Desespero
E o dia passou: sem crises, sem choro, sem as trevas do desespero.
Só o tédio ficou, junto das lágrimas comportadíssimas pela manhã.
Um dia vou parar de relatar minha dor e meus amigos vão me perguntar contentes: "não dói mais?"
Então vou dizer: "dói, eu é que não escuto mais."
"Ondas debruçando na praia em desespero e dor.
Como estivessem dizendo: aqui vai uma parte de mim
que molhara os teus pés, e morrendo, sem você saber
que eu existi e ah toquei."
Na escuridão do meu silêncio,
O vento meu único amigo,
Em um desprezo sem fim,
Me desespero ao lamento do meu ego,
Em um desejo de mágoa sem sentido,
Busco, talvez no infinito,
A razão do meu ser,
Aonde tudo o que eu faço
Pode ser de todo o agrado,
No meu canto glorioso,
Em um grito majestoso,
No bem-estar do meu viver,
Refletindo tudo o que eu vejo,
Pensando em tudo que eu desejo,
Vejo o meu mundinho passando lá fora,
Como uma escada para o além
Trancado no meu quarto,
Escrevendo coisas poéticas,
Sem notar que o mundo em si é uma poesia,
Às vezes queria que tudo fosse como um sonho,
Aonde você corre como um raio,
Você voa como um pássaro,
Você mergulha como um submarino,
E ama como se não existisse o adeus.
Mas sem precipitações, ataques de desespero ou exageros, dar um passo de cada vez, um suspiro depois outro, não pular etapas, fazer valer a pena. Digo: não pensa no fim, te entrega pro começo.
Poema do Desespero
Longe!
Vai para longe...
Sai!
Sai como quem foge ao mundo
Tal como foge o monge para se tornar eremita...
Para se tornar tão só
Para se tornar tão ele.
Parte...
Parte para longe de mim
Distante... Perto do fim. Ou para lá
Da dimensão fechada.
Deixa-me!
Larga-me!
Estou em perfeito desespero...
Perfeita amargura, tristeza, solidão,
Angústia, penura, aflição, agonia...
E ainda permaneces.
Prendeste, agarras-me...
Posso até chamar-te...
Não me ouves chamar-te?
Responde-me, então...
Vem até mim. Quero-te perto de mim...
Sentir o teu perfume deambular
Pelas minhas narinas...
Sentir o teu olhar destruir-me
As retinas molhadas...
Sentir o teu respirar nos meus poros,
Suave brisa que corre meus pêlos
Fortes em corpo frágil...
Agora vem!
Vem!
Quero ter o prazer
De te ver sofrer como sofro!
Desespero por sentir tamanha vitória!
Anseio por te ver no chão
Pedindo misericórdia...
Mas deixa-me...
Só quero que me deixes.
Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.
Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.
Eu sei que as dimensões impiedosos da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.
Tenho me preocupado em não te sufocar com minha solidão, não te assustar com meu desespero em te querer um pouco mais.
Vasculham o lixo da humanidade na esperança de encontrar alimento para seu desespero. Está é a real condição humana.
"Parecia muito fácil matar-me em um acesso de desespero. Era bastante fácil fazer-me de mártir. Mais difícil era não fazer nada. Suportar a vida. Esperar".
O desespero expõe o nosso coração para quem nada pode fazer por ele. A oração leva-o até Aquele que acalma-o e ensina-o.
Venho
como o fim das coisas
os últimos acontecimentos.
Meu signo é o
do desespero e
só há uma face
- e é amarga.
No entanto
sou como as coisas
nascentes
e há um sol
tentando irromper
no horizonte do
meu âmago.
Cheiro a grama fresca
e meus olhos não têm tempo..."
O desespero beira o insuportável. A cada dia, o sofrimento – físico ou emocional – fica mais intenso e viver torna-se um fardo pesado e angustiante. Sua dor parece incomunicável; por mais que você tente expressar a tristeza que sente, ninguém parece escutá-lo ou compreendê-lo. A vida perde o sentido. O mundo ao seu redor fica insosso. Você sonha com a possibilidade de fechar os olhos e acordar num mundo totalmente diferente, no qual suas necessidades sejam saciadas e você se sinta outro. Será que a morte é o passaporte para essa nova vida?
Olhar
Um olhar significa vida, esperança e alegria, pode também significar tristeza, desespero e ilusão.
Num olhar vimos desaprovação, o desejo, o pensar. O olhar também é verbo...
Olhar... Sobre, de alguém, acima de algo,
O olhar a vida também a simboliza. Parar e olhar significa cautela.
Olhar para si, é difícil, sobre os outros é fácil, comum, sensato.
Olhar o mundo, com olhos curiosos revela o saber, o procurar, o conhecer.
Buscar em olhares outros olhares, pode gerar cobiça, ansiedade, veracidade.
Olhar é ter consciência de algo, é apropriar-se da paisagem e ver-se é reconhecer-se, enfim,
Simplesmente olhar para viver.
O solitário tem fé.
Como um rei que não ama.
Eu me desespero sem ter uma dama.
Canto só nesse canto.
Sem meu doce encanto.
Quem amava.
No passado me enforcava.
E hoje me ensina.
E logo tira meu clima.
Rezei pra Deus nos unir.
Mas tenho de esperar.
O negocio não pode sucumbir.
Hoje só posso orar.
Ter fé e esperar.
Posso ver meu ser conseguindo te alcançar.
O solitário aqui tem fé.
O negocio vai dar pé.
A solidão dói e com ela vem o sentimento de inadequação, baixa autoestima e desespero, sentimentos que acompanham a solidão e transbordam em formas de atitudes, palavras, posturas e queixumes. De fato, os seres humanos não nasceram para viverem sós. Nós somos seres gregários, precisamos da companhia, do carinho, da proteção, da amizade, do compartilhar... Mas a solidão que mais maltrata é a solidão a dois. Chega a ser destrutivo viver ao lado de alguém que não vê você.