Lira dos vinte anos
O visível e o invisível, a presença e a ausência, a distância e a proximidade, o tangível e o intangível. O começo e o fim. Quantas dessas coisas para as pessoas são inescrutáveis.
O silêncio tem a sua força, ele é um guardião. Consegue conter e esconder as mais fortes das vontades. Todavia, muitas vezes, não supera a energia que elas transmitem.
Não existe possibilidade de mudar um mundo injusto e desigual sem adaptar as regras existentes a fim de torna-las justas.
Fumaça
Tudo sei, tudo conto;
nada sinto, nada vivo.
Sou apenas corpo a dançar pelo trilho.
E o trem vem chegando,
apitando apressado.
Meu rodopio é longo
e desengonçado.
E me assusta quando apita
E me angustia quando apita
E me corrói ao apitar
porque não tenho como escapar.
Caminhante
Do negro céu e prateada lua,
do leve ar soprante de árvores nuas
cujos reflexos enfeitam a cidade crua;
de azul fala embalada pela mente tua,
faz-se tu, Caminhante destas ruas.
Mais vermelho que sangue,
rojador de desespero;
mais celeste que veia,
pulsante em cheia, é teu paradeiro.
Oh Caminhante de mim,
ao passo que o dia chega ao fim
e no silêncio me encontro enfim,
teu melódico caminhar acalma meu confim.
Sinto teu andar pelas artérias
e, antes que possa duvidar,
tu já decompõe a matéria,
outrora solitária miséria.
Numa casinha amarela tu se instala,
neste lírico vilarejo cardíaco
que descrevo enquanto tu desfaz a mala,
Caminhante do meu corpo físico e onírico.
Pesadelo
Acordo suada
com coração acelerado.
A porta está lacrada
e, o medo, ao meu lado.
Tudo que vejo é nada;
nada é tudo que vejo.
Vejo apenas nada,
sinto apenas medo.
Cavo com dedos já sangrentos
o teto onde piso.
Estou presa num cubo e lento
é meu movimento não-liso.
A escuridão me consome,
luto, agonio, rejeito, atrofio;
mas o vazio preto me come,
na podridão me crio.
Areia
Quero adormecer numa rosa,
abraçada numa abelha.
Quero escrever poesia, cansei de prosa.
Já desfiz a viscosa teia.
Meu corpo é minúsculo.
Tenho mãos preenchidas por grãos
de pólen e vazias de pulso,
por isso o busco nessa composição.
Meu corpo é grão de areia,
sou aquele farelo numa praia cheia
que compõe a vista feia
onde as ondas do mar se baseiam.
Adentro a onda sonora,
este é o Agora dum Outrora
que se faz eterno na caminhada
amarela ácida e docemente azulada.
Tons de Marrom
Caminho por aí, ainda que permaneça aqui.
Gelado vento, congeladas palavras.
Parado momento, como aflição em garrafa.
Encho-me até que transbordo.
Corro e pulo, saltito correndo.
Tons de marrom, amarelo e vermelho.
Sou tão preenchida que vivo vazia.
Sou tão grandiosa que me torno pequena.
Eu sou eu mesma, coisa óbvia a se dizer.
Eu sou eu mesma, complicada de ser.
Borboletas pairam no ar
como se estivessem a anunciar
algo tão belo e incompreendido,
a morte de algo querido.
Deseja-se tanto que se perde no tempo,
este de fato mal interpretado.
Tons de marrom e rosa.
Sou como o tempo: imortal prosa.
Boneca de Pano
Que tal ficarmos na nossa?
Que tal fingirmos tudo?
Será que fazer vista grossa
vai silenciar o sofrimento não-mudo?
Sou marionete num jogo adulto,
vejo cordas a sufocar corações em luto.
Enceno a peça teatral perfeita
onde não sei pra que fui feita.
Todas vezes que o vigário traiu
fui atriz secundária;
a principal foi ilusão em navalha
e, a mensagem, mera falha.
Mas me libertarei.
Despedaço, destruo, desintegro
o frágil pano do qual me criei.
Tenho observado o quanto o significado da palavra amor-próprio, tem sido associada, quase limitando o sentido da palavra para algo relacionado somente ao autocuidado do corpo, como estética, vaidade. Como se uma tarde de compras ou no salão de beleza fossem a solução dos teus problemas.
Cuidar de si mesmo vai muito além da estética e da aparência exterior, apenas “mascarando” seus desconfortos físicos. A magia do amor próprio não irá funcionar se tu cuidar da tua beleza e continuar maltratando o teu mental. A essência do amor-próprio é mental. Consiste em se auto cuidar, sendo seguro, justo e gentil consigo mesmo e neste processo ir adquirindo controle emocional. Assume a tua responsabilidade pelos teus próprios atos, sem culpar outras pessoas e se dando a autonomia necessária para consertar coisas que tu mesmo causou. Tu se ama quando aceita teus erros, mas os reconhece, não se castiga e não carrega fardos, tu se perdoa por isso e se permite mudar, assumindo o controle dos atos futuros. Teus defeitos não te tornam inferior a ninguém.
Autoconhecimento é fundamental para adquirir uma autoestima saudável. Aprenda a lidar com tuas próprias emoções e momentos difíceis. Seja seguro de quem tu é no mais profundo do teu ser e não te coloca no alvo de críticas destrutivas. Descarta da tua vida coisas que não te fazem bem, te desapega com facilidade de coisas que já não fazem mais parte da tua evolução.
Desconstrua-se da crença de que o amor-próprio significa satisfazer todos os teus desejos e estar sempre mantendo uma postura inabalável de ter razão em tudo, não levar em conta a opinião de mais ninguém, isso é soberania, excesso. Quem se ama, se aceita de forma verdadeira. Quem tem falta deste amor, ama uma imagem distorcida de si próprio, que o cega para o que é real.
Amor-próprio não se resume a uma ação, trata-se de uma maneira de ser e agir.
O pensamento e a nossa mente funcionam como o céu e as nuvens. Tendo em vista que o céu trata-se da mente e o que recebe nossa atenção, e as nuvens são os pensamentos e emoções passageiras.
O céu é fixo, estável, permanente, assim como a nossa mente. O pensamento é mutável, impermanente e instável, como os nossos pensamentos e emoções. As nuvens no céu desempenham o papel dos nossos pensamentos negativos, ansiosos e tempestades e adversidades da vida. Ora as nuvens estão no céu deixando o céu carregado de nuvens em excesso e devido as mesmas pode-se fazer até chover, ora são só algumas nuvens de baixa densidade que não prejudicam na visualização do céu.
O que importa é entender que independente do quão forte for a tempestade o céu vai ficar azul, limpo e brilhante novamente, mas deve-se entender que as tempestades fazem parte do processo do céu/mente. Ou seja, aceite suas emoções, todas elas são necessárias. Saiba fazer chover, mas saiba também quando ser céu azul.
Escrevi como um canal para todos que já passaram por um momento de chuva intensa, a tempestade não vai durar pra sempre e o céu vai voltar a ser azul. Não deixa os pensamentos e situações temporárias acabarem com o que há de melhor em cada um.
Entrelinhas
Rainha, princesa, anjo, donzela!
(Escrava patética, louca égua sem cela).
Meu bem, tratarei-te como flor
(ao desestruturar-te, perderás vida-cor)
e te amarei para sempre, não importa como for!
(De mim tu não escapas, sou teu senhor).
Adoro-te e apenas quero teu bem
(obedeça-me se não quiser sofrer além);
por isso, sou capaz de tudo para te proteger
(daqueles que conspiram contra tua submissão-dever).
Escuta-me, deixa-me penetrar no teu cérebro
e mostrar-te o que meus olhos veem
(a implorar por piedade, tua figura célebre)
afim de que percebas a beleza que tens
(os berros teus pelos vida-vermes).
Induções, pensamentos não pensados
Induzido a existir, não viver
tamanha simpatia, empatia causa desprezo
se virar do avesso, não vai te fazer perder o medo
não é mais a sua vida, você não tem o mesmo preço
já perdeu a muito tempo, no início do começo
a sua vida não tem mais a sinfonia
agora você quer existir da noite ao dia
você não se salvará no final
ninguém é especial
o mundo é muito mais que essa coisinha chata
mas é bem menor do que o que é imaginado
não temos ideias do que somos e o que queremos fazer
a nossa única certeza é a de morrer
tanto faz pra você, voce já morreu faz tempo
nem vai perceber quando tudo sair de dentro
ninguém vai lembrar de você
e nem dessa carinha feia....
mas vamos, tem outra vida pra viver
mais uma chance de entender
mais uma vez de morrer
mais uma tentativa de crescer
uma outra chance de perder
já tem muitas chances de crer
tente não ver
mas não venha com uma desculpa de que é só pra vencer
eu nasci todo errado, não consigo entender
mas terei outra vida também
e tentarei reverter.
Chega uma hora que você está na beira de um precipício e aí vem as perguntas "eu vou ou não?"
E daí vc olha pra trás e ver que não lhes resta mais nada. A família que se amava tanto se acabou. Os amigos que sempre disseram que estariam ali sumiram. Sua saúde está por um fil, está no que falam, morre ou não morre. E ali na beira daquele precipício, na sua mão resta apenas uma pena de uma ave qualquer que peguei no caminho e uma pedrinha. Se eu pular de mão aberta aquela pena e a pedra vão demorar segundos pra caírem no mesmo local que você, porém a pedra vai pra onde você está, já a pena irá planar até achar outro lugar pra ficar ou até mesmo outra pessoa que esteja na mesma escolha que eu.
A pedra cai e fica, já a pena, ela plana pra vários lugares.
Trabalhar, estudar, cuidar de casa e família não é fácil! Mais lembre-se o esforço de hoje reflete na sua vitória de amanhã. Mostre a você mesmo que é capaz que dos outros o seu sucesso toma de conta.