Grandes Pensadores
A música é feita com a mesma substância da alma e ambas igualmente expressam a razão por trás da existência.
Querer escrever como se fala é tão condenável quanto o contrário, ou seja, querer falar como se escreve, o que resulta num modo de falar pedante e ao mesmo tempo difícil de entender.
As pessoas que passam suas vidas lendo e tiram sua sabedoria dos livros são semelhantes àquelas que, a partir de muitas descrições de viagens, têm informações precisas a respeito de um país. Elas podem fornecer muitos detalhes sobre o lugar, mas no fundo não dispõem de nenhum conhecimento coerente, claro e profundo das características daquele país. Em compensação, os homens que dedicaram sua vida ao pensamento são como aqueles que estiveram em pessoa no país: só eles sabem propriamente do que falam, conhecem as coisas de lá em seu contexto e sentem-se em casa naquele lugar.
Bastar-se a si mesmo; ser tudo em tudo para si, e poder dizer trago todas as minhas posses comigo, é decerto a qualidade mais favorável para a nossa felicidade.
Pode ainda considerar-se a nossa vida como um episódio que perturba inutilmente a beatitude e o repouso do nada.
“Para a maioria dos homens, a vida não é outra coisa senão um combate perpétuo pela própria existência, que ao final será derrotada.”
Os homens em geral, 5/6 deles são de tal maneira constituídos moral e intelectualmente que quem não é levado pelas circunstâncias a se relacionar com eles deve, de preferência, evitá-los desde o início e permanecer o mais distante possível do seu contato.
Perdoar e esquecer equivale a jogar pela janela experiências adquiridas com muito custo. Se uma pessoa com quem temos ligação ou convívio faz-nos algo desagradável e irritante, temos apenas de perguntar-nos se ela nos é ou não valiosa o suficiente para aceitarmos que repita uma segunda vez e com frequência semelhante tratamento e até de maneira mais grave. Em caso afirmativo, não há muito a dizer, porque falar ajuda pouco. Temos, portanto, de deixar passar essa ofensa, com ou sem reprimenda; todavia, devemos saber que agindo assim estaremos nos expondo à sua repetição. Em caso negativo, temos de romper de moto imediato e definitivo com o valioso amigo ou, se for um servente, dispensá-lo. Pois quando a situação se repetir, será inevitável que ele faça exatamente a mesma coisa, ou algo inteiramente análogo, apesar de nesse momento, assegurar-nos o contrário de modo profundo e sincero. Pode-se esquecer tudo, tudo, menos a si mesmo, menos o próprio ser, pois o caráter é absolutamente incorrigível e todas as ações humanas brotam de um princípio íntimo em virtude do qual, o homem, em circunstâncias iguais, tem sempre de fazer o mesmo, e não o que é diferente. (Aforismos para a sabedoria de vida, p 213)
Quem tem a inclinação e o hábito de submeter secretamente a conduta dos outros e em geral também as suas ações e omissões a uma atenta e severa crítica, trabalha na verdade em prol da própria melhoria e do próprio aperfeiçoamento, pois possui o suficiente de justiça, ou de orgulho e vaidade, para evitar o que amiude censura com tanto vigor. Em relação aos tolerantes, vale o oposto, como diz Horácio: HANC VENIAM DAMUS PETIMUSQUE VICISSIM, quer dizer, "concedemos esta liberdade e a solicitamos igualmente. (218)
Cada um possui certos princípios de conduta inatos e concretos que fluem no seu sangue e seiva como resultado de todo o seu pensar, sentir e querer. Na maioria das vezes, cada um os conhece não in abstracto, mas só ao olhar retrospectivamente para a própria vida, percebendo um fio invisível. Conforme a natureza de tais princípios será conduzido à felicidade ou à desgraça.
Se na infância dedicado-nos com muita seriedade à primeira compreensão intuitiva das coisas, a educação esforça-se para nos transmitir CONCEITOS. Mas os conceitos não nos fornecem a verdadeira essência das coisas; esta, ou seja, o conteúdo profundo e autêntico de tudo o nosso conhecimento, reside antes na concepção INTUITIVA do mundo. Tal concepção, no entanto, só pode ser adquirida por nós, e de maneira alguma nos poderia ser ENSINADA. Donde resulta que o nosso valor, seja ele moral ou intelectual, não nos chega de fora, mas procede da profundeza do nosso ser, e nenhuma das artes pedagógicas pode transformar um simplório de nascimento num pensando: nunca! Simplório ao nascer, simplório ao morrer.
Por que na juventude miramos a vida como imensuravelmente longa? Porque temos de encontrar lugar para as esperanças sem limites, com as quais a povoamos e para cuja realização Matusalém teria morrido jovem; em seguida, porque todomamos como medida da vida os poucos anos que já temos atrás de nós, cuja lembrança é sempre rica em material, portanto longa, já que a novidade faz todos os eventos parecerem significativos.
Na juventude rege a intuição, na velhice, a reflexão. Dessa forma, aquela é a idade para a poesia, esta mais para a filosofia. Também em termos práticos somos determinados na juventude pelo que foi induzido e por sua respectiva impressão, na velhice apenas pelo que foi pensado. Em parte, isso se deve ao fato de que s[o na velhice ha casos intuitivos em numero suficiente para serem subsumidos a conceitos, ganhando, assim, plena importância, conteúdo e credito; ao mesmo tempo, ha moderação, pelo hábito, da impressão do que foi intuído. Por outro lado, na juventude, a impressão das intuições portanto também do aspecto exterior das coisas especialmente quando se trata de cabeças vivazes e fantasiosas, é tão preponderante, que o mundo é visto como uma pintura. Desse modo, preocupam-se sobretudo em saber como figurarão e se apresentarão nesse mundo, bem mais do que a respeito da própria disposição interna. Isso se mostra ja na vaidade pessoal e no exagero em cuidar da aparência, característicos dos jovens.
Em presença de um acontecimento desgraçado já ocorrido, no qual, por conseguinte, não se pode mudar nada, não devemos nos abandonar à ideia de que poderia ser de outra maneira; menos ainda refletir sobre o que poderia ter sido feito para que fosse diferente. Porque isso simplesmente intensifica a dor até o ponto em que se torna insuportável, e assim nos tornamos "aquele que atormenta a si próprio". Pelo contrário, devemos estalar os dedos e nunca mais pensar nisso. Aquele que não é bastante leve de intelecto para conduzir-se dessa maneira deve refugiar-se no fatalismo e convencer-se da verdade de que tudo que ocorre, ocorre necessariamente e, portanto, inevitavelmente.
Não obstante, essa regra só tem valor em um sentido. Em um caso de infortúnio, é útil para nos proporcionar alívio e consolo imediatos; porém, quando, como acontece muitas vezes, a culpa é de nossa própria negligência ou irreflexão, então a meditação repetida e dolorosa dos meios que poderiam ter impedido o acontecimento é uma autodisciplina saudável que nos serve como lição e aprendizado, isto é, para o futuro. Não devemos tentar desculpar, atenuar ou diminuir as faltas de que somos evidentemente responsáveis, mas confessá-las e trazê-las claramente ante nossos olhos em toda a sua extensão a fim de tomar a firme decisão de evitá-las futuramente. Temos, é verdade, de nos infligir o doloroso sentimento do descontentamento de si mesmos; entretanto, o homem não castigado, não aprende.
Todo autor se torna um escritor ruim assim que escreve qualquer coisa em função do lucro. As melhoras obras dos grandes homens são todas provenientes da época em que eles tinham de escrever ou sem ganhar nada, ou por honorários muito reduzidos.
É preciso ser paciente, pois um homem de intelecção justa entre pessoas enganadas assemelha-se àquele cujo relógio funciona com precisão numa cidade na qual todos os relógios de torre fornecem a hora errada.
Gradualmente nos tornaremos indiferentes ao que se passa na mente de outras pessoas quando adquirirmos um conhecimento da natureza superficial de seus pensamentos, a estreiteza de seus pontos de vista e da quantidade de seus erros. (...) Aquele que dá muito valor às opiniões dos outros presta-lhes muita honra.
Tudo o que existe e acontece para o homem existe imediatamente apenas na sua consciência e acontece para ela; logo, manifestamente, é a qualidade da consciência a ser primeiramente essencial e, na maior parte das vezes, tudo depende mais dela do que das figuras que nela se expõem.
Quem atribui um grande valor à opinião dos homens presta-lhes demasiada honra.
Se as crianças fossem trazidas ao mundo apenas por um ato de pura razão, a raça humana continuaria a existir? Um homem preferiria ter tanta simpatia pela geração vindoura, a ponto de poupá-la do fardo da existência? Ou, de qualquer forma, não se encarregaria de impor esse fardo a sangue frio.