Galhos
Outono é a estação das folhas secas, que como flores se desprendem uma a uma dos galhos forrando o chão com as lembranças do verão que já passou.
Para não houver novas quedas e surgimentos de folhas, não adianta quebrar os galhos, e sim, interferir nas raízes.
Não se engane! O fato dos meus galhos estarem secos, não significa que eu esteja morta. Tenho raízes profundas como árvore de cerrado, sou teimosa e resiliente, quando você menos esperar, estarei florida de novo.
Tem certas flores, você já reparou? que são belas e perfumadas enquanto estão nos galhos, nos jardins. Levadas pros jarros, mesmo jarros de prata, ficam murchas e morrem.
Há mil cortando os galhos do mal para cada um que ataca sua raiz.
Há mil podando os galhos do mal para cada um que golpeia a raiz.
Amanitas
Dos ziguezagueantes galhos
que pendem o caule vermelho
de quiméricas raízes
caem, aqui e ali.
doutrinados frutos pretéritos.
E eles caem aos poucos,
aqui e ali,
entre gestos e palavras.
Vagas frases e palavras
pretensamente completas
no lapso de ambíguas reticências...
Como são belos os cogumelos!
AugustoSisos
A vida interior é uma experiência evidenciada pelo fundamental de encontrar a si mesmo. Não há quem tire o que foi construído com bases sólidas da experiência e busca constante de conhecimento. Os galhos se vão, as raízes sempre ficam em árvores com sustentação.
Eu não "sou de mim".
Não sou de ninguém!
Eu sou das palavras de amor,
Das gotinhas de chuva,
Dos ventos entranhados
nas folhas dos galhos,
Do brilho encantado que tem nas estrelas,
Eu sou das asinhas dos pássaros…
Toda amizade e consideração devem ser reciprocas. Para aqueles que não nos reconhecem, jamais devemos reconhece los. São apenas vultos inanimados e sombrios pelos caminhos.
Somos as raízes da terra... que se fortalecem, se nutri, cresce , se espalha, germina...O que se semeia... caminha, se conecta, conhece, evolui, para poder só então voltar a terra sentindo os galhos e ramificações que já existiam desde início, mas que não se permitiam pertencer a raiz.
Floresça onde Deus te plantar.
Todas as vidas importam.
Olhe para o Bem, seja Bom e verdadeiro
Ósculo
Fortes são tuas raízes
Frutos doces, como mel
Teus galhos são copados
Agasalho, infinito, céu...
Limite entre o espaço
Que ocupo no teu abraço
Descanso, saciar...sonhar
Entre o chão e o infinito
Tens tu ó Ser
A magia do encantar
Tu abrigas a brisa o vento
Suave toque, a acarinhar
Como o bater de asas do colibri
Sinto o ósculo adocicado
O ar, a tocar a face, aromatizado
Teu bailado, ao redor
Polinizando, dança, encanta.
Faz sonhar.
Admiro as árvores, por mais que a machuquem amputando-lhe folhas e galhos, no mesmo lugar crescem novamente mais firmes, bonitos e vivos.
Menina de rua
Ela é gente, não é grande
É pequena.
Ela brinca, pula, corre, dança
E em galhos se balança
Ela nunca perde a esperança.
Por ela muitos passos calçados passam
Mas os passos dela são descalços.
Ela é frágil ela sonha ela tem esperança
E de sorrir nunca cansa
Mesmo embora sua alma chora.
Ela gosta de bonecas mas não as tem
Ela sente fome também
E guarda as migalhas
Que ganha de alguém.
Ela quer ser médica, cantora, engenheira
Ou veterinária...
Mas dorme sobre tralhas ofendida por Canalhas que a tratam com desdém.
Ela é frágil meiga e delicada
Mas seu espirito é tão forte quanto as
Marquises e pontes que dorme com
Outros aos montes.
Ela é filha mais não tem pais
Vive nas ruas adorando casais
E sobrevivendo aos natais.
Ela é carente ela é valente
Não ganha presente mas fica
Contente se ganha das gentes
Um pouco de paz.
Ela é humana humilhada sem
Ser amparada tratada como bixo
Procurando brinquedos
No meio do lixo.
Ela é um anjo jogadas a sorte
Esperando a morte ou quem
Sabe alguém que se importe
E a ela adote, lhe abrace bem
Forte, pergunte seu nome
E descubra o amor.
...a menina de rua encontrou um lar.
CREPÚSCULO NO CERRADO
Na tarde do cerrado, rubra o horizonte
Pulsa, nos arbustos de galhos tortuosos
O fim do dia. Em cheiros tão saborosos
No crepúsculo tropical, de poética fonte
Tudo, entre rútilos, vermelhes fragosos
Raspando a luz no seu total desmonte
Gerando sombras e enigmática ponte
No breu, vozeando coros lamentosos
A lua, se apresenta com seu alvo manto
Cercada no céu por um véu de casimira
Desenhando o anoitecer com ternura...
Dentre todas as criaturas, meu espanto
Por tão dadivoso encanto, que se expira
No fugaz beijo, inicia a noite, tão escura.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
ALVORADA NO CERRADO (outono)
O vento árido contorna o cerrado
Entre tortos galhos e a seca folha
Cascalhado, assim, o chão assolha
No horizonte o sol nasce alvorado
Corado o céu põe a treva na encolha
Os buritis se retorcem de lado a lado
Qual aceno no talo por eles ofertado
Em reverência a estação da desfolha
Canta o João de barro no seu telhado
É o amanhecer pelo sertão anunciado
Em um bordão de gratidão ao outono
A noite desmaia no dia despertado
Acorda a vida do leito consagrado
É a alvorada do cerrado no seu trono
Luciano Spagnol
Agosto/ 2016
Cerrado goiano