Elegia de um Tucano Morto
Em leão morto até cãezinhos dão dentadas.
Do Original em Lati: Leo nem mortuum etiam catoli morsicant.
Quando você morre, você não sabe que está morto e por isso quem sofre são os outros.
É a mesma coisa quando você é idiota.
Complexo da Chapeuzinho
─ Senhor Tucano, por que esse bico tão grande? Perguntaram os filhotinhos de Bem-te-vi.
─ Não é para lhes fazer cócegas! Respondeu o malvado.
Dentre os 20 municípios
Da região sisaleira
Tucano das “águas quentes”
Em cultura é pioneira
Gumercindo, Otthon Bastos,
Bode assado, artesanatos,
Grutas, serras, cachoeira...
...se eu fosse um tucano, com certeza seria cínico. Mas, sendo um tucano anômalo, honesto, decente, teria vergonha em falar de saúde, educação e segurança.
Vendo os cochichos do tucano no ouvido do presidente cheguei a conclusão que ele tem a mesma expertise do ex juiz.
O Tucano-de-bico-preto
parou, olhou no fundo
dos meus olhos e contou
para mim um segredo
para do amor eu não ter
nesta vida nenhum medo.
Elegia lírica
Um dia, tendo ouvido bruscamente o apelo da amiga desconhecida
Pus-me a descer contente pela estrada branca do sul
E em vão eram tristes os rios e torvas as águas
Nos vales havia mais poesia que em mil anos.
Eu devia ser como o filósofo errante à imagem da Vida
O riso me levava nas asas vertiginosas das andorinhas
E em vão eram tristes os rios e torvas as águas
Sobre o horizonte em fogo cavalos vermelhos pastavam.
Por todos os lados flores, não flores ardentes, mas outras flores
Singelas, que se poderiam chamar de outros nomes que não os seus
Flores como borboletas prisioneiras, algumas pequenas e pobrezinhas
Que lá aos vossos pés riam-se como orfãozinhas despertadas.
Que misericórdia sem termo vinha se abatendo sobre mim!
Meus braços se fizeram longos para afagar os seios das montanhas
Minhas mãos se tornaram leves para reconduzir o animalzinho transviado
Meus dedos ficaram suaves para afagar a pétala murcha.
E acima de tudo me abençoava o anjo do amor sonhado...
Seus olhos eram puros e mutáveis como profundezas de lago
Ela era como uma nuvem branca num céu de tarde
Triste, mas tão real e evocativa como uma pintura.
Cheguei a querê-la em lágrimas, como uma criança
Vendo-a dançar ainda quente de sol nas gazes frias da chuva
E a correr para ela, quantas vezes me descobri confuso
Diante de fontes nuas que me prendiam e me abraçavam...
Meu desejo era bom e meu amor fiel
Versos que outrora fiz vinham-me sorrir à boca...
Oh, doçura! que colméia és de tanta abelha
Em meu peito a derramares mel tão puro!
E vi surgirem as luzes brancas da cidade
Que me chamavam; e fui... Cheguei feliz
Abri a porta... ela me olhou e perguntou meu nome:
Era uma criança, tinha olhos exaltados, parecia me esperar.
*
A minha namorada é tão bonita, tem olhos como besourinhos do céu
Tem olhos como estrelinhas que estão sempre balbuciando aos passarinhos...
É tão bonita! tem um cabelo fino, um corpo de menino e um andar pequenino
E é a minha namorada... vai e vem como uma patativa, de repente morre de amor
Tem fala de S e dá a impressão que está entrando por uma nuvem adentro...
Meu Deus, eu queria brincar com ela, fazer comidinha, jogar nai-ou-nentes
Rir e num átimo dar um beijo nela e sair correndo
E ficar de longe espiando-lhe a zanga, meio vexado, meio sem saber o que faça...
A minha namorada é muito culta, sabe aritmética, geografia, história, contraponto
E se eu lhe perguntar qual a cor mais bonita ela não dirá que é a roxa porém brique.
Ela faz coleção de cactos, acorda cedo vai para o trabalho
E nunca se esquece que é a menininha do poeta.
Se eu lhe perguntar: Meu anjo, quer ir à Europa? ela diz: Quero se mamãe for!
Se eu lhe perguntar: Meu anjo, quer casar comigo? ela diz... – não, ela não acredita.
É doce! gosta muito de mim e sabe dizer sem lágrimas: Vou sentir tantas saudades quando você for...
É uma nossa senhorazinha, é uma cigana, é uma coisa
Que me faz chorar na rua, dançar no quarto, ter vontade de me matar e de ser presidente da república.
É boba, ela! tudo faz, tudo sabe, é linda, ó anjo de Domremy!
Dêem-lhe uma espada, constrói um reino; dêem-lhe uma agulha, faz um crochê
Dêem-lhe um teclado, faz uma aurora, dêem-lhe razão, faz uma briga...!
E do pobre ser que Deus lhe deu, eu, filho pródigo, poeta cheio de erros
Ela fez um eterno perdido...
"Meu benzinho adorado minha triste irmãzinha eu te peço por tudo o que há de mais sagrado que você me escreva uma cartinha sim dizendo como é que você vai que eu não sei eu ando tão zaranza por causa do teu abandono eu choro e um dia pego tomo um porre danado que você vai ver e aí nunca mais mesmo que você me quer e sabe o que eu faço eu vou-me embora para sempre e nunca mas vejo esse rosto lindo que eu adoro porque você é toda a minha vida e eu só escrevo por tua causa ingrata e só trabalho para casar com você quando a gente puder porque agora tudo está tão difícil mas melhora não se afobe e tenha confiança em mim que te quero acima do próprio Deus que me perdoe eu dizer isso mais é sincero porque ele sabe que ontem pensei todo o dia em você e acabei chorando no rádio por causa daquele estudo de Chopin que você tocou antes de eu ir-me embora e imagina só que estou fazendo uma história para você muito bonita e quando chega de noite eu fico tão triste que até dá pena e tenho vontade de ir correndo te ver e beijo o ar feito bobo com uma coisa no coração que já fui até no médico mas ele disse que é nervoso e me falou que eu sou emotivo e eu peguei ri na cara dele e ele ficou uma fera que a medicina dele não sabe que o meu bem está longe melhor para ele eu só queria te ver uma meia hora eu pedia tanto que você acabava ficando enfim adeus que já estou até cansado de tanta saudade e tem gente aqui perto e fica feio eu chorar na frente deles eu não posso adeus meu rouxinol me diz boa-noite e dorme pensando neste que te adora e se puder pensa o menos possível no teu amigo para você não se entristecer muito que só mereces felicidade do teu definitivo e sempre amigo..."
Tudo é expressão.
Neste momento, não importa o que eu te diga
Voa de mim como uma incontensão de alma ou como um afago.
Minhas tristezas, minhas alegrias
Meus desejos são teus, toma, leva-os contigo!
És branca, muito branca
E eu sou quase eterno para o teu carinho.
Não quero dizer nem que te adoro
Nem que tanto me esqueço de ti
Quero dizer-te em outras palavras todos os votos de amor jamais sonhados
Alóvena, ebaente
Puríssima, feita para morrer...
"Ó
Crucificado estou
Na ânsia deste amor
Que o pranto me transporta sobre o mar
Pelas cordas desta lira
Todo o meu ser delira
Na alma da viola a soluçar!"
Bordões, primas
Falam mais que rimas.
É estranho
Sinto que ainda estou longe de tudo
Que talvez fosse cantar um blues
Yes!
Mas
O maior medo é que não me ouças
Que estejas deitada sonhando comigo
Vendo o vento soprar o avental da tua janela
Ou na aurora boreal de uma igreja escutando se erguer o sol de Deus.
Mas tudo é expressão!
Insisto nesse ponto, senhores jurados
O meu amor diz frases temíveis:
Angústia mística
Teorema poético
Cultura grega dos passeios no parque...
No fundo o que eu quero é que ninguém me entenda
Para eu poder te amar tragicamente!
Granada: humilde elegia
Tua elegia, Granada, a dizem as estrelas
Que furam desde o céu, teu negro coração.
A diz o horizonte perdido de tua vega,
A repete solene a hera que se entrega
À muda carícia da velha torre.
Tua elegia, Granada, é silêncio enferrujado,
Um silêncio já morto de sonhar.
Ao se quebrar o encanto, tuas veias sangraram
O aroma imortal que os rios levaram
Em borbulhas de pranto ao mar sonoro.
O silêncio da água é como um pó velho
Que cobre tuas ameias, teus bosques, teus jardins,
Água morta que é sangue de tuas torres feridas,
Água que é toda a alma de mil névoas fundidas,
Que transforma as pedras em lírios e jasmins.
Hoje, Granada, te elevas já morta para sempre
Em túmulo de neve e mortalha de sol
Esqueleto gigante de sultana gloriosa
Devorado por florestas de louros e rosas
Diante de quem vela e chora o poeta espanhol.
Hoje, Granada, te elevas guardada por ciprestes
(Chamas petrificadas de tua velha paixão)
Partiu já de teu seio o laranjal de ouro,
A palmeira extasiada do tesouro África,
Sobra somente a neve da água e sua canção.
Tuas torres são já sombras. Cinzas teus granitos
Pois te destrói o tempo. A civilização
Põe sobre teu ventre sagrado sua cabeça
E esse ventre que esteve grávido de ferocidade,
Hoje ainda que morto, se opõe à profanação,
Tu, que antigamente tiveste as avalanches de rosas,
Tropas de guerreiros com bandeiras ao vento,
Minaretes de mármore com turbantes de seda,
Colmeias musicais entre as avenidas
E lagoas como esfinges da água ao céu
Tu, que antigamente tiveste mananciais de aroma
Onde beberam reais caravanas de gente
Que te ofertavam o âmbar em troca da prata
Em cujas margens tingidas de escarlate
As viram com assombro os olhos do Oriente.
Tu, cidade do devaneio e da lua cheia,
Que alojaste paixões gigantescas de amor,
Hoje já morta, repousas sobre rubras colinas
Tendo entre as velhas heras de tuas ruínas
O sotaque dolorido do doce rouxinol .
O que se foi de seus muros para sempre, Granada?
Foi o perfume potente de tua raça encantada
Que deixando correntes de névoa te deixou:
Ou a tua tristeza é tristeza nativa
E desde que nasceste ainda segues pensativa
Enredando tuas torres com o tempo que passou?
Hoje, cidade melancólica do cipreste e da água,
Em tuas heras antigas se detém a minha voz.
Afunde tuas torres!
Afunde tua velha Alhambra
Que já murchinha e quebrada no monte se queixa,
Querendo desfolhar-se como flor de mármore.
Invadem com a sombra maciça os teus ambientes!
Esquecem a raça viril que te formou!
E hoje que o homem profana o teu encanto sepulcral,
Quero que entre tuas ruínas adormeça o meu canto
Como um pássaro ferido por um caçador astral
Tradução de Mª Clara M.
Elegia
Sentir na profundeza
d'alma o impulso
que leve a uma Elegia
é uma experiência
de quase-morte
para quem é poeta.
Ficar triste e estar
de braços dados
com a morte são
os únicos apelos
para descarregar
o fardo dos lamentos.
A Elegia num sentido
mais amplo é todas
as vezes que sinto
e escrevo reclamando
com o destino o fato
de não ter você comigo.
Sem a compreensão
da morte e da tristeza,
e sem lamentar por não
ter você nunca será
possível escrever
uma Elegia com exatidão
de corpo, alma, poesia e todo o coração.
Um dia vi a frase: "ELEGIA É MINHA ALMA" - Confesso que não entendia, mas hoje, percebo que é perfeitamente encaixada tal frase na vida daqueles que conseguem perceber o seu próprio eu.
Elegia
Eu queria escrever sobre o amor
sentimento louvado pelos grandes poetas
que cantam amor como profetas
Tentei e tentei por infinitas vezes
transcrever sutilezas de sentimentos
sou obtusa, aposento
Amargo na pena que me traí
escorregando sempre ao reverso
ficando sem beleza o meu verso
Elegia da Margarida
Era uma vez uma margarida,
que se alimentava de compaixão,
ela não era muito forte,
pois vivia com a solidão.
Solidão era sua companheira,
elas eram inseparáveis,
as duas se isolavam,
as outras flores não eram amigáveis.
A Rosa, por exemplo,
influenciava-se facilmente,
bastava corante em sua água,
e sua cor mudava de repente.
O Girassol era um viciado,
necessitava de luz solar,
não se sentia muito bem,
se não visse o sol brilhar.
A Vitória-Régia era ignorante,
era muito superficial,
só prestava atenção nos pássaros,
que pairavam sobre o pantanal.
O Narciso era narcisista,
pois tinha um enorme ego,
sempre a admirar a si mesmo,
e nunca dar atenção a Eco.
A Margarida murchou,
devido a escassez de amor,
a Solidão não bastava,
para sustentar aquela flor.
Solidão se zangou,
pela morte da margarida,
'' - Ela não merecia isso!!''
Gritava ela, enfurecida
A Solidão ficou mais forte,
com presas e garras letais,
ficou forte o suficiente,
para nos assombrar nos dias atuais.