Elias
Não se acostume com os meus sentimentos... Eles têm, por hábito, necessidade de ficar em modo insensível por tempo indeterminado.
!Feliz natal!
Feliz? Para quem?
Em um mundo cheio de dor,
Feliz para quem morreu na cruz por
Amor? ou um usurpador de gorro vermelho
Que ganha as honras, em quanto o verdadeiro
Motivo do natal é escorraçado dos lares brasileiros,
Ele mesmo Jesus que morreu na cruz para nos salvar, e
Virar chacota no dia do seu nascimento, aniversário de Jesus?
Ou uma festa pagã, um homem santo vestido de vermelho, espero
Apenas que seja sim um natal feliz, que a fome seja extinguida, que quem
Sinta frio seja aquecido, que o amor que falta nos homens por Deus seja mantido,
Mesmo seu filho amado sendo xingado e maltratado por esses filhos indignos, FELIZ NATAL.
Penso em sair por aí, desligar as tomadas que me ligam às minhas angústias, dar um tempo e não olhar para trás. Voltar significaria desistir dos propósitos. Seria tão bom se não me faltassem forças para dar início a esse desejo!...
Eu era primata e segurava primata
Não me lembro o que eu era antes de ser mãe
Alguma coisa entre tijolo e rã
(sólida e escorregadia)
O tempo de antes ficou sujo de uma coisa
que eu não sei
A vida principiou naquele dia
e depois só futuro
E era um futuro tão velho que parecia passado
Quando eu coloquei no colo minha filha
Era como se carregasse minha mãe
Ou a mãe da minha mãe
Ou a primeira mulher do mundo
Que era gente e era macaco
Ali eu era primata e segurava primata
E doía tanto
24 de junho
Os braços me doem de carregar o filho
E as pernas de tanto caminhar
Com o filho nos braços
Para que tanto mundo para vida tão curta?
As costas doem de me curvar
Para febre e o choro
E me doem os cantos das unhas e a cabeça
Me dói ainda mais o coração
Por que dói tanto?
Eu pergunto à minha mãe
Ela não sabe
Diz que são bonitas as noites de junho
O céu de mar profundo e as estrelas de São João
Eu engastalho o choro e aperto meu filho
Respiro o cheiro da boquinha cor-de-rosa
Leite e vida recente
Olha, meu filho
Como são bonitas as noites de junho
O céu de mar profundo e as estrelas de São João
Para minha filha
Quando sentir o chão ceder debaixo da sola de seus passos
Quando olhar para a frente e enxergar a nuca do mundo
Quando a água do mar parecer fria e seu nariz grande demais
Quando o vazio te ofertar a mão com brandura encenada
Quando a noite perpétua te jurar que nunca mais haverá dia
Quando alegria desertar de suas pernas e você parar de dançar
Quando se sentir cansada até mesmo para dormir
Sua mãe estará aqui
41
Eu tenho quarenta e um anos
E onze graus de miopia
Eu tenho quarenta e um anos
E nenhuma carta de motorista
Eu tenho quarenta e um anos
E sete mil dias de despersonalização
Eu tenho quarenta e um anos
E vinte e oito dentes
Eu tenho quarenta e um anos
E um coração para cada filho
Eu tenho quarenta e um anos
E nenhuma vontade de morrer
Não sei o rumo da história até que comece a contá-la, até que a própria linguagem me sinalize.
Toda história tem um fundo e quem escreve deve se comprometer em não parar enquanto não encontrar esse fundo.
A literatura é uma versão da realidade.
Só tornei a literatura possível quando a retirei da solenidade.
Naquele dia, poderia ter te tomado pelas mãos, faltou-me a coragem e, assim, uma miragem se desfez. Lamentar-me agora?... Sim, lamento!
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