BRASILIDADE: VERDADE OU MITO? Do... alessandro de azevedo...

BRASILIDADE: VERDADE OU MITO?
Do Oiapoque ao Chuí, quando se pensa em um elo a cada pessoa que habita a vastidão da terra brasilis, o que vem ab initio, de pronto, são as características extrínsecas mais conhecidas e divulgadas no planeta, que o brasileiro é: alegre, sensual, pacífico e hospitaleiro.
As matrizes étnicas formadoras do povo nação que surge no Brasil, não tem o assento na colonização e sim, no relevo de um conjunto de povos distintos que são obrigados a uma sobrevivência fomentada no caso dos portugueses, na resolução do problema carcerário lusitano com o envio da escória para explorar as riquezas aqui existentes.
Em se tratando dos habitantes que aqui já existiam, sua ingenuidade, espanto e dignidade, os conduziu a um grande genocídio, que só não foi maior, devido a sua fuga para as profundezas da floresta e à beleza das índias que eram acostumadas a passear nuas em pelo, mostrando suas vergonhas sem malícia, que foram exploradas sexualmente, tornando-se mães de bastardos que serviriam como mão-de-obra futura.
O negro trazido á força, sobretudo da Costa Ocidental Africana, para o trabalho escravo, teve uma atuação a priori passiva na formação do futuro povo brasileiro, mais que, pari passu, se transformou na força motriz da nascente nação, apesar de sempre tratado como animais de carga conseguiram manter viva suas tradições tornando-se desde sua chegada, parte do cabedal genético do que somos hodiernamente.
Toda esta miscelânea de povos que se transformou no que a nação brasileira é atualmente tem uma característica em comum: sua coisificação na mão dos ditos civilizados. Seria este o liame que faz com que sejamos conhecidos mais por características ligadas a um comportamento passivo, sensualmente excessivo, na aceitação de mazelas tendo a esperança apenas na divindade, no frequente é assim mesmo, e sempre e acima de tudo na valorização excessiva a tudo o que é estrangeiro e na constante vontade de festejar?
Poderia se pensar que uma vez que recebemos todo este patrimônio cultural e psicológico, deveria ser conditio sine qua non, para que agíssemos de modo tão peculiar? Esta brasilidade que parece ser como nosso DNA, poderia ter sido fomentada? Será que o que nos une, acima de nossas famílias, cor da pele, modo de falar e lugares aonde nascemos não passa de um mito com interesse de dominação?

A falta de interesse e por outro lado o medo, de grande parte dos brasileiros para participarem de lutas onde estão envolvidos direitos e garantias fundamentais, tem sua raiz antropológica oriunda em um estado de psicológico de passividade que foi aprendido e fomentado como forma de controle dos mestiços que aqui se formaram.
Este comportamento também é encontrado em famílias que não trazem na carne, uma história de usurpação de sua humanidade e que fazem parte dos povos que participaram no outro lado da formação da gente brasilis: os europeus que aqui em massa vieram após a abolição da escravidão. Estas são propagadoras do: deixa disso! Para que tanta preocupação com uma situação que não pode ser mudada mesmo?
O viés ideológico é uma das ferramentas mais utilizadas para a manutenção de um status quo de quase indiferença, aonde se insere que as coisas foram e sempre serão assim, dá a forma do quadro que se manifesta repleto de absoluta apatia; grande parte da população acredita que a corrupção na política é normal; outros a defendem afirmando que desde que o político faça alguma coisa que diga de passagem, lhe é merecido, devemos simplesmente ignorar o fato de que ele se aproprie de algo; quase como uma forma de compensação.
Como se dá a construção de uma unidade coletiva? Será que os referenciais mais usados são as características comportamentais da maioria em uma tentativa de padronização cultural? Onde está o epicentro? A gênese é nata ou foi criada? Teriam estes segmentos morais e psicológicos algum vínculo com uma tomada passiva de consciências ditada pelas elites políticas donas do poder, no já antigo mais não ultrapassado, discurso de massificação?
Ao lançar um olhar sobre estes questionamentos um observador não atento poderia pensar que isto seja palavrório sem sentido, sem um porque de ser. Será mesmo assim? Talvez interesse mais a maioria da população, qual será o próximo sucesso de Michel Teló, quantos gols o Neymar irá fazer, se no Big Brother irá ter alguma atriz gostosona Global seminua, se o candidato a Prefeito que escolhi irá me dar àquela vantagem, aquela; não quero dizer que não se possa ou deva pensar em tais elementos; o que põe aqui e não só.
Por que será que existe tanta discriminação aos afro-americanos? Alguém poderia dizer: Não existe não! È óbvio que existe! Discriminar não consiste em apenas denegrir a pessoa mais também, seu modo de pensar, acreditar, se vestir enfim, todo o complexo de comportamentos que definem o seu existir. Ainda hoje não se dá efeito civil a celebrações matrimoniais de cunho africano a título de exemplo. Quem é que disse que a religião deles não serve? Quem pode afirmar que não existe Deus em seu modo de se relacionar com o sagrado?
O nosso interesse político está muito aquém do ideal; isto é fato explícito que se torna visível nos mais variados rincões brasileiros; ainda hodiernamente existe o voto de cabresto; o voto de compromisso consigo ou com o patrão. E qual seria a razão de ser desta atitude estéril a padrões de ética, preocupação real com a nação e separação entre o que público e privado? Poderia se afirmar que os detentores do poder, manipulam as pessoas a acreditarem que apenas por intermédio deles é que conseguiram algo em suas vidas; apenas com a sua grande bondade é que eles fazem o favor de ajudar a nação.
A compreensão daqueles que estão ocupando cargos de mando público que não são vereadores, prefeitos, ou governadores, ou deputados ou senadores ou ainda presidentes; eles estão nestes casos para servir não a eles mais ao povo; ao povo!
Os povos indígenas têm suas próprias leis e modos de encarar a realidade; não devemos obriga-los a seguirem os nossos costumes. È evidente que aqueles que vivem fora de aldeias devem se submeter às leis do país; agora querer impor o que é nosso em detrimento de sua cultura e também um processo de desumanização e ao mesmo tempo uma rotulação de necessariamente certo e bom.
Uma consciência mais observadora se faz com estudo formal mais denso e crítico. Ao olharmos as nossas instituições de educação o que pode observar amiúde é a péssima educação que temos! As nossas Escolas, Faculdades e Universidades não fomentam a pesquisa nas áreas sociais, não apoiam os alunos com senso crítico mais apurado; elas preferem aqueles indivíduos que reproduzam os discursos dos professores, que ficam quietos sem fazer perguntas mais profundas e relevantes, que não reclamam dos péssimos professores, das atitudes arbitrárias de Coordenadores e Diretores. Os que o fazem são perseguidos das mais criativas formas.
São pouquíssimos os Professores que dão espaço a questionamentos mais complexos e que ligam o conteúdo da disciplina a situação em que o país está passando. O nosso sistema educacional é reprodutor das mazelas, da passividade e da falta de criatividade. O aluno não pode extrapolar a resposta já esperada com dinamicidade. Ele tem que escrever aquilo que está escrito ipsis literis, naquele único livro que o professor usa.
Nos consultórios de Psicólogos e Psicanalistas, o número de crianças que trazem dos médicos o rótulo hiperatividade está aumentando de maneira absurda; uma criança não pode mais não gostar da aula e conversar um pouco com outra que já recebe a alcunha de hiperativa; qualquer atitude que não seja de se manter quieta como um robô, já é motivo para os diversos rótulos psiquiátricos; o dado mais alarmante é o início precoce do uso de psicofarmácos; a indústria farmacêutica é claro, sempre agradece.
Outra pergunta caberia aqui: quem é que pode afirmar que os mais variados interesses imediatos, portadores de vieses psicológicos confortadores, atuais, mas, não relevantes, não seria uma estratégia de manter a grande parte da população em uma zona de conforto, no mundo encantado do faz de conta aonde os ditos cidadãos, só se realizam através de gols, filmes, cerveja e batucada, programas de auditório, novelas, carnaval e propagandas de carros ou casas.
SAPERE AUDE!