Emil Cioran Frases
Só sou eu mesmo acima ou abaixo de mim, na raiva ou no abatimento; em meu nível habitual, ignoro que existo.
Ninguém se recupera do mal de nascer, chaga capital entre todas. É, no entanto, com a esperança de nos curar dele um dia que aceitamos a vida e nos submetemos às suas provações. Os anos passam, a chaga permanece.
Apesar de tudo, continuamos amando; e esse “apesar de tudo” cobre um infinito.
Sem meios de defesa contra a música, estou obrigado a sofrer seu despotismo e, segundo seu capricho, ser deus ou farrapo.
Quando nem sequer a música é capaz de salvar-nos, um punhal brilha em nossos olhos; nada mais nos sustenta, a não ser a fascinação do crime.
Se Noé tivesse possuído o dom de prever o futuro, teria certamente naufragado.
Todas as calamidades – revoluções, guerras, perseguições – provêm de um equívoco inscrito sobre uma bandeira.
A “experiência homem” fracassou? Já havia fracassado com Adão.
Quem, buscando-se em um espelho em plena obscuridade, não viu refletidos nele os crimes que o esperam?
Quando me lembro que os indivíduos são apenas gotas de saliva que a vida cospe, e que a vida mesma não vale muito mais em comparação com a matéria, dirijo-me ao primeiro bar que encontro com a intenção de nunca mais sair dele.
O segredo de minha adaptação à vida? Mudei de desespero como quem muda de camisa.
Nos sonhos manifesta-se o louco que há em cada um de nós; após haver governado as nossas noites, adormece no mais profundo de nós mesmos, no seio da Espécie; de vez em quando, no entanto, o ouvimos roncar em nossos pensamentos...
Nos empenhamos em abolir a realidade por medo de sofrer. Coroados nossos esforços, é a própria abolição que se revela fonte de sofrimentos.
Tudo se volta contra nossas ideias, a começar por nosso cérebro.
Há almas que nem o próprio Deus poderia salvar, ainda que se pusesse de joelhos e rezasse por elas.
Um doente me dizia: “Para que sofro minhas dores se não sou poeta para vangloriar-me ou servir-me delas?”
Quando, liquidados os motivos de revolta, já não sabemos contra o que nos insurgir, somos tomados de tal vertigem que daríamos a vida em troca de um preconceito.
Cada um com sua loucura: a minha foi julgar-me normal, perigosamente normal. E como me parecia que os outros estavam loucos, acabei ficando com medo, medo deles e, o que é pior, medo de mim mesmo.
Quanto mais convivemos com os homens, mais nossos pensamentos se obscurecem; e quando, para aclará-los, voltamos à nossa solidão, encontramos nela a sombra que eles projetaram.