Marginal
NEM TUDO
Nem tudo que rima ensina
Nem tudo que voa é pássaro
Nem todo mundo sabe
O valor de uma grande amizade
Nem tudo que vai... Volta
Nem sempre fechamos a porta
Pecamos bastante
Somos insanos, as vezes hipócritas
Nem tudo que brilha é jóia
Nem todos sabem amar...
Não ajudam o próximo
Nem tudo é tão lindo
Como as flores dos bosques
Nem tudo é para sempre
Erramos periodicamente
Nem sempre estamos alegres
Nos queixamos de tudo e de todos
Nos estressamos por tão pouco
Nem sempre estamos dispostos
Sempre achamos defeitos nos outros
Seres humanos, seres loucos
Que vivem se matando
Não sabemos de nada
Somos como crianças recém nascidas
Somos pequenos, sementes, átomos
Nem tudo é tá fácil
Nem tudo que rima ensina
Nem tudo que voa é pássaro.
SAUDADE
Saudade sinto da menina
que roubou meu coração
que deixo - me na tristeza
na imensa solidão.
Sofro tanto nessa vida
pelo canto enfadonho,
que saudade da manina
só a vejo em meus sonhos.
Foi embora sem avisar
não deu beijos nem abraço
não deixou nenhum bilete
nem uma foto 3x4.
Quem déra se voltasse
pra ficar junto a mim
menina que saudade,
porque maltrata assim?
Volta ainda é tempo
não me deixe desse jeito
saudade doi de mais,
saudade doi no peito.
VERDES QUE NÃO VEJO
Que jardins são esses…
Que não vejo?
Jardim das Rosas, Jardim Irene
Jardim Castro Alves, Jardim Vazame
Jardim Selma, Monte Azul
São Bernardo, Campo Belo,
Jardim Santo Eduardo, Imbé
Jardim Comercial, Dom José
Que jardins são esses que não vejo…
Cadê o verde, os pássaros a cantar
Cadê o jardim que não vejo
Cadê o jardim, onde está?
Vejo becos e vielas
Barracos amontoados
Crianças brincando descalças…
Crianças brincando de barro
E o verde natureza
Parques que não existem
Parque Fernanda, Santo Antônio
Parque Ipê, Arariba
Parque Dom Pedro, Pirajussara
Parque do Lago, Novo Mundo
Que parques são esses que não vejo…
Oh! Qual seria o meu desejo
De sentir o cheiro do verde no ar
Cadê o parque que não vejo
Cadê o parque, onde está?
FACULDADE
Minha faculdade é a rua!
Formei-me em Letras,
História e Geografia.
Fiz letra de samba,
Letra de rap,
Letra de forma,
Letra de mão,
Letra de pixo,
Letra de grafite.
Fiz histórias nas ruas!
Contei histórias da vida,
Histórias de manos e minas,
Histórias do cotidiano…
Histórias de miliano,
Histórias verídicas.
Andei pelos guetos, becos,
Observei os terrenos baldios,
Construí poemas de madeira,
Barracos de papel.
Observei os arranhas céus
Os córregos poluídos.
Minha faculdade é a rua!
Formei-me em Letras,
História e Geografia.
E assim sigo criando nuvens...
Te trago em brasa
Desviando das névoas que surgem.
Transbordo em lágrimas
Esperando cair suas gotas pesadas
Deixando que nos inundem
Me leve em sua brisa levada
De leve a quebrada
Suaviza sua alma
Deus nos ajude! Thibor
Dois segundos
Blá, blá, blá...Blá, blá, blá!
Respiro fundo e pronto:
Dois segundos são suficientes.
O ar invade afoito minhas narinas
os pulmões se inflam
o tórax se expande
o cérebro oxigena-se.
Enquanto vaga a mente
tentando racionalmente pensar
das amarras desprendem-se as ideias
voam longe os pensamentos
dois segundos se seguem
e nada me vem.
Só a poesia.
Não que minha poesia não seja racional
é que por estar sempre à margem
me tornei marginal
marginalizei minhas ideias
marginalizei a teoria
teorizei a marginalidade
(des)marginalizei-me e à minha poesia.
É contingente pensar o mundo de tal ponto de vista
é-me conveniente fazê-lo deste modo.
Vagarosa perambula a mente
enquanto vaga pelo mundo
lucubra
arbitrária, dissimula
e agora, também mente.
O ÚLTIMO LAMENTO
Chegaram ao ponto
aponto de se afogarem
em lagrimas de sua própria
crueldade
não tem perdão, não
ao ver corpos espalhados pelo chão
ao sentir o sol irradiando a poluição
secando o sangue que jorra
por muita mãos
o final da pouca vegetação, alimentação
que logo dirá ao homem, não
e a lamentação virá a extinção.
Enquanto você planeja eu ajo.
Enquanto você pensa eu faço.
Enquanto você existe eu vivo.
Enquanto você ignora eu aprendo.
Observar é entediante pra quem não sabe olhar.
Pra quem não tem foco não sabe aonde que chegar.
Ter ouvido é não ouvi é um pecado constante...
Saber viver o momento da eternidade da vida.
Chorar é melhor do que rir,,
Sou um eterno aprendiz.
Citação do marginal que tá registrado...
Alado
Transtorno de domingo
Aos olhos de todos - as vísceras - completamente expostas. Expostas feito quadros, feito instalações contemporâneas nas ruas da periferia. Sacadas ao meio dia na frente de todos, na porta da padaria. E o corpo, sem identidade ou cor revirado às avessas, a revelia de sua vontade. Caído de ponta a cabeça na sarjeta, após tamanha tormenta.
De repente, um grande alvoroço! As sirenes do carro de resgate interrompem o silêncio local - chegam primeiro que a polícia - essa chega instantes depois com todo seu aparato.Mas já é tarde demais!
Todos observam calados, incrédulos com o ocorrido. Ninguém fala nada, ninguém vai embora. E como se ainda esperassem acontecer algo permanecem no local, velando o corpo. O sangue encarnado que escorre do corpo já roxo, segue pela guia da calçada em linha reta, na direção do esgoto.
Já se passam das sete da noite e o corpo permanece ali, no mesmo lugar! Só que agora coberto com uma manta de papelão improvisada, feita de caixas de óleo de soja, doadas pelo dono da padaria. Ninguém parece ter pressa de tirá-lo daquele lugar. Só o dono da padaria se preocupa com o corpo, pois já é hora de baixar as portas, de fechar o comércio e acabar com todo aquele grande transtorno de domingo.
A revelia
Sou o poeta que escreve seus versos nos muros
artista dos becos e das vilas que declama suas dores e amarguras
sou o filho do meio, de outros tantos, criados a revelia e sem recursos por uma dona Ana ou uma dona Maria...
Na rua sou ligeiro, nem bala perdida me acha
sou rima faceira que combina em seu corpo tempo e espaço, ódio e amor, paz e guerra
sou a linha de frente da guerra, a lâmina da faca, o cano do fuzil
sou o verbo inteiro, vez ou outra partido ao meio, transformado em refrão
sou o mundo inteiro e o meu bairro
e o desespero da mãe quando falta o pão
sou a minha esperança
a ponta aguda da lança - nunca se esqueçam!
Sou o pai de família que acorda todos os dias bem cedo
e segue firme sem pedir arrego, sem desejar vida fácil.
Sou o pretinho longe do tráfico, salvo pelo passinho e pelo futebol
sou a segunda parte do hino nacional que ninguém canta:
a liberdade
os campos verdes
o lábaro que ostentas estrelado.
Sou apenas mais um filho da pátria Brasil com nome de santo
feito outros tantos Silvas nos becos, nos morros, nas periferias
apenas mais um brancopretovermelhoamarelhoíndio e favelado
renegado pelo sistema, vestindo preto por fora e por dentro.
O que mais seria a guerra a não ser
Jovens se matando?
O que mais seria a guerra a não ser
Velhos conversando?
Melancolias de um samba,
Tristeza em pleno carnaval
Um dilema em minha cama,
Viver ou fase terminal.
Filosofias de bar,
Ideologias fúteis de jornal.
Água levanta poeira do asfalto
O cheio me leva ao passado.
Banho de chuva,
Descalço na rua
Olhando o céu
Pensamentos aleatórios ao léu.
Lá vem o sol,
Cada manhã
É uma só
É um sonhar.
Enquanto ao tempo
Cada momento é o ideal
De idealizar,
Se você sentir dor,
Seja pelo o que for,
Há sempre um modo de utilizá-la
Para o bem ou mal
Cabe a você tentar,
Agüente firme.
Um novo anjo torto se afoga em distúrbio
Enquanto autoridades estão em cima do muro,
Lugares confortáveis
São revisitados,
Luzes da cidade iluminam os desajustados.
O cidadão transformado em súdito
Vivendo em uma fazenda de formigas,
Quando não acaba em um caixão de veludo
É obrigado a amargar as feridas,
Constituindo uma constituição,
Incondicional, inconstitucional...
Aprendi a lutar
Quando vi que não era de vidro,
Fui alem dos sentidos,
Mas do que o permitido
Enfrentando o acaso
Me deparei com o destino,
Na luz do refletor...
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