Marginal
O que faz um homem é sua cultura e formação familiar, mas o que o transforma é sua educação e a essência que leva no coração.
REINADO
Noturnos são os passeios de minh’alma
Meu espírito vagueia por liberdade
Encarar a chama da vida
Talvez pela morte.
Quem sabe o homem
Aquele que neste instante
Atravessa a rua
E olha para o chão,
Talvez tenha perdido a alegria.
A moça que usa o fio no ouvido
A escutar músicas.
Pela tatuagem
Ela conhece o amor...
Um floral, lindo,
Que trança sua perna esquerda
Como se a possuísse.
Outro homem atravessa a rua
Segue vestido como quem procura um trabalho Não um trabalho qualquer
Vai decidido, confiante.
Aquele rapaz
Jovem
Está sorrindo sozinho
Talvez tenha conhecido
Os prazeres do amor.
Ah, o amor...
Esta noite as ruas estão agitadas
Os cães estão calados
Posso dormir tranquilo
Porque essa noite
Quem reina é o amor.
"O desespero não era pelo espetáculo que se despedia. E sim pelo teu beijo de arquibancada na boca que não era a minha"
"E quando o seu coração bate apressado, no meu ouvido uma orquestra faz música clássica no meu amar"
Esbarrei com um sonho
Desencantado e choroso
De um metro e quarenta
Pele preta
Cabelos desgrenhados
Corpo magro
Roupas rasgadas
Sujo feito o asfalto
A sujeira do vento
A calçada em que morava
Feito um cão abandonado
Perdeu o caminhão da mudança
Seus pais o deixaram
Quando ainda era uma criança
Sentia fome
Sentia sede
Mas nada disso importava
Sentia saudades
De quem nem mais se lembrava
Apesar da tristeza abafada
Sorridente
Insistia em mostrar os poucos dentes
Feito um Pivete
Corria pelas ruas
Batia sua bola
Um coco seco
Feito uma vida que pulsa
Cantava mesmo sem motivos
Gritando pra quem passasse
“Sou Feliz”
Em seus ombros um caixote
Engraxava alguns sapatos
Ganhava algum trocado
Se alimentava de pouco
O necessário
Era o preço do abandono
Como se tivesse escolhido
Nascer
- Pivete, o que você quer ser quando crescer?
- Tio, se eu crescer... Quero ser vivo.
- Tem medo de morrer, Pivete?
- Tio, por aqui os sonhos custam caro, e a minha vida vale pouco.
Dezenove milhões de excluídos que cumpri todos os dias, sem saber se é bom ou ruim, seu dever e direitos civis e políticos de um Estado, sendo subordinados em funções iguais ou piores dos tempos de escravidão.
Minha vida foi andar,
Pelas estradas da vida.
Pelos caminhos que eu passava.
Construía meu ninho.
Curtia rock e bebia vinho.
Hoje em dia vivo de história.
E o rock ficou na memória.
METAMORFOSEAR
Mudo meu corpo, meu jeito.
Mudo tudo.
Transformar é o que me resta.
Sou escritor, sou poeta, nesta festa.
RAZÃO
Sem a loucura
Das químicas.
Que anima.
A razão
Da loucura pura.
Da mente, da gente.
A loucura das aventuras.
Que esta nas escrituras.
Amanhece o dia.
O dia amanhece na periferia.
Abrem se as janelas, das casas e barracões,
De tábuas e alvenarias
E começa um novo dia.
O vento sopra na tarde de mais um dia.
No portão, deitar ao chão, nuvens no céu.
Figuram-se nas mentes de quem for capaz.
A garota e o rapaz sentados na praça a olhar
A rua calma, as pessoas passam.
O vento sopra o tempo.
Tardes pra andar.
Tardes pra pensar.
Tardes pra descansar.
ANOITECER NA PERIFERIA
PARTE III – epilogo.
É chegada a hora, a tarde vai-se embora.
E o anoitecer vem chegando às periferias.
A noite vem se apresentando e, com ela, os transeuntes.
Passando de um lado para o outro, uns vêm das fábricas.
Outros vão para as igrejas e muitos já estão ingerindo geladas.
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