Mensagens de Autores Famosos

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⁠A Nudez da Alma —

Vamos escancarar o ser humano:
abri-lo com uma faca
cega.
Rasgar suas frias e
falsas carnes.
Falhando, e cortando.
Falhando, e cortando.
Falhando e cortando com força,
com mais força, mais força ainda para compensar a cegueira da faca;
A cegueira da consciência;
A cegueira da raça.
Vamos envergonhar a raça:
mostrar a falsidade, a crueldade,
o cinismo. — nas falas, nos
atos, nos gestos.
Vamos gritar os piores silêncios!
Silenciar os piores gritos!
Desconfiar! Desconfiar!
Desconfiar de tanto!
De tudo!
De todos!
Vamos cortar o básico,
o essencial: deixando-o com todo
o resto que é só vaidade.
Só vaidade, meu Deus!
Vaidade que não se come
nem se bebe.
Vaidade que dá fome
e adoece.
Vamos escancarar o ser
(humano?): abri-lo com uma faca
cega e dar-lhe a vergonha
num espelho limpo,
cristalino.
Dar‐lhe a nudez da alma sob a carne,
inocentando o destino, inocentando a sorte,
o acaso. — inocentando
Deus e o diabo.

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠11h11 —

Ainda estávamos a sós na sala,
esperando o resto das pessoas chegar, quando dividimos uma cadeira,
um violão e uma canção.
Havia uma estranha falta que a pele ali implorava preencher-se em cada esbarrar de mãos e pernas (sob as roupas).
(Também pudera: passara-se alguns dias que não nos víamos), e era nítido a saudade no fitar de olhos e no entusiasmo com que nos procurávamos entre as pessoas que, enfim, ali estavam para o ensaio daquela manhã.

Dera, então, onze e onze, e de repente,
ela olhou-me, deu-me o sinal
e, juntos, sorrimos.
(Sim, sorrimos e ninguém, além
de nós dois ali, entendeu),
e digo que assim foi bonito.

Talvez, naquele instante, estivéssemos num grau — interno — mais elevado que
todo o resto do mundo.

As pessoas, em sua maioria,
quando se fala em
Universo,
pensam logo em algo
grandioso para
fora.
Eu penso em algo grandioso
para dentro.

Há um perigo aí (um perigo
estranho e bom): ela me liga à arte.
E as mulheres que me ligam à arte,
me ganham para a vida.

Inserida por SilvioFagno

⁠Mundo do Desconhecido —

Eu devo desconhecer completamente
o caminho. — qualquer caminho.
Até o mais óbvio... ora, não é possível!

Eu não sei como chegar quando
nem sei aonde ir.

Minha mente viaja por milhares de quilômetros,
através de séculos, de sonhos,
mas eu não saio do conforto (incômodo)
do meu quarto — que é só um modo seguro
de se morrer (sem se viver),
em paz.

Os quarenta estão logo ali, e a saúde
não anda lá das melhores.

Amores sem amor;
Sonhos que só sonho;
E amanhã é domingo
(de novo).

Tenho tido insônias e pesadelos;
Tenho tido instante raros de alegria
e monstruosos momentos de decepção;
Tenho tido pesadas ressacas
de gente.

Preciso, urgentemente, começar a escrever
e lançar-me ao mundo do desconhecido
(de céu, abismo e chão),
como um escritor que vai morrer,
para que este, então,
não morra.

Inserida por SilvioFagno

⁠Uma Xícara de Café —

Uma xícara de café com (exageradas),
cinco colheres de açúcar, esfria (solitária),
na mesa da sala.
Olho-a com algum desconforto
e demasiado respeito. — é café.

Segundos antes, de súbito, ela precisou abandoná-la ali (com o café
ainda quente, ainda por provar...
querendo, desejando-o).

Ela agora atravessa o corredor,
vai até a sala principal, e volta (ritmada), cruzando os meus olhos de menino pagão, em passos debochados.

Que demora! — quantas pessoas
mais (e más) surgirão ainda
para segurá-la por lá?
Quantos papéis (documentos), ela
precisará dar conta até a
parcial liberdade?
Quantas eternidades cabem
neste instante infinito que
nos separa, ó Tempo?

E então volto os meus olhos para a xícara
de café (agora já frio),
que espera, espera... espera-a,
mas não tanto o quanto eu.

Inserida por SilvioFagno

⁠Uma Quase Revolta Gritada —

As mentes — otimistas — que servem para viver neste mundo caótico e injusto, adaptando-se a ele, não servem
para mudá-lo.

É preciso que haja uma dose crônica de pessimismo, de insatisfação — uma quase revolta gritada — (sem que
se perca o ânimo).

Estar, de certo modo, em paz neste mundo caótico e injusto, é ser parte significativa deste caos, desta injustiça.

Inserida por SilvioFagno

⁠Você tem que parar de buscar as virtudes que os outros alcançaram como se elas fossem uma deficiência em você! Trilhar o mesmo caminho que os outros só te coloca em uma disputa que você nunca chegará em primeiro. A jornada de cada um é única. Não existe essa corrida, tão pouco, uma linha de chegada. Parafraseando Clarice Lispector: o que você chama de defeito pode ser o sustenta a sua identidade.

Inserida por jucsom

⁠⁠Coisas Que Me Interessam -

Faça o que quiser,
como quiser.
Afinal,
ninguém tem
nada a ver.

Mas saiba que, pelo menos
pra mim,
na hora de analisar
uma pessoa,
entre tantas coisas que
me interessam,
eu costumo olhar atentamente
caráter -pois todo o resto
é sempreconsequência
desse.

Inserida por SilvioFagno

Certamente Pensam -

⁠"Que cara mais chato,pessimista, resmungão..."
certamente pensam.

A verdade é que eu também
gostaria de poder escrever
aqui
algo belo sobre respeito,
sobre reciprocidade,
sobre admiração...
algo feliz sobre o amor.

Mas acontece queeunão
sou um exemplopositivo
de alguém queconheceu
o amorenquanto
era-o.

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠Já Era Tarde -

Apesar de escrever, naturalmente, desde sempre,
gostaria de ter me descoberto
poeta mais cedo:
talvez,
no início da adolescência.

Quem sabe assim teria
escrito coisas mais
leves,
mais lúdicas, mais
positivas.

Quando me descobri
poeta já era
tarde:
O amor havia perdido
a cor, o gosto,
o cheiro.

Minha escrita já estava revidando pancadas,
golpes violentos, covardemente
praticados.
Já andava meio amarga,
nostálgica e quase
sem esperança.

Hoje, inevitavelmente,
aceiteia condição:
Não há cura para quem
nasceu poeta.

Inserida por SilvioFagno

⁠Fique atento!
Algumas eternidadesse
disfarçam de merosmomentos.
Fique atento!

Inserida por SilvioFagno

Olhar de menino

O ônibus prossegue pela rodovia. O sol castiga a terra. O sol e com o que vem junto: a sede.
Sorriso alargado, o menino se sente em uma aventura, um adulto! A mãe contava moedas como se contasse pérolas. E durante uma parada foi surpreendida pela pergunta:

- Mãe, me dá um sorvete? Parecia incondicional... mas ela foi tolerante, e o menino sentiu um refrigério, um manancial em seu interior árido.

O menino era tão simples e inocente que não enxergava as dificuldades vividas por ele e sua mãe. Talvez seja melhor assim.
Enxergava a vida com um olhar traquina. O filho olha para futuro a mãe olha para o presente.

- Mãe, cadê o seu sorvete? Com um semblante sereno ela respondeu:
- Assim que puder eu compro, meu filho. Porém o vendedor lhe disse:
- Não minha senhora. Eu faço questão de oferecer por conta da casa.

Caindo em si, o rapaz entendeu que moedas não compram momentos felizes.

Inserida por IsaqueGuimaraes

Vida de professor

Portões abertos. Vozes ecoavam pelas salas de aula. A algazarra tomava conta da molecada.
O aluno pensava alto, sonhava ser médico. Esgotado, o professor estava para explodir... Como se explodir resolvesse a situação.

Com garganta rôca, o professor pediu silêncio para explicar a matéria.

- Essa é a fórmula para calcular essa questão. Alguém não entendeu? Perguntou com dor.
Levantando a mão, disse o aluno:
- Eu, professor!
Seria talvez um momento conveniente para explodir, ou birrar, ou ser adulto e professor.

Tocou o sinal, era para ser mais um dia comum de sua rotina, acompanhada de remédios. Quando não, veio uma surpresa na sala dos professores: era o seu aluno carregado de dúvidas.

Surpreso com o que viu, o aluno disse:
- Professor, seus remédios resolveram seus problemas até agora? Se não porque persiste em se desgastar?

Com essa pergunta, o professor percebeu que não podia viver para trabalhar, mas trabalhar para viver.

Inserida por IsaqueGuimaraes

Tortura Sentimental -

Não acredito mais
na conquista sentimental
do outro
através de uma longa
insistência.

Não.

A grande maioria das pessoas
hoje,
faz disso um jogo, e desse
jogo
alimento para inflar seus
egos cebosos e
gordurosos.

Essas pessoas nunca dizem
um "não" categórico.

Elas costumam colocar certos
limites,
fazer certas restrições,
mas estão sempre deixando
cair migalhas de reciprocidade,
aproveitando-se do nobre sentimento
do outro,
para mantê-lo por perto (acorrentado, rastejando),
aprisionado a esse caos psicológico,
a essa condição humilhante
em que se perde paz, dignidade,
tempo - vida.

E tudo isso,
para alimentar desejos egocêntricos,
gostos superficiais,
vaidades fúteis,
através de uma maldosa, dolorosa
e traumatizante tortura
sentimental.

Não há,
certamente,
uma verdade absoluta
para isso,
mas:
ou tudo acontece
de maneira natural (claro, com todos os esforços e entraves naturais das relações interpessoais),
ou,
naturalmente, não
acontece.

(Não como deveria
acontecer).

Inserida por SilvioFagno

O Meu Eu Ideal -

O meu "eu ideal”
teria que ter a imaginação e os
sonhos de quando eu era
criança.
A saúde e disposição de
quando eu era
jovem.
A sabedoria e consciência
da fase adulta.

Coragem, espiritualidade,
sorte, esperança, família,
amigos e amor de
uma vida.

Inserida por SilvioFagno

Não é Mais Um Dia: É Menos Um -

Percamos tempo alimentando
orgulho e vaidade,
e colecionando perdas e
despedidas.

Inserida por SilvioFagno

O Outro -

Sim,
somos, também,
responsáveis pelo outro.

Mas acredito que,
a partir de certo ponto,
devemos tratar as pessoas
tal como elas se comportam diante
dos outros e de si mesmas.

Porém,
em se tratando das piores,
eu aconselho distância e
indiferença.

Inserida por SilvioFagno

Cheio e Vazio -

Acho que é isto que mata
a gente:

Esse "cheio e vazio
do peito",
em forma de expectativas
e decepções
que a vida costuma nos proporcionar diariamente.

Inserida por SilvioFagno

Correndo -

Às vezes,
eu fico olhando adolescentes
à toa, se divertindo como
jovens que são
e acho graça da maneira como fazem as coisas.

É tudo tão tosco e bobo e
besta,
e nada é tão sério e tudo
tão necessário.

E então,
me percebo rindo
e logo me sinto velho, triste
e bobo e besta,
e agora tudo é tão sério
e nada mais tão
necessário.

(Contaram-nos a história
errada?).

Inserida por SilvioFagno

Velhos Conhecidos -

Agora
já não temos mais respostas
dos sinais ocultos,
camuflados que,
antes,
acertavam a alma.
E temo.

Agora
somos, apenas,
velhos conhecidos que,
às vezes,
se cruzam por aí e,
um simples e automático "oi",
basta.
E fomos...

Muito mais.

Inserida por SilvioFagno

Raras Pessoas -

Algumas
(raras) pessoas,
têm o poder de nos tirar
do sério:
Sim,
a gente olha e, simplesmente,
ri - feliz.

Estranhamente,
feliz.

Inserida por SilvioFagno