Leda Minha avó Leda está doente. Não... Patrícia Pinheiro

Leda

Minha avó Leda está doente. Não se sabe bem ao certo se é orgânico, se é cansaço, ou se é uma soma das duas coisas.

Acho que a preocupação, o querer alguém tão bem a ponto de desejar pegar todo para si o seu sofrimento, é a maior prova de que amamos alguém. E eu a amo pelos seus detalhes.

A amo pelas pequenas mesinhas de abrir que mantinha em sua casa em minha infância, nas quais eu desfrutava de sua deliciosa salada de maionese nos almoços de domingo.

A amo pelos vistosos brincos de pressão que nunca deixaram de estar pendurados em suas orelhas, pelo batom coral em seus lábios e pelas suas unhas sempre bem feitas.

A amo por ter uma poltrona só dela em sua sala de estar, e pelo jornal rigorosamente posto a sua frente.A amo por seu amor à leitura.

A amo por sua intimidade e gentileza aos garçons, aos porteiros de seu prédio, aos filhos desses porteiros.

A amo até mesmo por sua sinceridade muitas vezes cruel, mas, acima de tudo, por sua sinceridade consigo mesma.

A amo pelo cheiro, pelas camisolas, pelos olhos azuis brilhantes, pela inteligência, pela coragem, pelo medo, pelo senso de humor, pela preocupação, por ser minha.