11h11 — Ainda estávamos a sós... Sílvio Fagno
11h11 —
Ainda estávamos a sós na sala,
esperando o resto das pessoas chegar, quando dividimos uma cadeira,
um violão e uma canção.
Havia uma estranha falta que a pele ali implorava preencher-se em cada esbarrar de mãos e pernas (sob as roupas).
(Também pudera: passara-se alguns dias que não nos víamos), e era nítido a saudade no fitar de olhos e no entusiasmo com que nos procurávamos entre as pessoas que, enfim, ali estavam para o ensaio daquela manhã.
Dera, então, onze e onze, e de repente,
ela olhou-me, deu-me o sinal
e, juntos, sorrimos.
(Sim, sorrimos e ninguém, além
de nós dois ali, entendeu),
e digo que assim foi bonito.
Talvez, naquele instante, estivéssemos num grau — interno — mais elevado que
todo o resto do mundo.
As pessoas, em sua maioria,
quando se fala em
Universo,
pensam logo em algo
grandioso para
fora.
Eu penso em algo grandioso
para dentro.
Há um perigo aí (um perigo
estranho e bom): ela me liga à arte.
E as mulheres que me ligam à arte,
me ganham para a vida.