Corda
Na corda bamba, é mais fácil um tolo se equilibrar do que vários. Quem é esperto evita alianças desequilibradas até no solo.
E as bombas explodiram. Eu estava diante da corda, sem nenhuma proteção, eu tinha que andar em cima dela, enquanto o chão lá embaixo, mas bem lá embaixo mesmo, torcia para que eu errasse. Dei o primeiro passo diante do abismo na minha frente, não havia nada me segurando, nada! Mantive o equilíbrio, o foco. Dei mais alguns passos pensando: ''não posso errar, não posso falhar!''. Continuei. Algo me dizia que eu ia conseguir passar por aquilo intacta, sem nenhuma dor. Foi quando eu vi à diante meu sonho inalcançável, vi minhas expectativas perdidas, esperanças bobas, sonhos mal sonhados. Vi também as alegrias passadas, a felicidade vivida intensamente. Vacilei, errei o passo, foi quando eu cai. Enquanto eu caia, pensava: ''Por que?''. Mas era um por quê pra tudo, pra minha vida toda que havia passado e a que ainda estava por vir. Por que? Por que tão difícil? Por que tão árdua? Por que temos por alguns momentos o mundo em nossas mãos e de repente estamos andando numa corda bamba sozinha? Cheguei ao chão. As lágrimas escorriam e a dor se alastrava. Estou sozinha, mais uma vez. Ouço essas vozes mandando levantar e outras lamentam por mim. Eu só peço: me deixem um pouco aqui deitada?
Implacável é o tempo...
Eu dou corda em teus minutos no silêncio dos meus dias insanos.
Enquanto tuas digitais
Permanecerem em minhas costa
Cronista sem jornal não é Ferrari sem gasolina, é fusca sem capô, cavaquinho sem corda, praia sem chinelo, botequim sem cachaça, batata sem bife, Nelson Sargento sem dentadura.
Se sentou no batente da varanda, pegou o velho violão sem corda que nem ao menos sabia tocar. Ficou ali. Só observando, vendo uns vindos, outros partindo. Percebeu que em algum momento o caminho daquelas pessoas se cruzavam, mas depois seguiam direções opostas. Cansou de vê-las se encontrando, mas indo embora do mesmo jeito. Olhou para o céu. Aquele sim era calmo, não tinha pressa, nem sabia o que significava “tempo”. Criou na sua mente a ideia de que se todos fossem como o céu, ninguém precisaria partir. Ela precisava de um tempo de tudo aquilo, da cidade, dos barulhos, das pessoas. Se perguntava “se todos têm que partir cedo, porque chegam na sua vida mesmo assim?” Se lembrou. Ela odiava partidas.
O recomeço é como uma corda quebrada, caída no chão, no fim do seu limite. Como a vida quando quebra, e, sem querer, fatalmente, é preciso remediar as dores. Sará-las, se possível. Recomeçar não é amarrar as duas partes e de novo ter uma corda... velha... a mesma; com as mesmas fraquezas de antes; Recomeçar é ter uma corda nova, pura, e, é claro, com graves riscos de quebrar-se novamente. Mas como não é velha, não é a mesma, é preciso um pouco de cuidado e mais força, assim ela demora a quebrar.
A vida é como uma corda velha... a mesma... Porque se a corda velha for usada novamente o nó facilmente desatará.; Recomeçar é a corda nova, esticada, usada até estragar, talvez. Usar a nova corda vai doer, vai estragar planos e vai pôr em risco a dúvida de uma outra vida inteira...
Resta saber caminhar por essa corda, caminhar em passos firmes e lentos. Caminhar de encontro ao que for, ao que realmente tiver que servir pra ser. Perder tempo quebrando cordas é um desperdício que pode acabar com as chances de cordas novas, e não ter cordas novas é um sinal de que não há mais vida.
Não é possível evitar o tombo de quem dança e requebra sobre a corda bamba e podre e sente orgasmos múltiplos com isso. Uma hora a dita arrebentará e não quero estar debaixo para ver o estrago. Muito menos ser obrigada a catar os caquinhos.
Sinto que estamos num fluxo continuo, amarrados por uma corda imaginária, sensorial, onde em cada momento um puxa de um lado. E ao mesmo tempo que puxamos, tentamos nos aproximar. Não sabemos que extensão tem a corda, nem quem chegou mais próximo do meio. Porque na verdade não existe meio, já que estamos os dois em continuo deslocamento.
Você pode estar agora no mesmo ponto da corda onde eu já estive um dia. Nós dois queremos estar juntos na corda, encontrar o nosso meio. E nesse dia amarraremos bem as mãos nela, para nunca mais nos afastarmos.
A diferença entre amor e amizade:
A amizade nos deixa em uma corda bamba...
O amor nos deixa seguros.
Nunca senti isso por ninguém. É como ter uma corda em volta do meu peito e ela ficasse me puxando para você.
Quando estiver no fundo do poço, não espere pela corda, pois você é quem cria a corda para subir ao alto.
Equilibrando-me
Na correria do dia a dia
Tenho tentado me equilibrar...
Corda bamba...
Roda de samba...
Meu receio é não encontrar na roda da vida
Motivos que a vida irão justificar.
Sempre estaremos na corda bamba. A vida é um desenrolar de emoções. Um ultrapassar de obstáculos. Um tropeço de loucura. Agarremo-nos com convicção e ultrapassaremos as barreiras que encontrarmos no meio do caminho.
Queria que o palco fosse uma corda esticada onde nenhum incompetente ousasse caminhar.
TRÁGICA COMÉDIA
Numa corda feito um laço
Como rede de arrasto
Atraídos pelo pasto
Pra comer um pão dormido
Pelo verme preterido
Na mesa de um ser nefasto
Como gado na campina
Ora em baixo ora em cima
O povo sempre é ferrado
Recebe a marca da fera
Da pantera insaciável
Mas se tem pão,
Se tem circo
A formar o mesmo ciclo
Em torno do antigo mito
Que outrora já morreu
O povo segue encantado
Sobre a mesa enfeitiçado
Bebe vinho adulterado
Se embriaga e vai pro céu.
Mas se tem pão,
Se tem circo
Ou auxílio estatal
A barriga satisfeita
De esquerda ou de direita
Não importa a desfeita
Deste monstro colossal.
Eu sou poeta e não minto
E neste verso sucinto
Digo de fato quem sou
Sou avesso à ideologia
De qualquer forma ou valia
Sou anônimo cantador
Quero que tudo se exploda
Nesta luta imbecil
Não sou branco
Nem vermelho
Amarelo ou azul anil.
Passa o homem e fica a terra
Onde sempre se enterra
Todo louco varonil
Revolucionários tolos
Nero's incendiários,
Napoleões sedentários
Todos vão para o funil.
Eu sou poeta e descordo
De tudo que ora vejo
Não sou desta vil seara
Tenho sempre outro desejo
Que a paz um dia chegue
Não por obra de doutores
De filósofos pensadores
Ou políticos estrangeiros
Mas a paz é uma utopia
Que o homem insiste em ver
Lá na frente, no horizonte
Lá na serra, atrás do monte
Um arco-íris a crescer.
Como boi atrás do pasto
Numa corda, por um laço
Atraídos ao nefasto
Detentor deste poder.
Eu queria sim de fato
Ensinar para o meu neto
Que sempre vence o afeto
Mas o mundo diz que não.
Sempre vence a vilania
Ou a cruel covardia
E a pureza sadia não cresce no coração.
Morre o homem, morre o pato
Morre até o cão amigo
Esta vida é um perigo
E a paz é uma ilusão.
Morre até homem valente
Morre o soldado e o tenente
Morre até o capitão.
Morrem sem ver o futuro
Que almejamos pelo muro
Desta infeliz geração.
O sistema que criamos
Neste toma-lá-dá-cá
Nesta via de mão dupla
Nunca pode prosperar.
O homem sempre é o rato
Nesta peça de teatro
Sob nova direção
O diretor é o gato
Mas sempre quem paga o pato
É o miserável cão.