Epígrafe de Livro

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VERSO TRISTE


Estou em luto, a poesia morreu.
Morreu nas frágeis mãos de quem a escreveu.
Porque o amor foi para longe, tais quais os monges
que se fecham em antigas catedrais.

E não voltará! Nunca! Nunca mais!
É como a alma sem vestes na noite invernal...
“Nu eu vim do pó e a ele regressarei.”
Sem tema de amor, histórias de rainha ou rei.

E partirei... Cantando ou chorando
os versos que compus para o amor...
O amor que se perdeu e amei tanto!

Mas minha alma purificada,
deixará no chão as folhas orvalhadas
de versos tristes, rabiscadas.

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AUSÊNCIA DE PALAVRAS


De tudo para quanto vivi,
eras tu do que mais morri.
Da ausência de palavras,
do canto que não ouvi.

Eu sinto porque tu foste,
pelo amor e o desgosto...
Era uma verdade tão vã,
que só durava no afã
das palavras ditas com escárnio
travestindo-se o riso dos falsos
versos de Chamfort.

Era sua verdade tão vã!
De tudo o quanto vivi,
eras tu do que mais morri.

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MEU BATUQUE


Escuta o meu batuque! Vai até a madrugada.
Meu batuque é silêncio que me põe a vida pensá...
Deixa ele batucá... té que eu dance a ultima música
e alguém me põe pra niná.

É batuque com repiques dos sinos lá da aldeia
e dos sons das ondas do mar,
de cheiro de campos floridos,
e da areia branca da estrada...
Da canção dos violeros!
Tem gosto de céu estrelado e dos causos
que meu pai contava, à noite, lá no terrero.
Das roupas que mamãe lavava e secava
no varal da minha infância...
De quando levava a gente na cidade pra comprá
os tecidos boladinhos para ela costurá,
vestidos dos contos de fadas mais lindos daquele lugá.

Por isso, deixa meu silencio batucá.
A cada vez que ele batuca
põe-se minha alma a pensá.
Deixa ele batucá...
Té que eu dance a ultima música
e alguém me põe pra niná.

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PARA ONDE FOI O PRÍNCIPE?



Uma canção para a menina
que foi embora.
Linda menina que brincava
comigo no meu jardim...
E sonhava com seu príncipe!

Vestida, sempre, de chita, saia balonê
e tiara de pedrarias nos cabelos de princesa,
a coroa de sempre dessa menina!

O príncipe...
Ah, o príncipe?
Foi só uma história!

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O AMANHECER



Retornei-me ao mundo dos mortais,
até revestir-me de imortalidade outra vez.
E caminhei por entre os prados e jardins
para remarcar meus rastros, antes que ventos
os apagassem.

Dormi o sono dos justos ou dos injustos,
e despertei-me como qualquer deles...
Ouvindo a melodia dos pássaros.
E o sol brilhava assim mesmo na minha janela.

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APRENDIZ DE SOLIDÃO


Aprendi a ser só
Aprendi seguir e ousar!
Percebi que para voar
é deixar-me ser levado...
Planar nos ventos sem suas asas.
Vi o quanto posso...
Eu, pássaro de rapina!
Não perco na noite imensa ou curta.
Aprendi a usar minha retina
tal qual a azul luz da mira de um fuzil.

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LOUCURA DE AMOR


Grita, grita! Oh, alma amargurada!
Até acordar-te do teu pesadelo.
O amor existe! Foi apenas um sonho ruim.
Não fora embora seu amado!
Nem há montanhas intransponíveis,
ou, pássaros de mau presságio.

Escuta! É a mesma canção do vento
que o trouxe um dia! Ele ainda sopra!
Podes sentir o perfume em tuas mãos.
A fragrante essência dos deuses!
Não as lave! Leve à tua boca e sentirás
quão doce sabor!

Acorda-te, desse pesadelo,
Oh, alma amargurada!
O amor ainda existe. Persiste!
Não te enlouqueças na tua dor!

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DEVOLVA-ME


Devolva-me as doces palavras
e as mais puras gargalhadas
que tocaram-lhe os ouvidos!

Devolva-me !

Devolva-me os beijos
que com sofreguidão lhe dei,
e as carícias que só eu soube,
ou não soube, mas que desenhei
em seu corpo as marcas
da felicidade efêmera.

Devolva-me!
E se quiser, devolverei os beijos e os abraços.
Conceda-me uma noite, apenas!
E daquela estrada, peço que me retorne de onde
juntos seguimos, pois não sei mais voltar, estou perdida!

Devolva-me!
Devolva-me a direção do caminho!

Inserida por joanaoviedo

ASSIM É ESSE MEU AMOR


Esse amor que é meu e me alimenta
de versos, anelos e ternura.

Que um dia saí a procurar,
a chamar de alma minha...
Há muito já habitava-me os sonhos.

Sua voz macia e um sorriso terno...
Mãos pequenas de pérolas!
E os negros olhos a mirar os meus!
Esse amor seria todo meu paraíso!
E me amaria por tudo e também por nada.


Assim é esse meu amor...
Eu o amaria por tudo e também por nada.

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O VINHO DA JUVENTUDE ESCARLATE



O vinho que eu bebi em sua boca me enlouqueceu.
Era de uvas frescas colhidas em tempos da juventude escarlate.
Em tempos que o trem apitava ao longe anunciando sua chegada.

Eu na estação à procura...
Não era mais o menino de alma singela e pura,
mas o homem esbelto com seu paletó aos ombros,
em busca da menina de tranças.
E eu não mais a criança!
Não mais o vestido floral.

Era um tempo de estio, não mais um jardim estival.
Jardim que juntos plantamos para selar nosso amor
de criança...

Hoje quando o trem apita, ouço da vida um prenúncio:
Não mais o trem que chega, e sim, avisa sua partida.

E bebo o vinho embriagante da sua boca, na lembrança.

Inserida por joanaoviedo

QUERO


Quero ser o sonho que te faz bem...
Que te faz dormir e sonhar.
Eu quero ser sua poetisa a cantar
as melodias mais profundas
das sereias no fundo do mar.
Deixa-me cantar!

Sou também jardineira das flores
E posso uma semente lançar...
As sementes dos amores.
E pintar um jardim tão perfeito
Que não haverá outro jeito
a não ser amar, amar, amar...
Nas profundezas do mar,
ou no mais simples leito.

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POR TUA ALMA É QUE ANELO


As violetas passaram sobre o meu olhar,
deixando sombras arroxeadas.
E os nardos cobriram a visão da tua passagem...
Indas que ouvia a carruagem de um príncipe,
não pude sentir o gosto por te ver passar...
Mas os olhos da minha alma ferida sentiu tua sombra...
- Podes passar-te, oh majestade!
E sobre mim, essa sombra palpitará,
como se meu corpo estivesse tocado!

Será imenso esse amor que me abrigas.
E nunca mais, nunca mais, haverá um estribilho,
em meus versos onde te pousarás teu brilho!
No encanto da alma, e por quem anelo.

Então apenas os nardos e as violetas se passaram
arroxeando meus olhos e cobrindo-me a visão
da tua breve passagem.

E meu corpo palpitará
como se lhe houvesse tocado.

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CACTOS FERIDOS


Arrancaram-se os cactos
onde era o nosso ninho.
E cortaram-se os espinhos!
Perdi meu diamante nas brumas
de uma noite triste!

Desfolharam a flor estranha,
a mais bela do jardim!

Talvez o tempo! O tempo!

E, nossa casa tão sonhada,
ao som de tristes ventos,
em horas caladas se desmoronou...

Não seremos o que sonhamos:
“Pobrezinhos, de mãos dadas
a andar pelos caminhos...”
Bastavam-nos nossos cactos
onde fizemos um ninho!

Talvez o tempo... O tempo!
Roubaram nossa morada
e a arremessaram aos ventos!
Talvez o tempo... O tempo!

Inserida por joanaoviedo

ENVELHECER


Envelheci o quanto pude
e o quanto não queria também.
Mas percebi que a cada cantar das brisas,
uma nota fazia seu caminho musical.
E todos os dias e madrugadas vividas,
Desenhou-se em cicatrizes remontadas
no meu rosto jovial...
Tornando-se apenas sulcos sagrados.
Por isso orgulho-me das rugas,
e de quanto meus olhos se pintaram
de roxas orquídeas a cada por de sol.

Percebi que isso se chama eternidade
e o meu próprio Eu recoberto
desse tempo de sonhar!
E é a vida esse sonhar, sem amarguras...
Apenas com esboço de canto
no canto da boca.

Inserida por joanaoviedo

VEM!


Toca minha alma com os teus lábios ...
e com os dedos perfura-me a epiderme,
e ultrapassa, fantasmagoricamente, a derme!
Se não podes tocá-la nem com os olhos...
Posso sentir os espinheiros, esses abrolhos.
Sou a felina dos outeiros, que dança na selva
e nos picadeiros, onde tudo se faz verdade.
Até a ilusão da eterna felicidade.

Vem! Toma meu corpo junto ao seu...
Olha na janela já se faz breu!
Por entre os montes os pingos regam
a relva que nosso corpo um dia acolheu.
Vem! Que o tempo passa... E se passa,
não há como esticar o braço para, com sofreguidão,
segurar, em desespero, o meu abraço.

Vem alma minha, pois minha alma perde-se a calma,
enquanto aninha-se em outros ninhos...
Lembro-me o doce perfume, em agonia
das longas noites sem seus carinhos.
-Vem, toma meu corpo junto ao seu!

Inserida por joanaoviedo

TAÇAS QUEBRADAS


Na quimera daquelas taças levantadas aos ventos,
firmamos um eterno compromisso de trilhar
em linha reta a mesma estrada, até o infinito!

Amei-te tanto, e viajei às estrelas, até se dar conta
e sorver meu próprio pranto!
Compreendi que ao amor não se propõe um brinde
em taças que se despedaçam ao toque de qualquer vento...
E que ainda os ouço ao chegar da noite, os açoites
dos falsos juramentos.

Nada mais desejo além da brisa no meu rosto,
feito remédio a suplantar tanto desgosto!

Por que te quebrastes, oh, taças, levantadas ao vento?!
Por que morreste, oh, sonhos de meu tormento?

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CANÇÃO DO AMADO


Era madrugada e ela dormia languidamente
sobre o lençol de cetim.
Sonhou que havia alguém batendo à porta querendo entrar, havia barulhos de mãos na maçaneta.
(Oh, quem seria àquela hora?!)
Era o amado que a chamava para um passeio no jardim,
e lhe trouxera cestas de figos, flores e perfumes...
Mas ela estava cansada!
A luminosidade do lençol de cetim a convidava, dizendo:
- Não abra! É muito tarde!
Eis que o amado saiu com frio e o corpo molhado d’orvalho, às ruas cobertas de folhagens e pétalas que a chuva fizera cair...
Ao longe ainda ouviam-se os passos cansados do amado
e um perfume de flor ficara na maçaneta.
Sentiu saudades! Era dele o perfume.
Saiu correndo descalça e com roupas de dormir.
Havia homens maus nas ruas que a açoitara.
Ela dizia: - Estou atrás do meu amado...
Acaso não o vistes? Ainda há pouco quis estar comigo!
Deixem-me ir!
Mas os homens responderam com escárnio:
- Você não tem amado algum!
Se tivesse, o perfume dele estaria em seu corpo,
porém, agora estará em nossas mãos, será prisioneira
até que seu amado venha buscá-la! Pode dormir!
Agora não mais sobre o lençol de cetim,
mas na calçada suja, molhada.
Corpo ferido, sonhando com o amado e com as flores
que lhe deixara.

(Reeleitura do Cap. 03 de Cantares de Salomão em forma de poesia.)

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DUAS FACES DA POESIA


Ontem vi a poesia. E era vestida de chita fina,
enfeitada com colares. Ia por caminhos de flores,
onde se viam os amores encantados,
jovens enamorados, vestidos, alguns de linhos...

E tinha risos no rosto a poesia.
De mãos dadas por entre os pátios,
entre os parques da cidade, até nas pontes se viam!
E era a poesia tão jovem, pele de pêssego rosado,
cheirando a jasmineiro em flor...
Seu nome era amor.

Hoje pelo mesmo caminho, ia novamente a poesia,
tão linda, mas desencantada! Seu rosto triste
e com lágrimas, faltavam-lhe flores nas mãos
e também pelos caminhos.

Usava um vestido surrado, não era mais um brocado,
nem lhe compunham babados! Colares? Quebraram todos.
Até as pérolas morreram ao virem a poesia tão triste!
Faces já enrugadas... O corpo meio curvado!
E ia a poesia de hoje, que era a poesia de ontem.
Não mais na mesma euforia.

Ser jovem! Oh, quem lhe dera!
Naquele viver tão triste, acabara a primavera!

Inserida por joanaoviedo

OS OLHOS DE MINHA MÃE


Eram duas pérolas cravadas em um triste rosto.
Havia algo marcado, a beleza e o desgosto.

De dentro da água salgado, saltou-se a ostra
à maresia, e suas partes separadas, banhou-se
no sêmen d’areia molhada.

E seu ventre carregou-se de encanto ou desencanto,
a cada vez que amanhecia, por tantos e tantos dias,
ouvindo a noite gemer para cobrir seu sofrer.

Aflito o grito da alma, de uma alma sem calma...
E aqueles olhos? Nunca lhes vira tão de perto!
Nem sabia dos desertos que seu mundo oferecia,
mas em seu rosto, desenhadas, duas pérolas, sim, havia!

Inserida por joanaoviedo

SE É QUE ME ENTENDE


Minha cara dei a tapas, desde que nasci...
Não porque sou melhor, Mas é porque sou mulher.
Pensando bem, não foi minha cara que coloquei a tapas,
e sim “meu sexo”.
Queira você, sim ou não, quando eu passar,
vai ter que “abrir alas”. Eu não preciso de horas ou tempo
para (re)construir minha história, as minhas horas
são as que eu passo lutando na “selva desumana”.
Também não preciso escrever um poema, cantar uma música, me fazer de “pequena” para ser acolhida, a própria vida
me acolheu, a própria lida diz quem sou eu.
Não preciso ser só “Cinderela”.
Tenho fogo nos olhos, e na alma um vulcão...
que ora adormece, mas não é sempre não.
Também não preciso contar historinhas
das “Mil e uma noites” para não morrer.
A minha história se consagrou no jardim do Éden,
quando disseram que eu sou Eva e transgredi,
mas também progredi, e não adianta se lamentar.
Não estou aqui para questionar, mas Adão foi
um “maria-vai-com as outras”. Se é que você me entende!
Minha cara a tapas eu dei desde que eu nasci.
Não porque sou melhor e sim, porque sou mulher.
Mas é preciso explicar: Não foi minha cara que coloquei
a tapas, e sim “meu sexo”.
Não porque sou melhor, mas porque sou mulher!
Se é que você me entende...
Mas talvez ninguém nunca entenda!

Inserida por joanaoviedo