O Passar do Tempo - Até minha... Sílvio Fagno
O Passar do Tempo -
Até minha adolescência
(exceto para lembrar-me
as datas e horários dos meus programas de TV favoritos),
como um bom adolescente,
eu não sabia bem para quê
serviam relógios, despertadores
e calendários.
Pra mim,
eram desnecessários
e eu me sentia alheio
a tudo.
De uma maneira mais consciente,
não tinha a percepção do
passar do tempo.
Assim,
me sobrava tempo
para a liberdade
de não temer
as horas,
os dias,
os meses,
os anos.
Mas chega uma certa idade
que passamos a nos relacionar diretamente, de uma maneira
um pouco mais íntima,
com o Tempo.
Dormir, comer, passear,
trabalhar...
tudo passa a ser controlado, contado, cronometrado,
medido.
Passamos a ter que nos
moldar para que, de algum
modo,
caibamos naquele dia.
(Inevitavelmente sempre
há sobras).
Então
espalhamos relógios,
despertadores, calendários
por todos os cômodos, cantos
e caminhos.
Sentimos na pele e ossos
e mente o passar
dos anos.
Começamos a perceber
coisas que, antes,
pareciam não
existir.
E,
hora ou outra, esquecer
outras.
Às vezes
começa perto dos trinta;
às vezes aos trinta, perto
dos quarenta,
não sei.
Mas tenho a impressão
que mais na frente,
bem mais lá na frente,
ficaremos tão ligados,
tão íntimos do
Tempo,
que a vida não saberá
mais diferenciar-nos.
E
então,
é chegada a hora.