Literatura Marginal
Baleado
Dois tiros no abdômen
Um de cada lado,
Maca puxada às pressas, entre a vida e a morte,
Uma mãe tenta ser forte.
Esse é meu texto, minha forma de descrever:
onde Pixote grita mais forte, aqui Lampião não é herói nem vilão. É ser humano com fome de pão e arma na mão. Che vai viver e Marielle ninguém vai te esquecer. Este é meu estilo meu jeito de escrever!
Fragmento do poema:
"O grito que ecoa da quebrada"
[...]Liberta a tua mente e segue, vai em frente
vai ver quem é a gente que você olha atravessado
quando para no semáforo e ergue o vidro apressado
observa com cuidado quem é o pretinho que tu olhas desconfiado
e aperta o passo quando ele passa ao seu lado
com a barriga vazia, com os sentidos embaralhados - de tanta fome.
Enxerga o estilo dele e entende de uma vez por todas...
Que esse é o estilo que faz sucesso por lá.
Descobre a palavra de ordem dos (marginalizados)
que você marginaliza ao julgar
e grita alto aos quatro ventos quando descobrires
da sua varanda ou de seu terraço milionário invocado.
O grito que ecoa da periferia é...
Mais respeito, por favor!
Pois já estamos cansados.
LITERATURA MARGINAL
QUE AS PALAVRAS
TRANSNCENDAM
A LINHA DO TEMPO.
QUE OS VERSOS
SAIAM DO CADERNO
NO FUNDO DA GAVETA.
QUE A POESIA
SEJA LEVADA PARA A RUA
OU ATÉ OUTRO PLANETA.
PARE! Onde vocês pensam que vão?
O salário não vem.
O trem parou, o hospital fechou a empresa mudou.
A escola os alunos abandonou porque o professor se revoltou.
E a comida acabou!
A multidão se exaltou.
E a disciplina do poder nos prendeu e condenou.
ÁRIA PARA AS REPRESAS DE SÃO PAULO
Naveguei por tuas entranhas
Me arrebentei em tuas curvas
Me molhei no teu centro
Bebi dos líquidos teus
Mergulhei, pulei, me diverti.
Fui inocente ao teu encontro
Amei sob os teus olhos.
Perdi amigos e quase irmão no teu dorso. Chorei as mágoas dos esquecidos.
Naveguei na esperança
Mergulhei em busca de paz
Descobri tua história, tua criação
Percebi tua importância,
Passei a cuidar ainda mais.
Vi teu nome batendo asas
Rubras asas de teu Guará.
Alimentei minh’alma, meu corpo.
Saciastes a sede de muitos
E não pedira nada em troca,
Mas aqueles que de ti beberam
A esqueceram.
Ficaste triste
Desabastecida de esperança
De chuva e de cuidados.
E teu corpo espalha-se
Por minhas periferias
Pelas margens de minha cidade.
Encontrarás rios-mares
Nas noites frias e quentes
Desaguará nas válvulas dos desperdícios Será beijada pelo céu
Em dias de chuva
E aquecidas nos dias de sol.
Silenciosa eclusa de minha vida
Cuja paisagem me enche os olhos na alvorada
Teu gigante corpo sobre as cidades
Trazem as histórias do século XX
E o desprezo do XXI.
Minha esplanada líquida
Que de tão importante
Far-se-á em ouro.
Mas mais importante
São os ouros de vidas
Que por ti clamam.
MAIS UM
Ouvi tiros
no silêncio da noite
infelizmente mais um corpo
tomba no gueto.
Na minha mente
vem vários pensamentos
e do fundo do coração...
Lamento.
E como sempre
ninguém sabe ninguém viu
essa é a triste realidade
nas quebradas do Brasil.
Os moleques estão a mil
pelos becos e vielas
as coroas nos barracos
acendendo suas velas.
No silêncio da noite
muitas coisas acontecem
e esses tiros que ouvi
apagou mais um pivete.
NOVO DIA
Hoje é um novo dia
Não dá para ficar chorando
Hoje é um novo dia
Para realizar teus sonhos.
As coisas só acontecem
Se fizer por merecer
Se não acreditar
Nada irá colher.
Problemas todos têm
Quem disse que iria ser fácil
Levante tua cabeça
Passe por cima dos obstáculos.
Hoje é um novo dia
Coloque um sorriso no rosto
Agradeça pela tua vida
De manhã, à tarde e à noite.
Não faça corpo mole
Seja firme e vai em frente
É preciso ser mais você
Quebre a corrente que te prende.
Hoje é um novo dia
Para se erguer, se adiantar
Hoje é um novo dia
Para quem está disposto a lutar.
POEMAS
As vezes paro e penso
Nos poemas que compus,
Tanta idéias na cachola
Tanta glória, tanta luz.
Quando falam em poesia
Fico todo esfuziante,
É uma coisa magnifica
Que me enche de emoção.
Os poemas que escrevo
Na verdade são presentes,
Palavras ritmadas
Feita de coração.
Para crianças e idosos
Não importa a idade,
São tantos pensamentos
Muita criatividade.
São livres como o vento,
Nem um deles me pertence,
Os poemas que compus,
São presentes para o gueto.
NEM TUDO
Nem tudo que rima ensina
Nem tudo que voa é pássaro
Nem todo mundo sabe
O valor de uma grande amizade
Nem tudo que vai... Volta
Nem sempre fechamos a porta
Pecamos bastante
Somos insanos, as vezes hipócritas
Nem tudo que brilha é jóia
Nem todos sabem amar...
Não ajudam o próximo
Nem tudo é tão lindo
Como as flores dos bosques
Nem tudo é para sempre
Erramos periodicamente
Nem sempre estamos alegres
Nos queixamos de tudo e de todos
Nos estressamos por tão pouco
Nem sempre estamos dispostos
Sempre achamos defeitos nos outros
Seres humanos, seres loucos
Que vivem se matando
Não sabemos de nada
Somos como crianças recém nascidas
Somos pequenos, sementes, átomos
Nem tudo é tá fácil
Nem tudo que rima ensina
Nem tudo que voa é pássaro.
SAUDADE
Saudade sinto da menina
que roubou meu coração
que deixo - me na tristeza
na imensa solidão.
Sofro tanto nessa vida
pelo canto enfadonho,
que saudade da manina
só a vejo em meus sonhos.
Foi embora sem avisar
não deu beijos nem abraço
não deixou nenhum bilete
nem uma foto 3x4.
Quem déra se voltasse
pra ficar junto a mim
menina que saudade,
porque maltrata assim?
Volta ainda é tempo
não me deixe desse jeito
saudade doi de mais,
saudade doi no peito.
FACULDADE
Minha faculdade é a rua!
Formei-me em Letras,
História e Geografia.
Fiz letra de samba,
Letra de rap,
Letra de forma,
Letra de mão,
Letra de pixo,
Letra de grafite.
Fiz histórias nas ruas!
Contei histórias da vida,
Histórias de manos e minas,
Histórias do cotidiano…
Histórias de miliano,
Histórias verídicas.
Andei pelos guetos, becos,
Observei os terrenos baldios,
Construí poemas de madeira,
Barracos de papel.
Observei os arranhas céus
Os córregos poluídos.
Minha faculdade é a rua!
Formei-me em Letras,
História e Geografia.
Minha vida foi andar,
Pelas estradas da vida.
Pelos caminhos que eu passava.
Construía meu ninho.
Curtia rock e bebia vinho.
Hoje em dia vivo de história.
E o rock ficou na memória.
CÁRCERE
Agora
Depois do... depois de...
O homem volta a ser.
Um ser sagrado
Tudo será perdoado.
Não foi nenhuma
Passagem fenomenal.
Não era nem carnaval.
Apenas natal.
Do indulto ficamos mudos.
Saímos pro mundo.
Pensamos, mas não voltamos.
A dor da gente.
É a dor que sente
A minha mãe.
A minha mina.
Pobre mãe.
Pobre meu pai.
Descanse em paz.
Minha mãe, também foi uma menina.
Por favor, entendam.
Meus amigos parentes e vizinhos.
A minha expressão.
Não está na proporção.
Do meu coração.