⁠QUANDO NÃO FOR ESPERA Tudo o que ela... Vanessa Brunt

⁠QUANDO NÃO FOR ESPERA Tudo o que ela precisa É desaprender a morrer Que de tanta morte-viva Acostumou-se a se refazer. Por onde a pulsação anda Ela arrasta tod... Frase de Vanessa Brunt.

⁠QUANDO NÃO FOR ESPERA
Tudo o que ela precisa
É desaprender a morrer
Que de tanta morte-viva
Acostumou-se a se refazer.
Por onde a pulsação anda
Ela arrasta todo o caixão
E onde aparece uma sombra
Prepara o buraco no chão.
Pega o corpo defunto molhado
E levanta inteiro outra vez
Sem crer em dia ensolarado
Que poderia enxugar os clichês.
Faz flor na terra esburacada
Mas não acredita em quem se diz vivo
Arranca das costas facada
E não confia nos curativos.
Tudo o que ela precisa
Ah!
É desaprender
Que de tanto ser natural, morte
Nem acredita mais em benzer.
Não fecha os olhos em cochilos longos
Nem mesmo permite que dure o repouso.
Procura provas de que o pernilongo
Fará outro homicídio culposo.
Tudo o que ela precisa, oras!
É uma história para não se enterrar
Um livro, uma água fresca, uma semente
Que vai florear.
Uma paciência de Jó
Para entender quem muito voltou
Dos mortos, terra na garganta
De onde ninguém mais pisou.
Um filete de luz quando o escuro
Vier de mansinho pós-sol
Um sentimento todo seguro
De nem morrer, nem viver
Em prol.
Apenas coisa bonita, que não fecha
A entrada do ar que respira.
Tudo o que ela precisa
É aprender mais o que admira.
Porque
Quando o tempo não for mais o tempo
E o doer não for a-versão
Quando tanto não der n’outro pranto
Quando o sim for menos que o não
Ela chora, ardendo, gritando
Faz calar toda, tanta, ilusão
E o peito, cremado, berrando
Diz, enfim, que chorou de emoção
Sabe, aqui, que tudo faz motivo
Quando a hora não é de moer
E o bordado, bordado agressivo
Sabe, enfim, n’outra mão se caber
E o sentido que ninguém achava
Escondido, no que era pra’si
Faz resposta, assim, intuitivo
Como se choro pudesse sorrir
Entre adeus, chegadas e meios
Prefere ter tudo onde possa ficar
Porque voltar, já não suficiente
Faz a dor calejada sarar
Mas fica inda batendo tão roxo
E assim ninguém volta a sua cor
Aprendido que o cadarço frouxo
Não segura nenhum caçador
E agora ela entende o momento
De agradecer somente a quem fica
Casa, ninho, asa que descansa
Quando ir não destrói o que habita
Quando o tempo não for mais o tempo
Quando a marca não mais desbotar
Ela vai terminar o bordado
Ela vai saber se podar
Porque horta, para crescer grande
Só se poda quando se rega
Quando o tempo não for mais o tempo
Ela vai enxergar quando cega
Quando tudo não for mais a tora
Quando a hora não for o seria
Toda cura será para agora
Todo precisar saberia
Pelo belo de (se) achar mais bonito
Dentro d’olho de quem faz caminho
Casa, tranca, risco na parede
Quando tempo não se faz sozinho
E ela vai saber ceder,
Vai pedir
Demorado
Quando o tempo não for mais o tempo
Finalmente não será (mais) calado
Que de tanto corpo sem vida
Parou de ter tempo para viver
Mas quando o tempo não for mais o tempo
Não terá tempo é para morrer.
(Vanessa Brunt)