"O vento é agradável e quente... Brenda de Almeida
"O vento é agradável e quente nessa noite de Abril. Há poucas pessoas em volta e minha cabeça está inclinada entre seu ombro e pescoço, de uma maneira que consigo sentir sem esforço o cheiro do seu perfume, que era, de longe, o meu favorito. Com uma das mãos ele acaricia meu cabelo, alterando entre um cafuné e um carinho delicado no meu ombro. Sinto meu corpo tremer e deixo que aquele arrepio percorra meu corpo inteiro. Continuamos assim durante alguns minutos em silêncio. Olho para ele e sorrio. Ele me beija a testa, solto um gemido baixo.
- Isso nunca vai dar certo… – sussurro ainda com seus lábios colados em minha testa.
- Deixa de ser teimosa! – diz ele soltando uma risada. Brinca com meu nariz e depois o solta.
Rio. Ele me diverte e o pior é que não tem noção de como me faz bem. Ajeito meu corpo em seu colo e ele em um movimento calmo me envolve completamente em seus braços e me puxa para perto. Consigo sentir seu hálito fresco da tamanha a proximidade de nossos rostos, ele sorri torto e não consigo deixar de retribuir o sorriso. A luz da lua parece acariciar o seu rosto, seus olhos negros, intensos, vivos e alegres ganham um brilho arrebatador.
Eu não era teimosa, e tinha a total certeza de que não daria certo no momento em que lhe dei o meu primeiro “sim”, e o “sim” daquela tarde no carro, naquele final de semana nas férias, no corredor durante o intervalo da aula (…) e hoje, quando recebi sua mensagem. Então, porque eu disse sim todas às vezes? E pior, porque hoje? Depois de tanto tempo? Talvez seja por causa do cabelo desgrenhado ou daquele olhar negro. Talvez seja o sorriso torto ou a maneira como gesticula, como olha, como ri, como ousa me desvendar. Ou agora, com sua respiração quente ao pé do meu ouvido…
- Senti sua falta! – disse ele, obviamente mentindo.
Mentira! Ele beija meu pescoço. Não aguento mais! E morde de leve. Como eu odeio você!
- Eu também senti a sua falta! – disse quase como um sussurro, quase como uma prece: “fica!”. E sem dúvidas, era verdade, não havia nada que eu sentisse mais falta.
E em um momento meu rosto estava entre suas mãos e noutro seus lábios estavam suavemente encostados nos meus. Ele me pressiona contra si, com desejo, saudade, paixão. Então me deixo atrair, assim, como sempre. Perco-me nos seus olhos negros; agradavelmente arrebatada pelo calor de nossos corpos. Nosso beijo. Vício, anseio, querer.
“Querida? Querida! Acorda!” disse ao fundo uma voz conhecida. “Está na hora de acordar!” Senti que me sacudiam o ombro. Arregalei os olhos sem entender nada. Mãe? Olhei no relógio e já passava das seis e meia. Mas… “Está tudo bem?” Sim e não. Procuro meu celular e o encontro na cabeceira: Você não tem nenhuma mensagem. Mas…
Na janela entreaberta, o sol invadia o meu quarto. Mas nem mesmo o clarão era capaz de tirar aqueles olhos negros sobre a luz da lua do meu pensamento."