A HODIERNIDADE, SOCIEDADE DE MERCADO E O... alessandro de azevedo...

A HODIERNIDADE, SOCIEDADE DE MERCADO E O MITO DO MINOTAURO

Platão já dizia: “Que o Estado é o que é porque os cidadãos são o que são e não devemos ter Estados melhores, enquanto não tivermos cidadãos melhores”. Vivemos em um contexto social que as pessoas se tornaram coisas e por isso, têm preços e tudo absolutamente tudo, é comprável.
No mito grego do Minotauro, o Rei Minos é punido por Zeus pelo seu apego exagerado ao touro branco que deveria ser sacrificado em honra ao deus e a sua esposa acaba por copular com o touro, também fascinada e tão apegada quanto o Rei dando origem ao Minotauro. E qual será o preço que pagamos por esta necessidade de posse extremada em aspectos voláteis da existência?
Uma fixação em valores de mercado aonde o epicentro a comandar as relações sociais é a posse, o ter, faz com que ocorra sem que percebamos uma transmutação de significados que paulatinamente coloca uma etiqueta de preço em volta de nossos pescoços acreditando que o dinheiro é a nossa panaceia, que só podemos ser felizes de fato se o tivermos em níveis de ostentação.
O caso da jovem brasileira que ofereceu a sua virgindade é apenas uma demonstração desta realidade; não se trata com isso dizer que as pessoas não possam ter o direito de opinar por ter a posse e a propriedade de seus corpos e com isso fazer o que bem quiserem deles. A esfera a ser abordada é outra. Nossa sociedade foi construída em cima de valores que foram decantados através de milênios nos permitindo alcançar os patamares de civilidade que atualmente nos encontramos.
Solapar tais viéses tendo como justificativa que ninguém um (álter) foi prejudicado, é desconstruir as bases que nos dão a possibilidade de sermos não apenas seres biológicos, mas criaturas que foram além do físico. A natureza nos é dada para ser compartilhada com consciência e não com um sentimento de posse desenfreado; nós não somos donos nem mesmo de nossas vidas; a qualquer momento podemos morrer independentemente de termos dinheiro ou não; não possuímos um absoluto controle de nada e qual será o legado que devemos ofertar aos nossos descendentes?
A perda das referências do que nos faz sermos o que somos apesar das imensas mazelas que ainda nos circundam é perigoso e preocupante; o filósofo Immanuel Kant já pontuava: "Age como se fosses, através de suas máximas, sempre um membro legislador no reino universal dos fins." SAPERE AUDE!