Olhei para trás e a savana perdida... Maria Almeida

Olhei para trás e a savana perdida entrou-me pelos olhos dentro. Na sua decolagem intrépida, o avião parecia estratificar-se contra a massa de ar quente, fazend... Frase de Maria Almeida.

Olhei para trás e a savana perdida entrou-me pelos olhos dentro.
Na sua decolagem intrépida, o avião parecia estratificar-se contra a massa de ar quente, fazendo cócegas na minha vasta esperança.
Lembro-me de ter sorrido ao imaginar a hipótese íntima e remota, ouvindo o meu coração dançar.
Alguma coragem sólida, depois de ter tocado com os dedos no vermelho fogo das folhas. Voar… mesmo quando tudo parecia desabar.
Devagar, com a mente raiada no horizonte, rodei a imagem gravada na retina, fixando-a algures, num outro infinito, aí permanecendo petrificada, teimosamente ausente do que era obrigada a deixar no ontem e no minuto atrás.
O barulho ensurdecedor do avião humedeceu-se na calma plenitude de um céu imensamente azul, e eu senti, como se, sob a minha pele, o meu corpo tivesse mudado, como se, depois do arrepio de cada fibra, eu me dispersasse e encontrasse como folha solta na turbulência do vento.