gigante suga o país, exigindo insaciável e incessantemente e devorando novos rios de homens, até que se cansa e morre no meio de um deserto quase desabitado de país.