Garça
A política da garça
A garça precisa voar para tirar os dois pés da lama! Não adianta alternar, encolhendo ora um, ora outro.
A Garça de Lamego -
Eu quero ser a Garça de Lamego
aquele amor que começa e não acaba
ser o oiro que cintila o seu cabelo
um Romeiro que chega e não abala.
Eu quero ser a chuva que nasce da manhã
a erva que irrompe à deriva pelo campo
quero ser esta loucura que me é sã
em cada verso que nasce do meu canto.
Eu quero ser a morte com rosto de madeira
eu quero ser a vida com asas de andorinha
eu quero ser amado de todas as maneiras,
de todas as maneiras, não da minha .
para entrar no poema
tire os sapatos...
como a garça, pé ante pé,
não esbarre nas palavras barulhentas:
minha cicatriz tem sono leve.
a garça aviva sua brancura
a garça encrespa sua brancura
a garça finge suabrancura
a garça é plágio do urubu
A garça e o bebê
Foi uma cena linda, a admiração do bebê ao contemplar a linda garça branca em seu desfile majestoso no lago que existe no interior do meu condomínio.
O mundo parou por um instante, o bebê sorria e balança as mãos enquanto seu pai a segurava na posição ereta com os pés tocando o chão.
O que para muitos pode ser algo normal, para ele parecia inédito.
Quando e como foi que perdemos esse poder?
De se encantar com coisas simples, de admirar o comum, de rir espontaneamente sem se importar com o que os outros pensam.
Muitos casamentos seriam salvos, amigos continuariam nutrindo seus laços de amizade, e seríamos mais felizes.
Se reencontrassemos a capacidade de admirar o repetido, de se alegrar com gestos simples, de sorrir por gratidão só pelo fato da presença de quem gostamos, muitas palavras duras seriam contidas, brigas seriam evitadas.
Pena que insistimos em envelhecer, nos tornamos chatos pelo fato de não ver graça nas coisas, idade cronológica não define quem é velho, pois existem anciãos maduros, e jovens envelhecidos.
Tenha em mente que o mundo é o mesmo para todos e se mostra maravilhoso, e a vida é bela, se enxergas diferente disso, é preciso mudar a sua lente.
a garça
por voar não muito longe do chão
não muito longe das companheiras
por não ser extremo voo absoluto
por ser asa temperada em lama e luz
por ser ave suavizada em luz e ar
fórceps
garça força a saída do peixe;
dentista, a saída do dente;
poeta, a saída do verso;
inclusão, entrada forçada;
este mundo
nem me ouve,
nem se abre,
só a sabre
penetrei.
A galinha no galinheiro tem grãos para comer, mas também tem a panela por perto; a garça selvagem não tem grão algum, mas seu mundo é vasto.
exposta à violência do vento,
do mar, do homem
e de sua fantasia,
a garça fica nua
para vestir a burguesia
A história da garça branquinha que entra num rio imundo e sai limpinha não serve de paradigma para o jogo do poder. No meio ambiente a garça é pura e inocente; no projeto de poder, o homem é feroz, falso, mentiroso; a perfídia e o engodo são sempre a regra.
Ao servir a alguém de má índole, não espere recompensas, e ainda agradeça caso o mesmo vire as costas e vá embora sem lhe fazer mal algum.
Aquela manhã era derramada de azul, sem o excesso desgosto onde na noite um querer fatigado se esconde. Era uma garça ou simplesmente o divino manifestando de maneira diferente uma chegança, anunciando outra saída para a vida aqui de dentro?! O que escapava era a loucura silenciosa, entrelaçada às nuvens de sal que ornamentavam toda passagem transformada. O pequeno graveto calculava a distância de onde seria noite àquelas horas e dos olhos que adormeciam alinhados à grande lanterna dourada que ia desbotando as cores do amanhecer. Como um espichar barbante e tocar eloquente qualquer inutilidade que naquele momento crescia também em qualquer quintal... Qualquer azul que derramava sol ou caía púrpura num minuto que existia o mundo inteiro.