Coleção pessoal de Zeta

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⁠Título: Talvez Eu Pertença ao Talvez.

Gosto de ruas vazias, tão calmas,
De rostos tristes — talvez por simpatia.
Prefiro as noites de poucas almas,
Com poesias sendo minha companhia.

Há uma alegria nas luzes apagadas,
No som da chuva a varrer a cidade,
E nos grilos que, entre pausas marcadas,
Regem o silêncio com suave sintonia.

O vento carrega segredos no ar,
Um eco perdido, sem rumo ou lugar.
Talvez eu pertença a esse divagar,
Ao "talvez" eterno de sonhos fugaz.

Um temporal não me traz tormenta,
Mas uma dança onde me encontro inteiro.
Sou um reflexo que ninguém sustenta,
Uma sombra errante, sem paradeiro.

No "talvez" eu habito — começo e final,
Entre o vazio e o desejo de estar.
Sou o instante breve, o ponto crucial,
Que nunca se cansa de apenas vagar.

Presença Justificada

Não vou a cultos, não vou a missas,
Não frequento festas, não caio em cobiças.
Se me encontrares em algum lugar,
Saiba que lá algo ou alguém me fez chamar,

Para resolver um problema que poucos conseguiriam acertar.
Dos grandes templos religiosos às pequenas capelas,
Das vastas mansões às mais humildes vielas,
Já me chamaram para algo consertar.

Todos com um dom um dia vão compreender,
Que há quem clame por ajuda no que não consegue entender.

⁠Repetição.

Se do passado, no futuro, eu começar a falar,
E se no futuro eu falar do passado,
Não me julgue, nem me faça calar,
Estou apenas revendo meu caminho traçado.

Pode ser que me ouça dizer,
"Na minha época, não era assim."
Mas a verdade, se você bem ver,
É que sempre foi, do começo ao fim.

Os hábitos mudaram, a tecnologia cresceu,
Mas no fundo, o que mudou foi a fantasia,
De uma história que sempre se repetiu,
E que de tempos em tempos, renasceu.

Há poucos anos, ouvi dizer:
"No meu tempo, todo mundo lia."
Hoje ouço alguém dizer,
"No meu tempo, só se assistia."

A vida é assim, de mudança em mudança,
E o ciclo se renova a cada geração.
Mas, no final, a mesma fala alcança
Quem conta sua história com dedicação.

E, quem sabe, um dia você será,
O senhorzinho que não para de falar.
Então, pense bem antes de criticar,
Pois o tempo transforma o que nos faz lembrar.

⁠Versos sem aviso.

não sei, como falei,
busco só fazer no momento,
igual á pouco, palavras ao vento,
eu diria que é só uma bagunça,
porém não lamento.

uma tentativa de algo maior,
uma rima que saiu no improviso
e palavras que vieram sem aviso.
igual minha mente criada sem pedido.

loucura e caos, sentido e abrigo,
isso tudo, junto comigo,
pode parecer confuso,
mas eu lhe digo,
tem quem tudo goste,
e esse eu não sigo.

⁠Olha o chá…

Olha o chá, chá, chá…
Olha o chá, chá, chá…
não sei como parar

Olha o chá, chá, chá…
Olha o chá, chá, chá…
vou ter que me encontrar

Olha o chá, chá, chá…
Olha o chá, chá, chá…
cadê o bule de chá?

a lebre não sabe,
mas, já foi busca!

Olha o chá, chá, chá…
Olha o chá, chá, chá…
ele é louco, assim como eu!

Olha o chá, chá, chá…
Olha o chá, chá, chá…
isso não vai acabá…

⁠Chapeleiro Loko.

No sorriso da mente,
os cabelos grisalhos no pente.
Estou envelhecendo e me preocupo seriamente,
talvez esteja adiando o presente,
e enfim, esteja inconsciente.

No escuro da mente,
com pensamentos inconsequentes,
um turbilhão conivente,
me visto de gente,
acho eloquente,
talvez esteja doente.

É péssimo estar assim,
me perdendo no consciente,
um tubarão nada ferozmente,
Estou esgotado seriamente.

Uma pausa para o chá,
para enfim encontrar
o tal paraíso
que me fizeram acreditar.

Mas o chá queima os lábios,
entorpece os sentidos,
é doce na promessa
e amargo nos pedidos.

Entre goles de ilusão e realidade,
me pergunto se,
ao final do chá,
há mesmo liberdade
ou só mais uma xícara de ansiedade.

⁠Ruas Caminhadas.

Dez anos se passaram desde que deixei a cidade,
Recentemente, voltei pra lá, meio por saudade.
Poucas mudanças, quase nada alterado,
É até engraçado, parece que o tempo ali foi parado.
Em uma década, só o mato foi aparado.

Andando por ruas onde, quando criança, corria,
De bicicleta, subia e descia sem ter medo do dia,
Percebi que cresci, mais alto fiquei,
O que era gigante, agora, miniatura enxerguei.

Por cada esquina e praça, um eu antigo eu via,
Uma fagulha do que fui, que hoje em mim renascia.
O filósofo, o questionador, o inventor esquecido,
O artista enterrado, que eu mesmo tinha reprimido.

É triste e feliz ao mesmo tempo esse reencontro,
Essa dualidade que me deixa viver sem confronto,
Revisitando o passado e o que nele deixei,
Descobrindo, de novo, os pedaços de quem sou e serei.

⁠Velhas Moradas.

Casas por onde passei,
Nem pensei em vocês, nem vou pensar,
É estranho, não me prendo a lugar,
Minhas saudades são de gente,
Não de parede ou de lar.

Uma morada, pra mim,
É onde eu puder ficar,
Seja toca ou seja castelo,
Tanto faz, o tempo vai levar.
As pessoas, eu sei, vão também,
Mas que saudade, ah, isso vem.

De cada cidade e casa em que morei,
Cada canto com sua graça,
Teve dia que o peixe veio,
E não foi no balde, foi na raça.

E cada perrengue que enfrentei,
Pra ser sincero, mais ri do que chorei.
Casa molhada de chuva,
Parede caindo aos pedaços,
E as portas de vidro, malditas,
Nariz sempre arrebentado.

Amigos que levei comigo,
Jogando bola ou conversa fora,
Tempo bão, tempo que passa,
Se eu pudesse, eu tatuava,
Bem no peito, bem na alma,
Bem na raça.

⁠O Palhaço.

Era dia de festa, o sol a brilhar,
Eu e meu pai prontos para animar,
De palhaço me vesti, todo empolgado,
Macacão branco, bolhas roxas, engraçado.

O calor subia, o suor escorria,
Eu passava, a criançada aplaudia.
Mas aos poucos, algo estranho eu senti,
Minha vista ficou preta, e eu só caí.

No meio da festa, lá no chão parei,
O palhaço que ia, agora apagado fiquei.
Gente correndo, tentando me ajudar,
O palhaço que ia festejar, teve que descansar.

⁠Es-co-lar & Des-co-lar.

Nos moldam quadrados, sem margem ou cor,
Nos ensinam datas, mas não o valor.
E quando a vida exige, o que nos resta?
As fórmulas frias ou a mente aberta?

Nos preparam pro mundo que já não existe,
Mas ignoram aquilo que a vida insiste.
O que fazer quando o medo apertar?
Quando o cliente gritar, como reagir?

Finanças? Relacionamento? Nenhuma lição,
Mas decorar equações sem aplicação.
Nos ensinam o ontem, mas não o amanhã,
E ao fim da escola, o que resta, então?

O mundo não cabe num quadro negro,
E a vida exige mais do que medo.
Precisamos aprender a pensar,
E não apenas a memorizar.

⁠Dicionário Ambulante.

Carrego palavras como quem carrega o mar,
Em cada termo, um mundo a se desdobrar.
Para uns, um conceito, fechado e pronto,
Para mim, um universo que gira em confronto.

Dizem que sou só um rótulo a mais,
Sou buscador, artista, sempre a me refazer.
Na certeza do mundo, vejo contradição,
Pois onde há resposta, há outra questão.

Meu pensamento não cabe em caixinhas,
Ele voa, dança e traça suas linhas.
Se tentam me prender em definições,
Eu escapo, refaço, crio novas versões.

Sou mais que um nome, que um título dado,
Sou um enigma, sempre inacabado.

⁠Título: Fotos.

Fotos já manchadas, me lembram momentos,
passados que não voltam, não alteram, não envergam,
pessoas deixadas, amigos perdidos, amores apagados
aos quais eu mesmo havia despido.

Fotos são mais que isso, mas menos que aquilo,
recordam momentos que já não podem ser vividos,
florescem sentimentos que já achávamos ter morrido,
álbum infeliz, colocarei fogo e finalmente vou pedir bis.

⁠Título: Proibido.

Sabe o desejo que aquece o peito,
chama que arde sem ter jeito?
Te vejo dançando, me perco no tempo,
um passo, um giro… suspiro no vento.

Sorriso cortante, feito navalha,
olhos que encantam, sem dizer nada.
Musa esculpida em mármore quente,
deusa que passa e bagunça a mente.

Até as estrelas invejam seu brilho,
até o universo lhe escreve um trilho.
Se passa por mim, eu já sei o perigo:
cobiça, loucura, desejo proibido.

⁠Título: Amores Perdidos

Não existem amores que acabam,
todos mudam, mas não somem.
Ganham novas formas, outros nomes
alguns se tornam o que não se come,
outros, o que apenas se consome.

A raiva, às vezes, os faz detestáveis,
com aqueles pedidos que não voltem.
Mas os não concluídos permanecem presos,
nas correntes dos nossos sonhos,
memórias e do nosso lost.

⁠Título: Amigos?

Ainda somos amigos?
Você me fez essa pergunta...
me estendeu as mãos...
com um leve sorriso.

Eu, como se o mundo...
ali tivesse acabado...
falei com os olhos dispersos...
com a alma em pedaços.

Como ser amigos?

Se por ti...
daria minha vida...
até pessoas mataria...
como eu poderia?

Ter-te por perto...
sem tocar...
sem beijar...
sem amar…

Como poderia?

Ver você com outro...
apaixonada...
boba...
entregue…

Falando sobre o novo...
imaginando o futuro...
o beijando...
de novo.

E eu?

Preso ao passado,
tentando fingir...
tentando aceitar...
tentando não sentir.

Mas dói.

E não quero mais.

Te estendo as mãos,
mas não para amizade.
Apenas para o tchau,
para o adeus
até nunca mais!

⁠Título: Paralelos.

Hoje senti um frescor no vento,
doce e forte como um juramento.
Invadiu a pele, feriu o peito,
trouxe um nome que já era segredo.

Ela dançou entre as ruas vazias,
pintou sua voz nas lembranças frias.
E eu, sem querer, fechei os olhos,
como se o tempo voltasse ao relógio.

Achei que a teria até os dias meus,
mas sonhos se dissolvem no azul do breu.
Escreveria seu nome em versos eternos,
mas certos amores são só universos paralelos.

⁠Título: Perfume.

Recentemente senti um perfume que me lembrou o seu,
aquele doce que impregnava até no breu,
mas acalmava minha alma, pois lembrava que eu era teu,
e você não tem ideia do quanto isso me entristeceu.

Achava que a teria até os dias e noites de morfeu,
e a abraçaria igual às âncoras da prisão de Perseu,
talvez até escreveria um conto dedicado, só teu,
para que no futuro o filho meu a desejasse como eu!

⁠Título: Intacto.

Nada de beijos,
Nada de abraços,
Os amores mais puros
permanecem intactos.

Não são vividos,
nem são contados,
jamais se tocam,
jamais se acabam.

Sem pele, sem lábios,
sem corpo, sem voz,
só a lembrança,
só o adeus,
apenas nós.

São esses amores,
os verdadeiros,
inalteráveis,
eternos, sinceros,
inacabáveis.

⁠Título: Poeta e o Mundo.

Papel, tinta, verdades e mentiras,
Sentimentos, ilusões, criações sem intenções.
Doces palavras, amarguras divididas,
Poeta do mundo, mundo do poeta.

Verdades e falácias,
Amores que vivem pra quem?
De palavras e rimas, dedico a mim,
Não há você, essa é minha forma de viver.

⁠Título: Centelha.

Quando te beijo,
me sinto inteiro.
Quando te desejo,
o calor sobe ao peito.

Das juras, a comunhão.
Da promessa, a perdição.
Quero-te junto, comigo,
comovidos, vividos, crescidos.

Do fruto, a beleza,
vinda de nós —
corpos que geram
uma nova princesa.

O resultado do calor,
do amor,
do esplendor,
do sonho,
onde tudo tem valor.

Quem sabe
a ideia de criador
não me assuste mais...

Uma versão pequena
que, por enquanto, é nossa —
Em breve, centelha.