Enterro
No dia 29 do mesmo mês a 3 anos atrás eu estava engolindo o choro este horário antes do seu enterro, de lá até aqui vejo o quanto tudo mudou para melhor mas se torna insignificante sem você por perto.
Dinheiro algum compra a felicidade que se vai quando alguém que amamos parte e isso que é foda, se isso fosse possível me tornaria o homem mais rico do mundo para poder te ter aqui mais uma vez.
Infelizmente não é assim que a vida funciona, espero que o céu que a senhora acreditava realmente exista, assim você estar em um lugar muito melhor mas infelizmente este não vai ser meu destino final... Fui um prisioneiro da esperança até meu último suspiro que me fazia acreditar em algo melhor, mas hoje já não acredito que ainda vamos nos reencontrar em um lugar feito por um deus que muitos acreditam.
É perfeitamente possível tentar matar o Criador, mesmo sabendo que em breve muitos irão ao enterro da tal criatura
Falecimento de ente querido é o momento em que a família enfim se reúne. Você é apresentado a parentes que nunca viu e só vai ver de novo no próximo enterro de alguém, que provavelmente está por ali... Contam-se algumas piadas sem graça ou não e meia dúzia sofre de verdade.
Tinha 5 mil amigos no facebook. A esposa "postou" data, hora e local do sepultamento. No dia, todos estavam postando notas de sentimentos, fotos, vídeos e aúdios relacionados ao falecido, além de criarem um grupo no whatsapp só para falar bem dele. Enquanto isso o tempo ia passando e na hora de carregar o caixão, não apareceu 1 amigo.
- Último pedido -
No dia em que eu estiver deitado na madeira com o rosto virado para o teto e os pés gelados, não derrame lágrimas em mim.
Quando meu coração parar de cavalgar no peito, lembre-se que era só um cavalo cansado.
Se das minhas veias o sangue parar de pulsar, não tente me acordar.
E quando tudo estiver em silêncio, compreenda que o barulho me incomodava.
Caso me ame, não me coroe com flores.
Não me torne rei da escolha que fiz.
Brinque com as memórias e as gargalhadas que escondiam a tristeza que sorrindo eu carregava.
Todo filho é pai da morte de seu pai.
Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez.
A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes.
Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões.
Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada mesmo sem degraus.
feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte,
e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.
Fabrício Carpinejar
Assim como essas flores florescem com as incontáveis mortes que fornecem sua comida, existem inúmeras tragédias que ocorreram enterradas no fundo deste mundo maravilhoso, mas, a menos que você seja uma das pessoas diretamente afetadas, não é algo que você possa saber.
Moralidade
Nossa gente pratica a moral
E faz de cada ato uma lição de ética.
Aqui jamais enterramos nossos mortos.
Que apodrecem em praça pública.
Para que esta humilhação final
Nos obrigue a ver-nos como somos.
Um dia o Baden Powell escreveu: "Quando eu morrer me enterre na Lapinha, Calça, culote, palitó almofadinha...".
Quando morrer, digo eu: Deixa correr sem nada de velar, nem com coroas de flores gastar. Se puder que não me deixe por aqui, me enterre por lá...
Tem gente que falta aula, deixa de ir a festa, deixa de comparecer as reuniões da igreja. Mas, enterro não perde um. Se bobear até no dela é capaz de estar lá também...
Dia frio
Você só é forte e arrogante até ver
o buraco de terra vermelha aberto no chão
e as pás cheias de terra
ressoando no caixão sobre os seus.
"Tenho a impressão de que escrevo para néscios, falo para surdos? Escrevo para cegos? como não percebem? é tão palpável, é tão violento, é tão evidente, é tão triste, é frio, rígido e sepulcral, é como se mostrasse a todos um enterro e todos vissem jardins floridos, não conseguem ouvir meus gritos? Mas vão ouvir".
Comecei a ver a mesma pessoa em vários cemitérios durante algumas pautas em enterros e velórios. Num segundo momento, depois que eu me liguei que era a mesma pessoa, achei que estava vendo uma entidade, pois ninguém perde tanta gente, todo mês, e está em todos os enterros. Como observava que essa pessoa nunca estava conversando com ninguém, sempre sozinha, comecei a ficar curioso. Do cemitério do Irajá ao São João Batista, ele estava lá, até que resolvi investigar. Me aproximei e, com um cigarro, perguntei se ele teria um isqueiro para me emprestar. Não tinha. O nome dele é Bernardo e me chamou atenção porque ele tem apenas 25 anos. Isso me fez achar que poderia ser um espírito. Ele é diferente do cara que fica com a camisa do Brasil e os cartazes de protesto perguntando onde está o Amarildo, que todo mundo conversa e conhece. Ele é muito discreto. Como respondeu que não tinha como me ajudar a acender o cigarro, iniciei a conversa dizendo que já havia reparado que ele estava em outras capelas, em outras pautas. De cara, ele me deixou meio espantado ao responder que tem uma catedral que ele sempre vai, mas não sabia o nome e que havia esquecido o bairro naquele momento. Perguntou se eu era repórter. Quando respondi que sim, ele disse que o avô havia trabalhado com "um tal de Mário Alves", que teria sido muito importante para imprensa num determinado momento. Perguntou qual área eu trabalhava e respondi: geral! Ele respondeu: não gosto! Disse que dos jornais só lia as colunas sociais e que despertavam sua curiosidade as notas sobre casamentos, aniversários, formaturas e ENTERROS. O certo é que, através dessa leitura precursora, Bernardo fica a par das missas e enterros, e diz que nunca falta quando são os mais interessantes. Diz que procura sempre ficar longe da imprensa quando é alguém famoso para "não tirar a atenção do personagem principal, que deve ser o morto". Depois corrige a informação dizendo que essa é a postura que adota em todos os enterros, pois todos são iguais. Disse coisas que me chamaram atenção, como: "está vendo como a gente chega hoje nos cemitérios? Uma falta de respeito! Antigamente, contratavam bondes especiais, que conduziam os 'convidados' até os cemitérios." Tudo bem, percebi rápido que a cabeça do Bernardo não bate bem. Mas, ao mesmo tempo, concluí que ele não é bem um louuuucoo, louuuco, louuucooo, mas está fora e dentro ao mesmo tempo do normal, tipo uma questão de lua. Enquanto ele fala, dá umas mastigadas na língua, esmagando-á entre os pré-molares. Ele balançava a cabeça de forma esquisita, as vezes, "chifrando" o vento sempre que a gente sentia bater no rosto. Piscava constantemente o olho esquerdo. Na face, por todo o lado, discretos cortes faciais, quase imperceptíveis, dependendo da luz do sol. Em que pese, porém, essa mistura de sequelas, Bernardo, ainda sim, por estranho que pareça, é um rapaz simpático e muito, muito educado mesmo. Reparei que estava um pouco sujo, embora com um terno bem lavado com uma ombreira que o engolia. Já reparei ele mexendo em algumas coisas nos cemitérios, fazendo sinais como se estivesse limpando os objetos. Perguntei sobre isso e ele respondeu que se todos entrassem nos cemitérios como se fossem donos do local, podendo mexer em tudo, aceitaríamos melhor a morte e também preservaríamos os cemitérios em melhores condições. Bem estranho... Contou que por várias vezes já foi expulso de dentro das capelas em momentos de velório mais reservados. Mas ressaltou também que, brigando ou não, sendo expulso ou não, aquilo era um dos centros de interesse da sua vida. Contou que, assim como os cemitérios, adora as praças. Perguntei se teria alguma especial, e ele responde: todas. Disse que a igreja é sua "obsessão", e que se pudesse limpava os altares e as imagens todos os dias, mas que deixou de entrar nas igrejas faz tempo porque não gosta de padres. "De nenhum deles!". Foi incisivo, mesmo educado, ao dizer que não iria tocar neste assunto e ficou vermelho, muito vermelho, até aparecer os traços de veias pulando em sua testa. Fiquei em silêncio e ele foi se acalmando novamente, tudo numa fração de cinco segundos que, pra mim, observei como um take em câmera lenta. Pra cortar o clima, disse que ia acender um cigarro com um rapaz que estava ao nosso lado fumando e, depois disso, quando virei novamente, ele simplesmente não estava mais ali. Em determinado momento, conversando com ele, encostei rápido a mão em seu ombro, pra ter a certeza de que não era tipo Ghost. Era real. Enfim, cheguei agora em casa e, pensando ainda sobre tudo isso, acendi uma vela e fiz uma oração pedindo muita coisa boa pra esse rapaz. Paz pra ele, paz pro Bernardo.
Perder alguém independente da forma é sempre uma tragédia... Deus esteja com todos que por este mundo passaram e deram alegria...
Com a modernidade da indústria funerária o provérbio italiano que dizia que "no fim do jogo rei e peão voltariam pra mesma caixa" foi alterado. Sim, hoje já existe a possibilidade da cremação. Eles sabem tudo e nós buscamos compreender. Detém a tecnologia mas não conseguem responder: Por que até pra ter um enterro digno se necessita de dinheiro? Sujeito teve o sonho de ser cremado um dia. Mas, era pobre.
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