Grito
Apenas (um) grito inoportuno com uma criança, pode alterar seu destino radicalmente. Eis um mundo radical que lhes gritaram.
A mulher que aceita como natural, do companheiro, um grito, um xingamento, um tapa, em breve aceitará como natural um soco, um pontapé, uma facada ou um tiro. Por isso, encerre a relação tóxica ao primeiro sinal, afinal, já se sabe qual será o fim.
PROCISSÃO DA GENTE
O encanto, a chatice, a companhia e o bom humor. A doideira, o grito, o susto, a santidade e o rancor.
Estão sempre no mesmo lugar, na cabeça ou na personalidade da gente.
Que fala, as vezes só pensa, que julga e fazendo ofensas, mente.
Que ajuda, conversa, faz digressão, relativiza e tergiversa.
Gente confusa, ora não quer, jura, reza, faz simpatia e paga promessa.
As riquezas do partilhar, também vem muito do não compreendido.
Do que se tenta ensinar ao coração, mas que não passou do ouvido.
Aceitando debilidades e rindo das maluquices, rindo de piadas sem graça, como se cócegas sentisse.
Evoluir como um ser, aprender a viver e a sentir, entender o pouco tempo que temos e evitar as tolices.
Assim, no estilo "miga sua louca", vamos passando mais um ano, rindo sem pôr a mão na boca.
Fazendo bizarrices, errando e acertando, chorando e dormindo de toca.
Acontece que, a gente, que é tida como doida, ou que não tem quem a mude.
É médico da mente e professor da vida, sabe cuidar bem da alma, tem no riso, a saúde.
Oxalá muitos outros, por aqui passassem buzinando, semeando tal proba semente.
Já teriam nos desempacotado, nos liberado e curado. E nós também, seríamos GENTE.
Sairíamos por aí mais leves, seja por Deus ou Allah, Cruz credo ou ave Maria
A fé viva, noite e dia, seríamos menos doentes, bem mais contentes, até o final dessa romaria.
"Que a tua Alma dê ouvidos a todo o grito de dor como a flor do lótus abre o seu seio para beber o sol matutino.
Que o sol feroz não seque uma única lágrima de dor antes que a tenhas limpado dos olhos de quem sofre.
Que cada lágrima humana escaldante caia no teu coração e ali fique; nem nunca a tires enquanto durar a dor que a produziu.
Estas lágrimas, ó tu de coração compassivo, são os rios que irrigam os campos da caridade imortal.
É neste terreno que cresce a flor noturna de Budha, mais difícil de achar, mais rara de ver, do que a flor da árvore Vogay. É a semente da libertação do renascer."
No meio de um silêncio!
Como um grito
de socorro
no vácuo do espaço, como um buraco negro que desconhecemos
e todos temem
Uma parte de nossas vidas
Não existe mais
Um luto de duas partes Uma única dor sentida por duas pessoas
Uma história que chega ao fim
Mas somos obrigados Continuar pela vida, Pelos que amamos
E ter a chance de fazer
Uma nova história
Onde o silêncio será preenchido por Amor!
E no lugar de gritos de socorro
Não ouvido Tomará lugar de longas gargalhadas
Ouvidas pelos quatro cantos do mundo
Não sinta saudades Sinta Amor!
Meu grito era cego;
Surdo e mudo.
Um grito sufocado de receio.
Um socorro disfarçado de sorrisos.
Medo do medo
Você entende?
Até o grito, se moldar em nós.
Um grito com grito.
Um grito com voz.
PÁGINA DE SEDE
Cavo nesta página de sede
o grito de um corpo em sedenta fúria.
A página branca produz um ruído branco
com a palavra nada.
O meu lugar no mundo
é um templo nulo.
Por vezes a minha boca
é uma palavra oca.
Sou a página fria
de um vasto deserto: a Vida!
Tenho medo de ter a sede
do mundo nos meus braços.
Nesta madrugada de luar
ouvindo o galo a cantar,
o silêncio no peito não
é e nem nunca foi grito,...
É voto de compromisso
de nunca mais voltar
para o lugar onde o amor
não conseguiu encontrar,
Ouço a mística dos sinos
misturada a percussão
cadenciada das árvores
e a aorta em modulação,...
O quê há de mais silencioso
é cumplicidade total
com o espaço do Universo,
e fuga do tempo adverso,
Certa que o amor infinito
virá no tempo dele vivo
os meus dias me arrumando
por dentro em preparação.
Nos lábios está
o grito do povo
para que nos
SALVEM a VIDA
do último General
a cavalo preso
INJUSTAMENTE
desde o dia
treze de março
do ano passado
em meio a uma
pacífica reunião
por um grande
país pacificado.
A clarinetista moça
foi libertada sob a
triste condicional
de estar subjugada,
o crime dela só
foi desabafar
na hora errada,
e por sentir demais
por todos como
poeta não é difícil
imaginar que já
está proibida
a minha entrada.
Do General não
se sabe
mais nada,
tenho feito um
esforço tremendo
para que esse
silêncio não
deixe a minha
alma envenenada.
Dizem sem ver
há mais de dois
meses que em
GREVE DE FOME
ele se encontra,
e a inconformidade
de minha parte
tomou conta,
estou aborrecida
de uma maneira
que tu não fazes
idéia e nem conta.
A Pátria vizinha
não é segredo
para ninguém
que não é minha,
mas o hemisfério
também me é,
latino-americana
nasci, sou
e consciente
de que bendito
é o povo
que reinvidica
pela vida de
cada um de
seus guerreiros.
Cada um fala uma coisa
e o grito vem sendo gutural;
está quase perto do Natal,
reunião com a mesa
negociadora da oposição
muitos pedindo anistia geral
e os filhos dos presos de consciência
se uniram numa voz transcendental.
Vejo gritos de pedido libertação
por um sargento torturado,
pelo Capitão da Guarda Nacional,
por seis sargentos paraquedistas,
pelo fim da greve de fome
do Tenente Coronel Chaparro,
para que salvem o Capitão de Navio
onde ninguém é escutado.
Mais de trezentos presos políticos,
nenhuma notícia de liberdade
para a tropa e para o General preso injustamente há quase cinco anos
e a escuridão ocupando os sentidos
onde os principais problemas
já eram para ter sido resolvidos.
Parece que conviver sem reconciliação é o quê o poder
só tem a oferecer nos planos
(onde todos na vida sem exceção
têm tudo nesta vida a perder
enquanto não se unirem
por pacificação e reconciliação).
Felipa Maria Aranha
A tua fuga dos teus senhores
ainda permanece misteriosa,
O teu grito é o de cinco quilombos,
o teu lar é o Quilombo do Mola
O teu canto ainda ouço lá
no baixo do Tocantins,
Adorada Felipa Maria Aranha,
quando a palavra me falta,
é a tua mão espiritual que levanta.
Marianna Crioula
Marianna Crioula tem o seu
grito 'Morrer sim, entregar não'
misturado, ecoado e ainda ouvido
nos repiques poéticos
dos atabaques do Vale do Café,
Sim, eu tenho na vida mesma fé;
Junto com Manuel Congo
foi eleita Rainha do afamado
Quilombo de Santa Catarina,
e ele foi eleito Rei porque
reuniram e lideraram talvez
as maiores revoltas
daquela região quando
a escravidão tinha força de lei,
A liberdade segue sem
ter o seu ciclo completo,
e dela o meu coração continua
sem se permitir jamais ser disperso.
REDICALISMO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Tens um grito guardado
pro momento
em que tua reserva
de arrogância
não tiver argumento...
Há um soco espremido
entre os dedos,
para quando a bravata
já não camuflar
os teus medos...
Haverá sempre um tiro
na pistola
de quem já não sabe
tirar seus coelhos
da cartola.
DE AMAR
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Abafe o primeiro grito,
primeira ofensa,
primeiro tapa,
primeira etapa
da violência...
Rejeite o primeiro gole
ou desperdício,
primeiro trago,
primeiro estrago
de qualquer vício...
Cometa o primeiro gesto
de paz e bem,
primeiro traço,
primeiro passo
de amar alguém...
EXORCISMO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Grito em vão, porém grito, não posso perder
o poder de revolta que meus olhos bebem,
minha sã consciência desses tempos baços,
meus espaços de ação em favor da esperança...
Com a voz estridente ou silêncio profundo,
numa tela, uma pauta ou num muro baldio,
nas entranhas do mundo e nas periferias
das verdades da vida que mente pra mim...
Tenha eco, não tenha, tanto faz pro grito,
esse rito, esse culto, minha tradição,
mão na tábua que o mar não engoliu ainda...
É assim que devolvo demônios e pragas,
que desvio as adagas, confundo inimigos
e me faço de vivo pra sobreviver...
O GRITO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Eis aqui meu sermão:
abro mão de abrir mão
de abrir o verbo e gritar.